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sábado, 30 de maio de 2020

Décimo Quinto capítulo - O retorno à Ilha dos Marrecos e reencontro com Anita!



                     O velho José Simão acordou na manhã daquele Domingo após o feriado que havia coincidido com o sábado, cutucou D.Teresa que sonolenta perguntou :

____O que você quer velho, hoje é Domingo, trate de dormir!
____Eu preciso lhe contar uma coisa, mas preciso que guarde segredo, na verdade, é metade do segredo.
____Que história é essa José? Metade do segredo? Você está sonhando?
____É sério!  O João Lucas pediu que eu não falasse nada, mas você me conhece muito bem, eu não sei lidar com essa coisa de guardar segredo. Acabo ficando agitado, andando de um lado para outro. Acordei durante a noite e fiquei na cozinha matutando, pensando, pensando. Não dá, não consigo mesmo! Vou contar, mas repito: Tem que me prometer que esta conversa não vai sair deste quarto. Promete?
____Caramba José! Nunca vi você agitado assim, então, conte logo. Do que se trata afinal de contas?
____O João Lucas quer conversar em particular comigo, disse prá não contar nada a ninguém. Será que ele esta com algum problema de saúde? Estranho ele querer falar algo exatamente perto do aniversário da filha. Talvez nem tenha relação. O que você acha?
____Eu acho que para alguém que quer contar alguma coisa...disse falando baixinho à orelha do marido...você está falando um pouco alto, o que você acha? Devolveu a pergunta ao marido.
____ Foi sem querer, Teresa! Eu falei que sou ruim nesse negócio de segredo, viu como sou atrapalhado? retrucou e agora falando baixinho.  Será que falei alto demais?
____Não sei, o Gervásio deve estar em sono profundo, anda bem cansado ultimamente, eu tenho avisado mas você insiste em dize que está tudo bem. Vocês são dois teimosos! O quarto dele é pegado ao nosso, a cabeceira da cama fica bem aqui atrás, sabia?
____Começo a me arrepender de ter aberto a boca, Teresa. Fazer o quê. Vou tentar falar o mais baixo que eu consigo. Esse meu vozeirão com a velhice aumentou mais um pouco. É o seguinte:  Você finge que não sabe de nada, entendeu? Quando no próximo sábado chegar você distrai a Márcia, a Carla e o Gervásio com algum assunto, conta histórias antigas...você é boa em contar histórias.
____Eu ? Olha quem fala! Aqui o contador de história é você. Retrucou D.Teresa.
____Mulher, abaixe a voz!
____Ahhhh  seu velhote chato!  Volte a dormir!
____Ué? Você não vai à Missa hoje? indagou com seu vozeirão que mesmo baixo era bem audível.
____ A missa é às 10:00 ; agora são 07:00 hrs, olhe o relógio na parede. Então, dorme! E virou-se para o lado.
____ É assim? Nem um beijinho? falou manhoso
         D.Teresa tinha sono fácil, logo dormiu e deixou José falando sozinho que tratou de dormir, resignado.

             Realmente a parede tinha ouvidos. Do outro lado da parede Gervásio recostado à cama tentava ouvir toda a conversa, ou o final dela.  Estivera acordado refletindo sobre o encontro dele e Maria Augusta com o Prefeito e a respeito do apoio tão inesperado que o Prefeito resolvera dar , tanto ao Projeto quanto à ideia da sub Prefeitura e a construção de uma boa Ponte ligando às Praias ao Mangue. Ouviu o vozeirão do Pai que ecoava no salão durante as reuniões da Cooperativa, mesmo que ele ficasse ao fundo. Ouviu o vozeirão do Pai que o Padre Àlvaro elogiava pedindo que ele apresentasse os músicos, os artistas, convidados em geral, nas festas da Igreja.   Sua voz era quase um trovão!  Lembrou-se que seu tio João Lucas cantava com ele algumas canções. O mesmo tio convidara José a participar como cantor, mas o pai recusou por causa do trabalho incansável da pesca, geralmente iniciada à noite perdurando às vezes, cinco dias seguidos, ausentando-se com Gervásio.  Mas cantando, verdade, sua voz era bem bonita nas canções. Poderia ter sido um cantor de sucesso.  Durante a pesca noturna José cantava lindas canções que ajudavam a enfrentar aquela solidão costumeira, com apenas uma lanterna ou duas iluminando seus barcos. Nas noites de lua cheia D.Teresa pedia para ele cantar alguma coisa.  A rudeza do trabalho nem sempre deixava ele de bom humor. Então, ele cantava sozinho, como se conversasse com alguém, quem sabe Deus!

            Gervásio ouviu, sim ouviu a conversa. Porém ouviu trechos, principalmente sobre o tal segredo que ainda era segredo, que o tio primo João Lucas iria contar. Ele estava planejando voltar à Ilha desde aquela incrível pescaria, e que D.Teresa disse ter sido milagrosa ao ponto de terem ido à Igreja agradecer à Santa.


              Distraiu-se pensando em Anita!   Desde a infância ela e o irmão brincavam alegres mais Márcia e Carla naquele quintal, antes repleto de pés de frutas. Brincavam descalços jogando bola, empinando pipas, jogando figurinhas que o tio trazia de presente, tantas brincadeiras que ficaram na memória. Relembrando Gervásio somente hoje , talvez entusiasmado com a possibilidade de retornar a Ilha, seus sentimentos ficaram mais à flor da pele.  Anita sempre foi bonita! Como estaria neste momento aos 19(dezenove ) anos de idade?


                De repente seu coração acelerou! Mas logo ficou refeito e voltou a pensar no seu Projeto que dependia agora da aprovação na reunião da semana. Era melhor concentrar-se nesses assuntos!


              

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Décimo Quarto capítulo - Em uma casa da Ilha dos Marrecos !




                  Usando seu computador de casa Gervásio fazia inúmeras pesquisas sobre legislação ambiental, e quais áreas estavam sob proteção do IBAMA-( Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). Em determinado trecho de uma leitura a respeito de formações geológicas ele deteve-se num tópico a respeito de espécies de tartarugas, em especial as tartarugas verdes e que elas desenvolvem-se muito bem em um Atol. E o que vem a ser um Atol? 

                  É um conjunto de ilhas de origem biológica compostas por corais e algas calcárias. Gervásio respirou fundo como que intuindo o que viria a seguir. Claro que ele estudou na escola os diversos tipos de formação geológica nas aulas de geografia e biologia, porém um estudo que estava quase que esquecido. Com o auxílio das pesquisas na Internet ele relembrou e atualizou seus conhecimentos. Estava sentindo um misto de satisfação e alegria, porque tudo assinalava que ele estava na escolha certa de suas decisões recentes.


                   Então, uma característica do Atol causou ao mesmo tempo surpresa e uma grande suspeita, na verdade, algo que ele já imaginava desde aquela fantástica pesca com seu pai. Esta característica é que as águas e as grandes piscinas naturais formadas no entorno da Ilha dos Marrecos são igualmente transparentes como o são em relação à um Atol.


              Outra característica não menos importante é que a origem de um Atol pode ser vulcânica e esta sobre uma superfície submersa composta por bancos de areia, inclusive formam-se diversos tipos de vegetações e surgem inúmeras espécies de animais.  Gervásio recordava-se do mergulho que realizou aquele dia com o mar absolutamente calmo, águas transparentes, que ajudavam em olhar toda aquela beleza da formação dos corais.


              O artigo citava a localização da maioria dos atóis no oceanos Índico e Pacífico e mencionou o famoso Atol das Rocas que é composto por duas ilhas a Ilha do Farol e a Ilha do Cemitério. Elas localizam-se a 260 km a nordeste de Natal, e ligam-se ou vinculam-se ao Estado do Rio Grande do Norte. Do conjunto de Atóis ao redor do mundo é o menor deles e situa-se no Oceano Atlântico.              

                       Não podia haver mais dúvidas !  O mapa desenhou-se na mente de Gervásio. Do alto daquela colina onde ergueu-se a primeira Igreja à Nossa Senhora dos Navegantes e onde também foi erguido um Farol era possível ver sem dificuldade a Ilha dos Marrecos.  A distância segundo os cálculos de Gervásio era muito próxima dos 180 km entre os dois pontos.  De acordo com todas as características e formação geológica tratava-se de um Atol, porém ninguém considerava assim.   Para atestar sua descoberta Gervásio teria que realizar estudos mais detalhes da região e ele não é a pessoa mais indicada para esta tarefa.

