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segunda-feira, 22 de junho de 2020

Vigésimo Quinto Capítulo - O Amor avassalador de Jorge e Márcia !




           Era sexta-feira e Márcia recebia no celular diversas notificações.  Para não incomodar a família ela deixou no modo silencioso. No quarto sob as cobertas ela virou-se contra a parede, colocou fones de ouvido, buscou uma música romântica porquê sentia saudades de Jorge. Queria tanto beijá-lo novamente, queria fazer ''tudo'' novamente.  Viu os recados que ele deixou.  Do mesmo modo Jorge queria estar mais perto, mas ambos precisavam trabalhar e tentavam conciliar horários.  Durante toda a semana Márcia e sua família acordavam costumeiramente às 05:00 hrs. da manhã. 

               De seu lado Jorge acordava um pouco mais cedo, enquanto não encontra-se um funcionário ele fazia a maior parte das tarefas: recepcionar as mercadorias, os remédios, e outros produtos que incluíam perfumes, cosméticos em geral, enfim todos aqueles que se pode encontrar em qualquer farmácia de cidade grande.   Ele mudou a rotina dos moradores da Vila dos Pescadores. 

          Os moradores entravam na farmácia como quem entra em uma loja de shopping. Antes a farmácia tinha aquele visual antigo, e desse visual Jorge livrou-se rapidamente, deixando apenas uma bela foto em preto e branco das instalações, e móveis de época. Senhor Higino deu-lhe uma caixa com muitas fotos, tantas que ele iria aproveitá-las na loja de perfumes que iria montar no Shopping de Monte Alvino.      Apesar de muito ocupado, qualquer intervalo ele aproveitava para conversar com Márcia, e num desses recados, Jorge queria conversar com ela a respeito de uma ideia, uma ideia muito forte que não saia de sua cabeça.   A voz de Jorge, porque ele não tinha outra alternativa do que gravar suas notificações enquanto abria caixas e mais caixas, precisando ser ágil pelo tempo que antecedia a abertura da farmácia sempre invariavelmente às 07:00 hrs. 


           Como era gostoso ouvir sua voz, aquele sotaque gaúcho a deixava fascinada. Preocupava-se com o trabalho dele e sabia que era preciso encontrar um ou dois funcionários qualificados para ajudá-lo.  Dentro da gaveta do criado-mudo ao lado de sua cama havia um pequeno diário que fechava-se com uma abotoadura dourada. Um presente de sua mãe quando Márcia completou o primário.

____ Minha filha querida, este presente que vou lhe dar é bem especial. Você vai fazer dele, na verdade, um amigo secreto. Guarde-o com carinho.

        Havia completado 7(sete) anos e ingressara na escola aos seis graças à sua inteligência mesclada a uma vivacidade, graça e intensa curiosidade de aprender. Foi uma criança alegre, falante, que aos três anos conseguia formar frases inteiras. Ela fazia uso de expressões, mesmo que tropeçando na língua, palavras novas que saiam de sua pequenez de uma forma engraçada. Os pais deliciavam-se com expressões do tipo:  '' muito embora''; ''pensando bem''; ''sinceramente''; e a preferida deles que Márcinha tão graciosa repetia à exaustão:   '' na verdade'' !

               Imaginem ouvir de repente uma criança gesticulando como adulto e falando dessa forma, com sentido e lógica, não eram frases erradas, eram frases pensadas mesmo. Muito engraçado, e ela ficava às vezes nervosinha se qualquer pessoa a interrompe-se, dizendo:

____Quieto (ou quieta) ! Presta atenção! Eu ''tô'' falando .   Ela sempre querendo ser o centro das atenções. Isso exigiu bastante dose de disciplina, primeiramente dos Pais, e aos pouquinhos dela também que brincava com Carla, a irmã menor, quando esta chegou aos três anos.  Carla igualmente esperta, embora menos falante e teatral.  

            Agradeceu à mãe dando-lhe um abraço bem apertado, e um beijo mais forte ainda em sua face, não importando qual fosse o presente ela agradecia antes de abrir.

          Apalpando o pequeno pacote de papel colorido com desenhos de bichinhos, ela foi desembrulhando com cuidado porque adorava colecionar os papéis de presente que ela depois dobrava guardando exatamente naquele velho criado-mudo.