              O que de fato ele constatou foi que naquela oportunidade quando aproximou-se do costão, ele estava numa das extremidades do Atol onde as águas são rasas e as pontas dos recifes emergem. Provavelmente há uma montanha submarina naquela região. Se for semelhante ao Atol das Rocas a navegação de navios por lá terá que ser proibida. Estranhamente a Ilha dos Marrecos não possuía um Farol de orientação aos Navegantes, talvez por já existir um outro Farol no continente, ainda que há 180 km dela.


              Muitos questionamentos surgiram na cabeça de Gervásio, e agora sua preocupação maior era com a Cooperativa e seu interesse pela Ilha dos Marrecos teria que esperar um pouco mais. Sua descoberta de que aquele conjunto geológico formava um magnífico Atol ao invés de ajudar, poderia sim atrapalhar os seus planos.  

              '' Um passo de cada vez, Gervásio!" Pensava consigo mesmo.
              Como que instintivamente Gervásio olhou para os papéis que Maria Augusta entregara para ele na última reunião da Cooperativa, e folheou ao acaso para saber do que se tratava.  Como é que ele esquecera de ler ?
____Filho, venha tomar café! Só falta você conosco!
____Tudo bem , já estou indo!
              Estava com o laptop sobre o colo. Salvou o trabalho da Faculdade aberto em outra janela, fechou e guardou na gaveta da cômoda ao lado da cama. 
____Vou tomar um banho rápido! Não demoro! disse para a mãe
____Ainda vai tomar banho? Nossa!  Melhor ir depressa ou vai ficar tudo frio.             
          
                            Normalmente Gervásio estaria estudando na véspera do dia amanhecer antes da meia-noite, e dormiria para acordar às 05:00 hrs como era de costume a família fazer por causa da pesca. Felizmente era feriado, mesmo assim ele manteve a rotina e embora tivesse pego no sono lá por volta de 1:30 hrs da madrugada, às 05:00 já estava de pé quando aproveitou para pesquisar sobre a Ilha dos Marrecos.  Ouviu a voz do pai falar alguma coisa, mas o chuveiro não deixou ouvir direito. Desligou e entendeu o final da conversa:
 
____E quem adivinhar ganha um doce de abóbora!
 
        Gervásio trocou-se e caminhou para a cozinha. Ia pegar um pão com manteiga sobre um pires, mas levou um pequeno safanão da irmã caçula.
____Heiiiii, esse pão é meu!  disse Carla.   A mãe ''tá'' fazendo o seu esquentado na chapa, como você gosta!
____O que eu preciso fazer para ganhar um doce de abóbora? perguntou Gervásio.

____ O pai disse que recebeu uma ligação ontem de alguém que mora na Ilha dos Marrecos, e desafiou a gente a descobrir quem foi, você sabe a resposta? Se souber ganha o doce!

____Doce de abóbora? Que fácil essa...eu sei, é...

____ João Lucas ! responderam a uma só voz, unanimidade, inclusive o pai.

        Claro, a comadre Joana sempre trazia um doce de abóbora quando vocês eram pequenos e eu deixava aqui nesta mesa para fazer surpresa. E pelo visto ninguém esqueceu, não é ?

___Mas eles estão morando na Ilha dos Marrecos? Eles moravam aqui perto, não moravam? perguntou Gervásio, após o comentário da Mãe.

____ Bom , isso daí você pergunta ao seu pai que conversou com ele, eu ia dizer telefone, agora é o tal do celular!

____Pois é, vamos terminando o café que eu vou contando, porque é feriado mas temos uma rede de pesca pra costurar lá no quintal. Lembrou o pai a todos!
___Ohhh meu Pai, adianta um pouco a conversa.  Os primos estão bem, o Ricardo e a Anita? Nossa, a Anita eu lembro dela, deve estar mais ou menos com a minha idade, e o Ricardo um pouco mais velho. A tia Zuca que a gente chamava de tia Zuquinha, como esta?

____Mastigue direito esse pão,  Gervásio! É feio falar de boca cheia! reclamou a Mãe.

____Quando eu atendi o celular fiquei surpreso em ouvir os primos, João Lucas e a Zuca! Imaginem vocês que eles cantaram ao celular.  Querem, ou melhor, eles praticamente intimaram a gente a ir na Ilha dos Marrecos prá mostrarem a casa nova e comemorar o aniversário da Anita que vai completar 19(dezenove) anos!  João contou que agora eles formam um quarteto musical!

____Olha aí, eu não disse! Acertei em cheio a idade dela!

          Márcia e Carla ficaram em êxtase com a notícia. Adoravam os primos que chamavam de tios e mais ainda os priminhos, quer dizer, os primos em segundo grau adolescentes como elas.

____Continuo sendo a mais nova!  Exclamou Carla.
____É claro, e continuará sendo por toda vida!  completou a mãe.  Que lindo saber que todos eles cantam juntos!  José você lembra que as crianças cantavam com os pequenos as cantigas de roda aqui neste mesmo quintal?
____Querida, você esta cheia de saudades! Eles moravam aqui pertinho, esqueceu? socorreu o marido para avivar sua lembrança.
 
____ Trabalhamos tanto e acordamos tão cedo e voltamos no fim do dia quase noite que sobrava pouco tempo pra conversar com eles.

               Era sempre a Zuca que vinha com as crianças e a bandeja de doces de abóbora em alguns finais de semana, e também nos aniversários dos nossos filhos. Ficavam aqui um pouco, as crianças iam pro quintal brincar, e a gente ficava aqui na cozinha trocando ''um dedo de prosa''.  Eles são como irmãos mais velhos. São primos entre eles. A Zuca contava que o namoro deles chegou a ser proibido. Zuca é minha prima por parte da avó Perpétua, minha avó materna. E o João Lucas é primo do seu Pai por parte do avô Antonio Simão. 

                    Mas não puderam reclamar, e nem proibir, porquê aconteceu a mesma coisa com os nossos tios avós que se casaram.  Havia um outro primo que vocês não puderam conhecer. Esse primo chamava-se Getúlio. Era um jovem problemático, envolveu-se com más companhias. Com vinte anos ele saiu de casa sem deixar paradeiro. Nunca mais soubemos dele, se casou, se morreu, nada!  Pode ser que vocês tenham mais primos por aí!

                      José Simão, ou melhor Antonio José Simão, assim o chamavam em honra ao seu pai o velho Antonio Simão, se bem  que ele também estava ficando velho , ouvia com atenção D.Teresa ela mesma ostentava longos cabelos brancos, presos com um elástico deixando seu lindo rosto à mostra, pele morena e lisa, sem rugas.  Às vezes Teresa o chamava de Antonio.  O primo conversou muito mais do que ele contou. João Lucas disse que precisava contar-lhe sobre algo muito importante, porém só faria isto pessoalmente, e apenas para ele, nem mesmo D.Teresa deveria saber. Pediu segredo sobre esta parte da conversa.

____ O aniversário da Anita está se aproximando, é no próximo Sábado. Vou programar as pescas e pedir ao compadre Joaquim para me ajudar. Gervásio você , por favor, programe-se para essa viagem.
           Alugaremos um pequeno Saveiro que já é maior que nossos barcos, e aguardaremos a maré alta , na próxima noite da lua cheia, para chegarmos à Ilha dos Marrecos.   Estou curioso ! Em que parte da Ilha será que fica a casa deles? E porque resolveram mudar de endereço, ainda mais tão longe da costa ? Pode ser pelo tamanho da nova casa. A outra era mesmo pequena para quatro pessoas!
              




         



quarta-feira, 27 de maio de 2020

Décimo terceiro capítulo - O PEIXE VIVE PELA BOCA!


              



              Prefeito Bastos quase não dormiu aquela noite, após a reunião com o tal sujeito misterioso, o seu ''chefe''. Estava profundamente dividido entre sua lealdade e a perspectiva que se apresentava à sua frente com aquele projeto apresentado por Gervásio, e não lhe agradava em nada saber que seus passos estavam sendo vigiados. Sabe-se lá se os passos de todas as pessoas com quem mantinha negócios e contato. Se ele já era desconfiado, quanto mais agora. Passaria a desconfiar da própria sombra. Ele se julgava inteligente, um bom articulador, e negociante. As lembranças de sua juventude e os ideais que antes professava coincidiam tanto com os ideais de Gervásio.  Em casa no contato familiar suas duas filhas questionavam suas atitudes. Eram pré adolescentes que começavam a ter igualmente seus sonhos. Filhas gêmeas e algumas situações eram bem engraçadas, quando Júlia e Alexia falavam ao mesmo tempo, e a mãe pediam para falarem com mais calma. Os noticiários às vezes favoráveis, outras vezes contra as decisões tomadas pelo Prefeito chegavam aos ouvidos das duas ou quando colegas de escola faziam perguntas.   Estudavam no melhor colégio da cidade administrado pelas Freiras do Carmo originárias da Itália. Foi sugestão de Giovanna a mãe,  filha de Italianos da cidade de Genova.
                     Contavam naquele momento com 16 (dezesseis) anos. São parecidas que até os pais confundiam-se  ou então, as meninas brincavam com isso trocando os respectivos nomes. Mas com o tempo aprenderam a distinguir pelo tom de voz, embora elas até nesse detalhe imitavam-se. A melhor alternativa às vezes ficava no penteado, uma prendendo o cabelo com tranças, e a outra deixando solto.  Porém, isto funcionava para os pais, jamais para os habitantes da vila.  Corria inclusive uma piadinha a respeito.  As pessoas diziam que na dúvida o melhor seria :-   '' Perguntem às gêmeas!" e outra pessoa tornava a perguntar:

____ Mas qual delas irá responder?
____Ora, qual diferença faz, são filhas do Prefeito!

                   A piadinha fazia referência ao dúbio ou duplo comportamento do Prefeito Bastos que nas entrevistas, ora dizia uma coisa, ora dizia outra.  Foi quando um repórter comentou baixinho entre os colegas:

'' Melhor perguntar às gêmas!"  E nasceu a piada.

                  No escritório de sua residência e sede da Prefeitura, Bastos pegou de seu laptop, entrou no site da Cooperativa e digitou uma senha particular que lhe dava acesso à ata da reunião daquela noite. Encontrou o ante projeto, ainda não aprovado evidente, que Gervásio tivera o cuidado de salvar em formato .pdf, imprimiu uma cópia.     Fazendo assim ele pode evitar o constrangimento de dizer que havia perdido na água ao fazer a travessia na Balsa.    Pensava consigo :   '' a sombra que me segue talvez seja alguém que opera na Balsa''.  É um ponto de referência, muitos utilizam a balsa, mas quem vê e quem vai, opera a balsa. Enfim.
  
                  Aquela conversa com o misterioso chefe, e questionava o fato de que, ele era subordinado a uma espécie de fantasma que detestava que seu nome fosse mencionado, no entanto o pai de Gervásio o conhecia, e se pesquisa-se direitinho Bastos conseguiria descobrir quem era o seu próprio chefe.

                 Como iria cumprir a promessa de construir um aeroporto, e onde ?   Começava a articular maneiras e modos além de buscar orientação com seus colegas partidários.  Melhor não envolver seus colegas de partido nessa história, porque onde há fumaça há fogo, e um peixe morre pela boca!

                Foi quando teve a ideia:    O PEIXE VIVE PELA BOCA!  Simmmm, achei a solução.   Este será o slogan que vamos adotar !   Logo pela manhã irei conversar com Gervásio e Maria Antonia!

               O dia logo amanheceu, Josias Bastos dormira pouco mais que 4(quatro) horas e apesar do pouco descanso sentia-se animado.  Giovanna preparou um café reforçado para ele. Deixou sobre a mesa do escritório uma bandeja com biscoitos amanteigados e mais três xícaras à disposição. Um bulê de chá mate caso alguém não gostasse de café, bem como algumas torradas.  Sua mesa não era imensa feita a mesa do ''chefe'', além do que o espaço era suficiente apenas para uma mesa e 6(seis) cadeiras.    
                Conforme o combinado Gervásio ligou por volta das 07:30 e Giovanna confirmou que ele e Maria poderiam comparecer naquela manhã à Prefeitura.   Gervásio repassou o recado para Maria que já se antecipara na viagem, por conta de necessitar ir até a Vila fazer algumas compras. Portanto, ela acordara 1(uma) hora mais cedo.  Ela queria discutir com o Prefeito essa dificuldade de acesso , ou melhor, essa demora no transporte desde a sua vila no Mangue até à sede da Prefeitura.   Surgira em sua mente a ideia da criação de uma sub Prefeitura nos moldes das existentes em outros municípios vizinhos.  Tinha certeza de que o Prefeito ia gostar da ideia, porque isto granjearia muito votos, aliás muitos votos mesmo. A população ribeirinha do Mangue era tão numerosa quanto à população da Vila dos Pescadores junto ao litoral.  A sub Prefeitura seria um bom acordo à ambas as partes, e estreitaria os laços de relacionamento político da conhecida líder com o Prefeito Josias Bastos.   O que Maria desconhecia era que esta ideia da sub Prefeitura também passara pela cabeça de Gervásio. Quando o celular deu alerta de mensagem Maria já estava a caminho da Prefeitura trazendo seu carrinho de compras bem cheio de caixas de leite, sendo que metade delas eram de leite semi desnatado. Uma das crianças do Mangue tinha alergia ao leite integral e o leite semi desnatado, bem melhor para a saúde dela estava em falta por lá.

              Gervásio trouxe com ele novamente cópias do ante projeto.   Enquanto tomava seu café na sua mini sala oval de reunião o Prefeito Josias Bastos rascunhava alguma coisa em seu caderno. Desenhava um peixe de boca aberta com ovas saindo às gorgotas, ou seja, aos montes. Aquelas ovas de peixe de cor alaranjada, ovas que são recolhidas nos criadores para inseminação artificial. Rabiscava seu desenho de peixe e pesquisava no laptop artigos sobre técnicas de inseminação.

                Gervásio dirigia o carro da Cooperativa e no bagageiro colocara uma caixa de poliuretano fechada por travas, repleta de tilápias devidamente cobertas de gelo. Sua intenção era fazer uma breve explanação à alguns pescadores sobre as vantagens da inseminação.
              
                Ao avançar pela Avenida Central José Simão, que levava o nome de seu avô, viu Maria caminhando pela calçada, buzinou para ela e deu-lhe carona colocando seu carrinho no banco de trás da caminhonete cabine dupla.    Gervásio tinha concluído seu curso de motorista e trazia uma autorização para dirigir enquanto sua carteira,  em breve,  seria entregue pelo correio.

                 Maria agradeceu a carona porque estava cansada de puxar o carrinho desde o mercado.
_____Porque não me ligou Maria, eu teria vindo pra te ajudar ! disse Gervásio
_____Imagine! Você já ajuda muito sua família e tem outras coisas com que se preocupar. respondeu
_____Exatamente!  Preciso de você com saúde!  falou sorrindo e bem disposto.
_____Hummm, muito obrigado pela gentileza! Vejo que está bastante animado.

              O Prefeito olhando seu rabisco sobre a mesa estava absorvido e coçando a barba. O interfone próximo à sua mão direita tocou. Ele segurou o botão de viva-voz.

_____Prefeito !  Senhor Gervásio e Maria Augusta!
_____Ahhh sim! Pode deixá-los entrar, por favor !

           O diálogo foi formal mas ambos eram respectivamente o Prefeito e a Primeira Dama.

             Conduzidos à sala o Prefeito nem esperou que se aproximassem indo ele ao encontro dos dois, cumprimentando-os e ofereceu o café ainda quentinho, bolachas e torradas.
               Gentilmente afastou uma cadeira, mostrando seu cavalheirismo para Maria Augusta, que lisonjeada, fez um comentário ao Prefeito: _

____Sua esposa está cada vez mais linda! Nos recebeu muito bem!
____ Que bom! Vou aumentar o salário dela, assim ela ficará mais tempo no salão de beleza.

                Bom, vamos tratar de assuntos mais belos ainda?
____Muito belos Senhor Prefeito, mas com algumas rugas, nada haver com sua esposa, digo de passagem, falou ironicamente Maria Augusta.

_____Você também é bela, e sempre ferina ! afirmou o Prefeito

_____Não posso fugir à minha natureza, e ao lugar onde nasci e fui criada.

_____Eu garanto que todos nós aqui sairemos depois mais leves e mais felizes. Assentiu positivamente erguendo o polegar.

          Vamos então conversar . Tenha a palavra Maria Augusta.
_____ Senhor Prefeito!
_____Por favor, deixemos a formalidade de lado, me chame de Bastos ou Josias!
_____Como quiser, então...Josias, como todos sabem em reservas ou áreas de preservação ambiental o órgão que regula a entrada e a saída de pessoas é o IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, e só autoriza a presença de pesquisadores e estudantes. Eu e minha irmã temos uma preocupação constante com o Mangue que é tão importante quanto o Atol...

___ O Atol das Rocas? interrompeu Gervásio 
___Desculpe a interrupção Maria...falou gaguejando Gervásio que digamos, mordeu a própria língua, antes que '' desse com a língua nos dentes''!  Precisava conter-se.