____ Oba !   É um diário!  Que legal!   Sinceramente, na verdade, era exatamente o que eu queria!

       Olha ai!  Lá vem você com suas frases bonitinhas!   Disse a mãe ao vê-la feliz com o diário em mãos.

____ Você sabe o que é um diário, filha?

____ Sei sim mãe, minhas amigas todas elas têm, e agora eu tenho o meu.   Muito obrigado, mamãe!  Vou usar com minhas canetinhas coloridas.  E somente você pode ler, viu? Quer dizer, às vezes né? disse dando uma risadinha com as mãos na cintura.

       Recordando-se do amigo diário e destas lembranças ela abriu a gaveta, e pegando-o abriu uma nova página.  Há muito tempo que tinha deixado esse hábito de escrever sua vida, suas confidências naquelas páginas levemente rosadas.  O jogo de canetinhas coloridas estavam lá no mesmo estojo de madeira que seu avô Antonio Simão entalhara no canivete de cortar fumo. Na parte debaixo do estojo uma frase dedicatória e as iniciais A.S.

          Gostava mais de escrever no diário quando precisava registrar momentos especiais.  O celular já dificultava o armazenamento, tendo que limpar a memória para não travar.  Diário não, diário só acabava quando chegava na última folha, e bem guardado ela podia ler tudo, tudo que ela marcava com algum desenho, geralmente de flores pequenas.  

         Entre as duas camas onde dormiam as irmãs, uma pequena mesa para os estudos com um pequeno abajur representando o Deus Netuno, outra bela peça entalhada pelo avô, muito talentoso.  Não utilizava qualquer madeira, ele usava a madeira de goiabeiras, que são mais macias de serem cortadas e entalhadas.   Seu Antonio Simão fazia por distração sentado à varanda, balançando-se em sua rede, não mais a rede de pesca, e sim a rede tecida de algodão.

         Na farmácia Jorge pensava : -

     Se ele não conseguisse logo um funcionário ele teria que chamar alguém conhecido e de preferência farmacêutico.   Ficar no balcão e ser caixa estava ficando cada dia mais impossível.    Algumas pessoas já perguntavam:   ___Como é que o senhor da conta de tudo?
                
Ele sorria para elas e continuava atendendo.

                Márcia questionava-se :   __Puxa vida, ele me fisgou direitinho!  Eu amo demais esse homem!

O que será que ele tem de importante prá conversar comigo?  Vai me dar um chute no traseiro, talvez! E ameaçou derramar uma lágrima, porém conteve-se.   

___Nada disso, Márcia! Falou consigo.   Nada disso!  Respire fundo, dê uma chance ao moço.  Nossa, eu me sinto uma velha.  Ele é mais velho que eu.   Namorei quando tinha meus quinze anos, e minha primeira vez foi aos 16(dezesseis) anos, nem mamãe sabe disso. Nunca mais vi o garoto!  Eu quis, sempre fui assim, quando quero uma coisa eu vou e mergulho de cabeça.  Sou impetuosa até no amor!  Os filhos dos pescadores são bonitões, atléticos, assim feito meu irmão Gervásio.   Todos nadam muito bem, e eu adorava assistir as provas de natação na mini olimpíada que acontece a cada 2(dois) anos.  

              Naquele ano eu também participei, nadando uma prova específica de resistência, ainda não se disputava o famoso triatlo que é pedalar alguns quilômetros, correr outros tantos, e depois cair no mar para nadar no Pontão da Praia que é o trecho mais estreito entre o rio Marajoara do Grande Mangue e a Praia da Encosta; na verdade o encontro do rio de água doce com o mar salgado.  Foi delimitado um trecho marcado em alto mar por uma bóia alaranjada.  

             A gente entrava no mar no ritmo acelerado, corpo aquecido, sangue quente, e aquele choque térmico inicial da água gelada.  A prova consistia de dar três voltas e depois chegar em frente ao barco ancorado dos juízes que acompanhavam de perto o desempenho dos atletas.  Eu cheguei em segundo lugar. Em primeiro foi a Helena, minha amiga até hoje.  Casou-se e mudou para São Paulo.  Ela me liga de vez em quando.







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