____Sim...é o Atol das Rocas, conhece?
____Já li algo a respeito!
____Tenho certeza que leu! Piscou o olho para ele.

        Gervásio captou a mensagem, Maria falava daqueles papéis que deixara com ele. Estava envergonhado.
____Como ia falando... O Atol das Rocas é a maior colônia de aves marinhas do planeta com cerca de 150 mil espécies.  Eu não digo....Josias...que o Mangue tenha essa quantidade, mas não fica para trás. Pode até ultrapassar esse número se adotarmos uma administração forte, porque a diversidade não fica apenas em relação às aves marinhas, lá no Mangue a exemplo do Atol encontram-se peixes, aves, crustáceos, moluscos, entre outros. Talvez o Prefeito saiba que muitos turistas que lá nos visitam, contam entre eles com a presença de pesquisadores e estudantes.  Josias, digo Josias Bastos, o Prefeito sabia perfeitamente do que Maria estava falando.  Toda essa riqueza não pode ficar à Deus dará sem os cuidados que ela merece. De acordo com alguns pesquisadores com quem conversei, eles estão dispostos a formalizar conosco uma campanha de preservação do Mangue, e creio que podemos formar uma parceria nesse sentido.  Minha principal sugestão para isso é estabelecer no Mangue uma sub Prefeitura. Outra questão, importantíssima, Josias!  Chega de balsa que leva 1(uma) hora de travessia, queremos uma Ponte, uma bela Ponte. E antes que eu me esqueça, agora esta é também com o Gervásio... Esse seu projeto , isto é, seu ante projeto de inseminação igualmente aplica-se à reprodução de crustáceos?

_____ Vamos deixar o Prefeito responder suas questões, depois na minha vez eu responderei essa , tudo bem ?

_____ Obrigado pela deixa...riu o Prefeito.  Amigos, posso chamá-los de amigos? Sim, eu mesmo respondo que posso, porquê já respondendo aos dois, eu concordo com a criação da sub Prefeitura, eu concordo com o Projeto do Gervásio com algumas ressalvas, e a construção da Ponte é um projeto que a Prefeitura tinha engavetado, mas diante de tantas possibilidade possíveis iremos buscar financiamentos bancários para verdadeiramente fazê-la sair da gaveta.   Afinal de contas Maria Augusta não é justo que você e toda uma população precise da sua ajuda apenas para comprar leite. Aqui se produz muito, porém nem tudo se consome. Nossa produção de alimentos é distribuida para outros municípios que veem aqui com as peruas das outras Prefeituras. É uma prática, no entanto, que esta diminuindo. Antigamente vendíamos tudo o que produzíamos, e saiba Gervásio que você não é o único que busca na inseminação a solução para aumentar a produção de peixes e inclusive os crustáceos.    Portanto, a construção da Ponte se faz urgente e necessária para escoar a nossa produção, e a produção de outros municípios vizinhos.  Os tempos são outros, novas tecnologias estão surgindo, os veículos de comunicação aproximam coletividades. O mundo ficou pequeno, e temos acesso à tanto conhecimento pela Internet. Nossos filhos estão nos ensinando, pois é!  São eles que trazem respostas às nossas perguntas.  A mentalidade dos políticos precisa mudar. Desculpem se o que estou falando possa parecer um discurso político, em absoluto, é a constatação de que se não mudarmos ficaremos muito atrasados, e até esquecidos.   Vejo com bastante entusiasmo o que vocês dois estão buscando realizar, e assumo aqui, hoje e agora, de oferecer todo o apoio que precisarem! Portanto, escrevam ai este Slogan :     O PEIXE VIVE PELA BOCA!

            Gervásio ficou de queixo caído!   Maria Augusta idem, que subitamente perguntou:

_____Tem ressalvas para mim, Senhor Prefeito Josias Bastos?

_____ É mesmo, né ?   A ressalva que faço é que sua irmã seja convidada a assumir um cargo técnico na sub Prefeitura.  Ela é bióloga , estou certo?  A sub Prefeitura terá uma secretaria específica para o meio ambiente.  Estamos estudando, eu fiz alguns rabiscos , aqui mas vou agendar uma reunião com sua irmã.   Gostou da ressalva?

____Olhe ! Estou até chocada! Creio que nem Gervásio esperava por esta. O que você tem a dizer, meu jovem amigo?
_____Quais são as minhas ressalvas, Prefeito?

_____ São questões técnicas e trata-se do Estatuto Social da nova empresa que será criada.   Como a Prefeitura tem interesse e irá apoiar o seu Projeto que também contará com Financiamento Bancário que é oferecido pelo Governo Federal, você terá que juntamente com os cooperados formalizar a nomeação da primeira diretoria da empresa de inseminação.   Você ,talvez pelo ineditismo, ou por ser digamos ''marinheiro de primeira viagem''  esqueceu que a filosofia do cooperativismo , impede a princípio, que você centralize decisões em você.   Todos são participantes e todos decidem conjuntamente, e cabe a Prefeitura ter conhecimento de tudo o que irá acontecer daqui por diante, há necessidade de abordar outras questões que não serei enfadonho de abordar agora.  Convido vocês a irem comigo ao Banco Agropecuário obter todos os dados e este não deixa de ser um acontecimento extraordinário, este da empresa de inseminação, o outro da sub Prefeitura e o ápice na construção da Ponte.    Claro , tudo não irá acontecer da noite para o dia, mas estou firmando este acordo! Podemos nos dar as mãos ? Disse o Prefeito Josias Bastos ficando de pé

             Gervásio e Maria Augusta queriam beliscar-se.
        Levantaram-se e estenderam juntos as mãos ao Prefeito.

              O que mais Gervásio poderia esperar, se a reunião saiu melhor do que a encomenda, como diz o ditado, um pouco alterado mas perfeito para o momento feliz? O Prefeito Josias Bastos caminhando ao meio abraçava-os como se abraçam velhos amigos. Gervásio capturou alguns biscoitos amanteigados, mais alguns guardanapos e guardo-os no bolso da sua jaqueta.
             Despediram-se na porta que distava  6(seis) metros da entrada principal. O Prefeito ficou ali, plantado, acenando. Lembrava o ex-Presidente Juscelino acenando ao eleitorado, provavelmente estava ensaiando sua reeleição, sendo visionário, aquele que enxerga mais além.   
             Os dois acenaram de volta e entraram no carro.
_____O que você tem aqui em cima no bagageiro? perguntou Maria Augusta.
_____Reparou? É uma caixa de tilápias com gelo. Vou abrir as janelas. Dentro do carro ficou mais frio, né?
_____Gervásio, me conta, ou me belisque, se é que não me beliscou lá dentro. O que foi isso?
O que eu ouvi foi verdade? Será um sonho?
_____Sinceramente, Maria eu estou tão surpreso quanto você! Sei apenas que ele disse algo que aconteceu: Sinto-me mais leve e feliz.   Iremos com ele ao Banco Agropecuário e depois de conversarmos com o Diretor do Banco ou Gerente responsável, ai sim, vou acreditar em tudo.  Ele disse que não foi discurso de campanha. Quanto ao Projeto ele será posto em votação durante a semana. Espero vê-la conosco.
_____Sim, eu irei e minha irmã virá comigo.

_____Antes que eu ligue o carro, quer guardar algumas caixas de leite ai em cima? Eu tenho aqui uma pequena lona de plástico para embrulhar. Assim suas caixinhas não ficarão com cheiro de peixe.

       Gervásio conseguiu acondicionar mais da metade do que havia no carrinho, entrou novamente e partiram em direção à balsa que mais uma vez demoraria uma hora para levar Maria Augusta de volta ao Mangue.

               
         

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Décimo segundo capítulo - A lenda de Nossa Senhora na Colina!



                             
                      O Prefeito Bastos saiu do grande sobrado visivelmente irritado, nervoso, amedrontado, perturbado, enfim com todos os significados possíveis e imaginados para descrever o que sentia.
                 Há alguns anos ele demonstrava uma preocupação , embora fiel naquela relação de influência com o chamado submundo e seus tentáculos de dominação política com requintes de violência em cenários de jogos de interesses escusos.  Ele também não era flor que se cheirasse, talvez na linguagem vulgar ele estava ficando de coração mole, ou entediado.  Na verdade ele não engolia , ou seja, já tinha engolido muito sapo em ter que dar satisfação pessoalmente e ainda ser chamado de ''cagão'' por um sujeito mesquinho e arrogante que se dava ao luxo de usar roupas ''árabes'' ocultando seu rosto em luzes indiretas.   Porque ele teria que caminhar , não mais livremente, pelas ruas ou estradas, agora que sabia que seus passos eram vigiados sabe-se lá por quem ou o quê !   

                        O que ele poderia fazer para sair daquela situação?  Sentia uma grande admiração pelos ideais apresentados por Gervásio naquela reunião da Cooperativa.  Um jovem inteligente cheio de entusiasmo. Ele recordava-se que na idade dele tinha esses mesmos ideais, e enveredou pelo caminho do serviço comunitário, mas aliou-se a líderes comunitários que tinham muito mais o interesse em ampliar seus pequenos negócios do que propriamente ajudar a população em resolver questões imediatas, de transporte, educação, e saúde.   Eram poucos esses chamados líderes comunitários, geralmente eles eram donos de fazendas situadas em pontos estratégicos, cobrando pedágios em barreiras, portões no meio de estradas que cruzavam suas propriedades.   Durante a época das chuvas que iam de dezembro à maio só é possível seguir de barco pois vários trechos ficam alagados, mesmo assim o pedágio continua sendo cobrado o que gera muitos protestos dos moradores.  

                        A amizade de Bastos com esses Senhores era fruto da infância que ele viveu ali mesmo naquelas regiões, bem próximas de rios afluentes do Grande Mangue.  A história das vilas não tinha muitos registros de suas fundações, algumas de origem indígena que ficavam nas orlas, portanto, mais próximas do mar. Uma ressaca, a mais forte já acontecida, destruiu a maior parte da vila dos antigos pescadores. Posteriormente construiram-se casas não tão perto do mar.  Outras casas eram para os trabalhadores daquelas fazendas de agricultura mista, isto é, milho, arroz, feijão, mandioca, cenoura, abobrinha, chuchu , batata, verduras ou legumes em geral. Havia plantações rasteiras de amendoim , a semelhança da melancia, o morango, ou ainda muitos pés de manga,  a jaca, laranja, limão, maracujá, abacaxi, mamão.

                  A terra era muito rica de nutrientes que as cheias dos rios traziam às suas margens, nutrientes que eram trazidas durante o ano nas correntes do Atlântico que também banhava a Ilha dos Marrecos. Bastos recordou que nas próprias margens lamacentas ele pescou caranguejos e pequenos peixes que alimentavam-se dos nutrientes depositados, portanto, as terras costeiras ou terrestres ficavam constantemente adubadas.

                   Porém ele recordou-se infelizmente da mordida que levou de uma cobra que rastejou , e nem poderia ser de outra forma, até abocanhar seu calcanhar.  De posse de um facão que trazia na cintura ele cortou sua cabeça.  Molhou a faca no rio e fez ali mesmo uma sangria imediata para drenar um pouco do veneno.   Graças ao seu Pai ele foi socorrido, levado até o Posto de Saúde mais próximo e tomou o soro anti ofídico.  Nunca mais pescou descalço!
  
            Sua memória aos poucos trouxe-lhe lembranças profundas que avançaram à sua adolescência, a lembrança de um quase namoro com uma jovem moradora da vila de pescadores do Mangue.                
           Acontecia uma festa em homenagem á Nossa Senhora dos Navegantes. Bastos tinha 19(dezenove) anos e às vezes pegava seu barco a motor para levar verduras, frutas e legumes ao Padre Álvaro que revezava-se na celebração de missas , tanto para os moradores da cidade, quanto para os moradores do Mangue.

                         Nesse dia ele continuou fazendo a mesma coisa, e depois de conversar com o Padre, ouviu dele o seguinte convite:

_____Bastos, meu bom rapaz!  Porque não fica para assistir a missa de hoje, é muito bonita e especial. Você vai gostar.  Começa daqui há pouco. E dura apenas 1(uma) hora.  Eu faço uma pequena preleção, e iniciamos. 

____Hummm está bem Padre Álvaro!  Aqui fora os preparativos da Festa ficaram bem adiantados, hein?
____Ahhh sim, certamente.  Eu supervisiono tudo. Desdobro-me ao máximo. Preciso, na verdade, de um ajudante que saiba fazer pequenos consertos elétricos, conhece alguém?

____Esta falando com ele !  Disse Bastos com um largo sorriso no rosto.  
        Mas nem sempre eu venho aqui. Como eu poderia ajudá-lo?

____Que bom, que bom!  Desta vez como acabei de dizer eu necessito de alguém para pequenos consertos.  Sabe consertar motor de barco?  Ou fazer instalação elétrica?

____Bem, Padre!  Motor de lancha ou de barco eu posso fazer alguma coisa, mas tem que ser lá na minha propriedade e do meu velho Pai.   E a parte elétrica é por aqui mesmo?

____Então!  Eu gostaria de estender a iluminação dos festejos até o alto do campanário, onde está o sino das horas , entende?

____Caramba, Padre! É uma altura considerável, mas tenho uma solução.  Até o lugar do campanário deve haver uma escada em espiral, estou certo disto?

____Sim, há uma escada interna.Confirmou o Padre.

____Farei um longo varal de lâmpadas, e lá de cima eu irei descendo e esticamos o restante até o outros ponto, e assim por diante, o que acha?

____Perfeito Jovem, está contratado!

____Contratado? Nada disso, Padre. É um prazer poder ajudar. Aqui a gente nem sempre tem oportunidades de diversão.

____Tudo bem!   Fico imensamente feliz por sua generosidade. Fica para a missa?

____Fico sim, e em seguida ajudarei com as lâmpadas. Tem comércio aberto hoje?

____ Se você precisa de lâmpadas, não precisa, tenho muitas armazenadas no próprio campanário. E fiação idem.

           Se me dá licença Bastos, fique à vontade, visite as barracas, conheça nossos outros colaboradores . Gente generosa como você é !   Agora vou me preparar para a missa, quando for a hora, ouvira o sino badalar.

_____Obrigado Padre Álvaro, obrigado !

                        Retornando às suas lembranças de infância Bastos crescera brincando com os filhos daqueles senhores, filhos que mais tarde por serem herdeiros permaneciam naquele pátrio poder de explorar além do pedágio, exploravam na venda de seus produtos.  Bastos era filho do vizinho de um proprietário de terras formado por uma linda colina.  Uma estrada levava ao lugar mais alto da colina, e lá um belo farol tinha sido construído por navegantes portugueses junto a uma pequena ermida. Dentro dela um altar singelo dedicado à Nossa Senhora.    Algumas lendas sobre essa imagem ou sobre os navegantes costumavam ser contadas de geração em geração.

                          A lenda que Bastos mais conhecia contava sobre uma caravela Portuguesa que em noite de forte tempestade foi lançada de encontro aos recifes e corais que margeavam a Ilha dos Marrecos.    Dizem que do alto da colina surgiu uma linda senhora que acendeu uma fogueira. A luz desta fogueira orientou o capitão da caravela que usando de toda a força de seus braços girou o timão, e aos gritos falou para a tripulação.  Rezem, rezem à Nossa Senhora. Olhem a luz daquela colina!
                     Ergam todas as velas!  

                            Foi então que a tripulação olhando a luz viram que se tratava de uma grande fogueira, e viram sobre ela uma fumaça em forma de Nossa Senhora mãe de Jesus.  Renovados em sua fé e energia , sob a liderança do capitão, conseguiram desviar a embarcação do encontro certo com a morte.  Rumaram em direção aquela luz, ancoraram após adentrarem um braço de rio um afluente que desaguava no mar.   A passagem só foi possível a um determinado trecho. Dali em diante atracaram e foram de barcos até o local da possível fogueira.  Ainda chovia e a trilha fechada dificultava a subida. Resolveram retornar, sempre observando que a fogueira permanecia acesa, iluminando como um Farol.
                            ____Senhor! Meu Capitão!  É semelhante a um Farol !
                            ____Sim, marujo ! Vamos descansar. Graças daremos à Nossa Senhora. à Nossa Senhora destes navegantes ! Ao amanhecer retornaremos !  E lá na colina rezaremos um rosário em agradecimento.
                               Os Navegantes retornaram mais cedo no dia seguinte, e o tempo estava mais tranquilo, sol forte. Conseguiram escalar a colina. Quando chegaram realmente encontraram uma enorme clareira com uma cruz encravada ao centro, voltada para o mar na direção exata de onde eles estiveram na noite tempestuosa.
                                   Ajoelharam-se e rezaram o terço.   O capitão resolveu construir uma ermida , colocou num pequeno altar a única imagem de Nossa Senhora que havia em seu escritório a bordo da Caravela.         Esta era a sua história e lenda preferida sobre Nossa Senhora dos Navegantes!

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Décimo Primeiro Capítulo - Prefeito Bastos tem um encontro misterioso!



 
                    A moqueca de D.Teresa ficou tão famosa que começaram a atribuir ao delicioso prato propriedades, digamos, de aprimoramento dos sentidos, ou na melhor expressão, afrodisíaco. E com certeza era verdade. D.Teresa melhorou o sabor que já era bom adicionando pitadas de pimenta caiena, por sugestão, do Sr.Jorge que confidenciou a amigos pescadores e frequentadores de seu restaurante o uso do exótico tempero.  Em pouco tempo não apenas D.Teresa passou a utilizar a pimenta caiena, e sim todos os restaurantes, graças ao Sr. Jorge que trouxe mudas da Ilha do Marajó.  
                   Satisfeitos com o saboroso alimento servido após a Assembleia , o Prefeito Bastos e Maria Augusta caminhavam rumo à porta principal em forma de arco. Caminharam juntos com Gervásio e Senhor Antonio Simão até o estacionamento.   O Prefeito estava de muito bom humor, tanto que ofereceu uma carona à Maria e as crianças. A princípio ela queria recusar mas por causa das crianças que estavam coçando os olhos, sonolentas, ela aceitou.   

___ Prefeito Bastos, Maria Augusta! Gostaram da reunião de hoje? Perdoem as acomodações. Há algum tempo que estamos procurando melhorar nossas instalações, e aproveito para agradecer ao Prefeito a concessão do terreno para uso da Cooperativa.

___Gervásio, é minha obrigação ! Podemos fazer mais, outros eventos e festejos se aproximam e os estacionamentos das pousadas já não dão conta de atender aos turistas, principalmente na alta temporada.  Agora mesmo estamos preparando uma grande festa de aniversário da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, e a cidade ou vila como gostamos de chamar vai ficar repleta de gente para alegria de todos. Uma responsabilidade maior para abastecer o Mercado Central de peixes. Exceto aqueles em perigo de extinção ou pesca proibida como bem explicou o Gervásio na reunião de hoje. 

               Outra coisa, os  empresários das duas construtoras aqui estabelecidas, a Borden e a Renascimento  querem aproveitar a festa para divulgar o lançamento de três novos prédios. Dois lançamentos pela Renascimento e um pela Borden.

___Ora, ora, Senhor Prefeito que boas novas, não é mesmo Gervásio!? Comentou com ironia a Maria Augusta.   Ela sabia exatamente onde os três prédios estavam sendo construídos.

___Que bom ter comentado sobre a festa da Padroeira de nossa cidade ! respondeu Gervásio.

       O Senhor poderia nos receber em sua residência Prefeito?

___Como assim em minha casa?

____É que temos assuntos pendentes, não é mesmo Maria Augusta?!

____Já percebi que vocês dois estão de parceria, ou é impressão minha?  

        Indagou o Prefeito igualmente irônico.

____Não, não é impressão!  Podemos agendar ?

___Faça o seguinte:  Me ligue amanhã no meu Gabinete logo cedo, e minha secretária agendará, tudo bem?
respondeu 
____ Verdade! Ia esquecendo que a Prefeitura é sua casa.  

____Vocês me avisem quando iremos, porque levo quase 1(uma) hora para me deslocar, lembrem-se disto também, viu? Disse Maria Augusta.

      Um silêncio quase sepulcral entre os três até chegarem ao estacionamento.

     Ao despedir-se Gervásio entregou, discretamente, nas mãos de Maria Augusta um bilhete que ela tratou de guardar imediatamente no bolso da calça jardineira.

          Nem as crianças perceberam porque tão logo entraram no banco de trás caíram em sono profundo, mas logo foram acordadas em menos de meia hora ao chegarem na balsa que os levaria de volta para o Manguezal.   Maria Augusta trouxe as crianças para a reunião e sinceramente, ela estava profundamente arrependida de ter feito aquilo, sujeitando-as a assistirem ''enfadonhas'' com tédio mesmo.   Claro que para ela teve importância!  Pobres crianças!    Ahh tia Maria !
           Depois de agradecer ao Prefeito, coisa que jamais imaginaria fazer, ela procurou o melhor lugar dentro dos '' Containers''  utilizados pelos passageiros .  Tinham sido recentemente reformados com camas leito, uma pequena lanchonete , e até banheiro. A balsa fazia a travessia da parte mais larga entre a Vila e o braço de mar de águas salgadas que adentravam o Manguezal. Se houvesse uma ponte tudo seria mais fácil.  Precisariam de uma decisão do Governo Federal e da Marinha. Um antigo sonho da população local.
              
            Na tranquilidade aparente da balsa ela tirou o bilhete para ler. O que será que Gervásio teria para dizer que precisou escrever em um bilhete?

         " Maria Augusta tenho fortes suspeitas a respeito do Prefeito! Quero conversar com você antes de irmos à Prefeitura. É muito importante!  Depois darei mais detalhes!"

Assim que Maria leu o bilhete ela o rasgou bem picadinho.

Enquanto isso um grande sobrado, na parte mais alta da  Vila(cidade), abriu um portão de ferro automatizado e um carro preto com placa oficial da Prefeitura entrou velozmente. Estacionou de fronte a um pequeno jardim adornado de estátuas gregas e quatro homens armados vestidos de terno apareceram para receber o passageiro daquele carro oficial. O passageiro?   O Prefeito Bastos!

           A porta traseira foi aberta por um dos homens que através de um microfone embutido na lapela confirmou que era mesmo o Prefeito que havia chegado.   Na extremidade da comunicação outro homem combinou um código, ou senha, autorizando a entrada do Prefeito no grande sobrado.
            Uma construção formidável , cercada de palmeiras imperiais quase da altura do telhado. E uma vegetação robusta, praticamente inserindo 400 m2 que à noite, não fosse a iluminação da alameda, a deixariam invisível. Toda a área do imóvel alcançava mais de 600m2.  
             Acessando uma escada ampla de mármore branco em espiral ele subiu até o andar de cima, percorreu um corredor, sempre com o piso em mármore, acompanhado por um dos que seriam seguranças do misterioso anfitrião.    Durante a reunião da Cooperativa , ou melhor, dos cooperados, Bastos estava com um celular ligado e gravando toda a fala de Gervásio.
                O segurança bateu na porta falando o código, e esta abriu-se automaticamente. 
____Boa Noite, Prefeito !  Boa Noite!  Sente-se meu amigo, aceita uma bebida, um cafézinho, uma água? É só pedir!      Falou o enigmática homem a sua frente oculto por uma luz indireta que não deixava ver nitidamente seu rosto.  Além do que ele cobria a cabeça com um turbante à moda de um Sheik árabe. Uma enorme mesa oval o distanciava de seu visitante. Aquela não era propriamente uma visita, e sim uma prestação de contas. O Prefeito tinha o rabo preso, uma carta nas mãos de um Poderoso Chefão do crime organizado. Líder de uma quadrilha que contrabandeava mercadorias.

___ Então?  Recebeu direitinho o último depósito? Quais são as novidades?

____Boa Noite Senhor... Senhor...

____Não diga meu nome, já lhe disse isso antes. Será que você é surdo? Esbravejou

____Perdão! falou baixinho o submisso Prefeito Bastos.   Uma mudança da água para o vinho em seu comportamento, aquele homem lhe causava calafrios? Temor? Respeito? Admiração talvez.

___Recebi sim. Sem problemas. Temos novidades, com certeza. Trouxe a gravação da reunião de hoje, e uma cópia , isto é, o rascunho do projeto do jovem Gervásio, sabe? Aquele pescador filho do Antonio Simão, lembra-se dele ?

___Como poderia esquecer do velho Antonio Simão! Estou vivo graças a ele! Ele é um sujeito de sorte, sabia?   Sorte de ter salvo este safado. Sim, sou um grande safado, sem vergonha. E gargalhou alto, tão alto, que ecoou por todos os aposentos.   Os seguranças entreolhavam-se assustados com a gargalhada tenebrosa de seu Grande Chefe.
        Não entendo porque ele deixou de vender algumas de minhas mercadorias, mas tudo bem, vou relevar. Ele já tá ficando velho.  O filho poderia continuar o serviço, não acha?

____Com todo respeito, Chefe! Posso chamá-lo assim?

        Uma grande baforada de fumaça cheirando chocolate, enjoativo, exalou no ar.   Mesmo àquela distância o cheiro forte do cachimbo queimando aquele fumo misturado fez com que Bastos desse algumas tossidas. 

____Sabe Bastos! Você está me devendo uma boa novidade, eu quero, aliás, uma grande novidade!  Quero que arrebente a boca do balão! Disse numa gíria que Bastos já conhecia há alguns anos, mesmo antes de tornar-se Prefeito.

____Então, liga esse bagulho de uma vez. Vamos ver o que tem prá mim.

          Sem questionar nada, Bastos ligou o celular.  Em constantes baforadas, ele ouvia atento toda a gravação, e em dado momento ajeitou-se melhor na cadeira colocando os pés sobre a mesa revelando um par de botas brancas com duas estrelas prateadas, uma de cada lado.  

____Gosta destas botas Bastos?   kkkkkkk Botas Bastos  kkkkkk E gargalhou mais alto ainda!  Inventei uma piada! Eu sou f...!   Estou gostando! Estou gostando!  Disse referindo-se à gravação.

____ Quero saber mais desse moleque! Gervásio, né?  Pqp... que nome é esse. Antonio Simão deveria ter mais imaginação. Mas vai ver foi a mãe! Isso mesmo! Ele é um filho da mãe! Tá na cara!  

       Sua gargalhada confundia-se alternando lucidez com o torpor causado pela droga misturada ao chocolate, provavelmente, um pó envelhecido.

 ____ Aonde esse moleque tá querendo chegar com essa história de inseminação ?  Ele não pode atrapalhar meus negócios. Exclamou nervoso cerrando os punhos sobre a grande mesa de madeira entalhada.

___Se me permite Senhor, muito pelo contrário.   Ele vai aumentar seus negócios!

___Olhe aqui, seu Prefeitinho de M... Se você estiver armando alguma sabe muito bem onde fica sua última morada.

___Absolutamente Senhor. Vou trazer relatórios, tudo bem explicado.

disse o Prefeito que a esta altura tremia mais que vara de marmelo.

___Não lhe pago pra me trazer besteirinhas. Quero enxergar cifrões, muitos, muitos cifrões, quero jogar dinheiro pela janela, entendeu?

____Entendi sim. Entendi.

        Hoje você está dispensado. Vou ficar com estes papéis e o chip com a gravação. Pensou que eu estava doidão da silva, não pensou?  kkkkkkk

___ De modo algum Senhor, Chefe...quero dizer.. gaguejava Bastos

___Como você é um cagão!  Onde é que eu estava com a cabeça quando aceitei sua indicação para a Prefeitura. Mas a Organização decidiu que você tinha capacidade, enfim que seja!  Algumas coisas mudaram mas ainda sou o Chefe, a última palavra é minha. A Organização cresceu muito, feito um polvo com tentáculos. Atuamos até dentro de Igrejas através de generosas doações. Não somos tão malvadinhos, fazemos caridade. kkkkk   Gargalhava o sujeito.

  O segurança do lado de fora abriu a Bíblia em Deuteronomio , no lado esquerdo um coldre portando uma pistola automática, e na mão direita um rosário de pedras.

Afinal porque cargas eu estou contando estas coisas. 

____Senhor! Eu... balbuciou o Prefeitinho de M..

____O que foi agora? Desembucha 

____O tal moleque é esperto, não devemos subestimar.  Tem liderança nata!

        Jogando um calhamaço de dinheiro sobre a mesa, gritou :   Isto é liderança!

____ O Projeto ainda vai ser votado na próxima reunião. Podemos modificar alguns itens ou acrescentar outros.

____Fale mais! Fale mais!

____Ele é visionário, peitudo, mesmo!   Podemos aproveitar a rede de restaurantes e as pousadas. Aliás, Senhor, eu não sei se ainda posso impedir a fiscalização da pesca. Esta levantando suspeitas.

___ Bastos, por enquanto faça vista grossa. Daremos assistência jurídica se as coisas complicarem para o seu lado.   Ajude esse rapaz no que ele precisar. Tenho essa divida com o pai dele, mas seja cauteloso.

____Certamente, Chefe! Obrigado pelo depósito. Só mais uma informação.   O senhor gostaria de ser dono de um aeroporto?

____Você está gozando com a minha cara?

___Falo sério!   É um dos itens que quero acrescentar no Projeto. 

      Já tenho até o local:  ILHA DOS MARRECOS !

___ÔOOOO SEU BURRO! Tá querendo me encrencar com o GOVERNO FEDERAL!

       Até mesmo a ORGANIZAÇÃO tem seus limites, fique sabendo.

____Pode não ser a ILHA DOS MARRECOS mas o senhor terá seu aeroporto!

____Vai! Vai pra casa que sua esposa te espera, vivo ! kkkkkk

____Boa Noite!   Pode mandar outra cópia do projeto?

___De forma alguma!  Você que peça outra para o tal do Gervásio!   Diga que deixou cair perto da balsa!   Ou você acha que não sei que deu carona pra Maria Augusta? Tenho meus informantes!

             ''  E esta agora?  O homem era sua sombra vinte e quatro horas !''

____ Você será informado quando eu precisar !  Agora some !





    

            

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Décimo capítulo- Gervásio apresenta seu plano !


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ3KRbpAn6U9zWhf1gXiAKmz9hyc48AklAhI4vmjrBK8pKgLTbaaWLxnSlJ7cwEJveyhdBTK3NpddH-bM3EcioPQy4asSLDoKcFoUv3G-FjZHf3UVA-iieD4kLXs7LFLnDzoyXZXOyRHE/w1600/garramarz%25C3%25A3o.bmp 

                     O relógio na parede mostrava seus ponteiros, o menor representando as horas sobre o numeral romano IX ou 21:00 hrs, e o maior representando os minutos sobre o numeral romano X ou 10 segundos.
                    Gervásio passou ligeiramente seu olhar sobre eles e não queria perder nem mais um segundo sequer, e até pediu para deixarem aplausos para o final dado o avanço das horas e a importância dos assuntos .     O Prefeito que era um viciado em manifestar-se teria que obviamente permanecer contido. Cruzou os braços apertando-os contra o corpo e assim ficou. Às vezes contorcia-se na cadeira visivelmente incomodado diante dos pescadores. Poderia na realidade estar mais preocupado em encher sua enorme pança com a moqueca que seria servida. Em gesto rápido ele esvaziou sua única garrafa de água mineral que a prodigiosa Carla trouxera à mesa dos convidados. Fazia calor aquela noite; dois ventiladores verticais amenizavam a atmosfera tensa e quente ! Literalmente mesmo!
                  
                    __Hoje eu vou falar de um jeito mais simples. Quero que todos aqui me acompanhem. Então vou usar o nosso ''jeitim'' de conversar, à bem dizer ( entonando o r final quase cantado). Um dos pescadores levantou o polegar positivamente.

____ Mas do Estatuto da Cooperativa,  paciência ! Vou ler mesmo.

____ Por favor Márcia, ou melhor, Professora Márcia, agradeço por secretariar os trabalhos desta noite, digitando no computador esta Assembléia.  Vamos aos pontos iniciais. Tão cedo eu não vou abrir água ( expressão que significa sair, afastar-se, ir embora; “O cação sumiu, então a tainha abriu água”). Houve riso aberto entre os presentes! 
         
_____'' Olha a aguagem grossa que vai lá, água norte e água sul!"  Disse Gervásio entregando uma maço de folhas que Carla distribuiu a todos, à mesa outras folhas foram entregues ao Prefeito Bastos e Maria Augusta.
DOS OBJETIVOS 
Art. 2 - A Cooperativa tem por objetivos:
a)  (descrever os objetivos e atividades da Cooperativa. Exemplo: oferecer serviços de telemarketing em nome de seus cooperados, em condições e preços convenientes);
b)  fornecer assistência aos cooperados no que for necessário para melhor executarem o trabalho;
c)  organizar as tarefas de modo a bem aproveitar a capacidade dos cooperados, distribuindo-os conforme suas aptidões e interesses coletivos;
d)  realizar, em benefício de cooperados interessados, seguro de vida coletivo e de acidentes de trabalho;
e)  proporcionar, através de convênios com sindicatos, prefeituras e órgãos estaduais, serviços jurídicos e sociais;
f)  realizar cursos de capacitação cooperativista e profissional para o seu quadro social.
Parágrafo único - A Cooperativa atuará sem discriminação política, racial, religiosa ou social e não visará lucro.

     ___'' Deu espada à rodo? '' Perguntou Gervásio.   Um sonoro SIMMM ecoou pelo salão.
                 
     ___Prestem atenção na letra f !   Realizar cursos de capacitação cooperativista e profissional para o seu quadro social.  Não quero falar disso à garné! ( de qualquer jeito, espalhado)
                
DOS COOPERADOS
a)  ADMISSÃO, DEVERES, DIREITOS E RESPONSABILIDADES 
Art. 3 - Poderão associar-se á Cooperativa, salvo se houver impossibilidade técnica de prestação de serviços, quaisquer pessoas que se dediquem á atividade objeto da entidade, sem prejudicar os interesses e objetivos dela, nem com eles colidir.
Parágrafo único - O número de cooperados não terá limite quanto ao máximo, mas não poderá ser inferior em número mínimo necessário a compor a administração da sociedade.
Art. 4 - Para associar-se, o interessado preencherá a respectiva proposta fornecida pela Cooperativa, assinando-a com outro cooperado proponente.
§ 1o - O interessado, após protocolar a proposta, deverá frequentar, com aproveitamento, um curso básico de cooperativismo, que será ministrado pela Cooperativa.
§ 2o - Concluído o curso, o Conselho de Administração analisará a proposta e a deferirá, se for o caso, devendo o candidato subscrever pelo menos 1 (uma) quota-parte do capital, nos termos deste Estatuto, e assinar o livro de matrícula.
§ 3o – Cada sócio poderá deter até o máximo de ... (.....) quotas-parte do capital.
Art. 5 - Poderão ingressar na Cooperativa, excepcionalmente, pessoas jurídicas que satisfaçam as condições estabelecidas.
Parágrafo único - A representação de pessoa jurídica junto á Cooperativa se fará por meio de pessoa (s) natural (is) especialmente designada (s), mediante instrumento específico que, nos caso em que houver mais de um representante, identificará os poderes de cada um.
Art. 6 - Cumprido o que dispõe o art. 4o, o cooperado adquire todos os direitos e assume todos os deveres decorrentes da lei, deste Estatuto e das deliberações tomadas pela Cooperativa.
Art. 7 - São direitos dos cooperados:
a)  participar das Assembleias Gerais, discutindo e votando os assuntos que nela forem tratados;
b)  propor ao Conselho de Administração, ao Conselho Fiscal ou ás Assembleias Gerais medidas de interesse da Cooperativa;
c)  demitir-se da Cooperativa quando lhe convier;
d)  solicitar informações sobre seus débitos e créditos;
e)  solicitar informações sobre as atividades da Cooperativa e, a partir da data de publicação do edital de convocação da Assembleia Geral Ordinária, consultar os livros e peças do Balanço Geral, que devem estar á disposição do cooperado na sede da Cooperativa.

_____À amiga Maria Augusta eu chamo atenção para ao Art.3 e Art.4 para preencher a proposta de associação de interessados caso estejam presentes ou não. Quero dizer, que se houver mais interessados leve outras propostas com você.
____ Pois é amigos! Aqui ninguém vai escangalha! Levante a mão quem sabe largar picaré? Estou sendo claro? Quase todos disseram sim , mas dois jovens levantaram a mão e ficaram de mãos erguidas. Gervásio entendeu que eles queriam perguntar alguma coisa.

____Vamos lá! Perguntem

____ Escangalha é fazer pouco caso, é? E largar picaré é arrastar na praia um tipo de rede de malha fina? Perguntou o jovem que tinha cara de manata, ou seja um camarada muito rico.

____Exatamente! Vocês dois não são filhos de pescadores? perguntou Gervásio

____Somos sim, é que a gente é de uma vila mais ao norte e lá a gente usa a minjuada, conhece?

____Aproveitando sua palavra , meu amigo, gostaria de pescar muito mais do que usando a minjuada?  Perguntou Gervásio com um gesto largo das mãos imitando uma rede lançada ao mar.

        Acenaram positivo com a cabeça.

        Prosseguiu Gervásio:   Nosso vocabulário caiçara é muito forte mas chega de tanta viração, ou falo de mudanças para melhor, não para pior.  Meu projeto, indo direto ao assunto desta noite e respeitando a professora Márcia que olha prá mim um pouco aflita, eu deixarei o falar caiçara um pouco de lado, porque ela precisa anotar tudo o que falo e tem que traduzir nas atas, vocês estão de acordo?

_____   Fica tranquilo meu filho!   Estamos entendendo perfeitamente. Fale do jeito que você achar melhor.  respondeu no meio dos pescadores o Pai de Gervásio.

____Muito bem, eu proponho a criação de uma empresa de inseminação artificial de peixes, e gostaria que os amigos soubessem que eu e o nosso estimado Prefeito aqui presente iremos conversar bastante sobre o assunto, ainda mais porque esta iniciativa vai gerar muito emprego para nossa vila.  Vamos criar uma escola que será uma verdadeira rufada, e não precisaremos nos preocupar com o ligado e com uma tribuzana.

_____ Nossa Escola vai ensinar as melhores técnicas de inseminação dos alevinos, que são as ovas dos peixes, que serão cultivados em tanques ou até em raias em braços de mar manso que é o ligado que mencionei. Com isso teremos a garantia de peixes para a venda, além do que é melhor para o meio ambiente e preservação de algumas espécies de peixe ameaçadas de extinção.  A pesca tradicional vai continuar, sem dúvida. Porém aos poucos conforme todos vocês forem vendo e participando a diferença será incrível.  O que vamos fazer é no linguajar de um técnico, agregar valor.  Conseguiremos uma qualidade extraordinária no controle do peso, da qualidade da carne, enfim em muitos aspectos. 

____Olhem agora para a tela ! 

             Gervásio colocou sobre outra mesa, posicionada no meio do salão entre as fileiras,  um computador acoplado à um pequeno projetor. Ele ligou o computador digitando o endereço eletrônico da FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESCA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

                       Localizou um trabalho de apresentação em slides, conhecido como PowerPoint que tinha o seguinte título: LISTA NACIONAL OFICIAL DE ESPÉCIES DA FAUNA AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO  - PEIXES E INVERTEBRADOS AQUÁTICOS.  PORTARIA MMA Nº 445, 17/12/2014.

                       ____ Vou falar rapidamente sobre esta lista. Temos a seguinte classificação por categorias. Categoria VU , Vulnerável. Categoria EN em Perigo. E categoria CR criticamente em Perigo. Poderão acessar a página depois em suas casas,  logicamente aqueles que tem computador, ou notebook, e celulares com capacidade de reproduzir vídeos. Na papelaria do centro há dois computadores que vocês ou algum familiar poderá imprimir uma cópia deste trabalho. É importante que os mais jovens leiam , porque em breve muitos estarão aqui lendo, estudando, trabalhando com várias dessas espécies.

                           O Prefeito Bastos olhava atentamente para Gervásio, bastante impressionado com sua desenvoltura apesar de tão jovem, ouvindo com interesse o seu projeto e rascunhava suas anotações sobre o papel deixado à mesa.
 

           

 ____Reconhece esta foto Maria Augusta?  Sim, é a foto de um Manguezal.   Dentre as espécies desta lista temos o Caranguejo-Guaiamun - nome científico Cardisoma Guanhumi cuja pesca esta proibida, exceto para a pesca artesanal realizada pela comunidade onde vivem os pescadores da Vila Maria Augusta , que recentemente foi homenageada com o nome de nossa ilustre convidada.
           
        Por favor, novamente prestem atenção agora neste texto deste outro endereço que chama-se SUSTENTAHABILIDADE da bióloga com mestrado em Botânica pela UNESP ,  KAREN P.CASTILLIONI :
       
'' O mangue é um precioso elo natural entre os ambientes terrestre e aquático, ocupando cerca de 70% do litoral tropical e subtropical do mundo. No Brasil, está entre os estados do Amapá e Santa Catarina. É um ecossistema florestal que sofre a influência da maré. Assim, quando a maré está baixa, a água doce do rio prevalece mas, quando a maré sobe, a água do mar se mistura com a água doce tornando-a salobra.

               A vegetação do mangue é formada por árvores e arbustos tolerantes à elevada salinidade. Nas florestas de mangue também podem ocorrer palmeiras, ervas, gramas, epífitas, algas e uma variedade de espécies vegetais aquáticas. Assim como a vegetação, sua fauna também é altamente diversificada. É constituída por crustáceos (siris e caranguejos), moluscos (mariscos e ostras) e alguns visitantes que frequentam o ecossistema para alimentação, proteção, reprodução ou durante parte de seu ciclo de vida. Este é o caso de peixes, répteis (tartarugas marinhas, jacarés e algumas espécies de cobras), aves (garças, socós, beija-flores, corujas e gaviões), além de mamíferos (morcegos, macacos, lontras, peixe-boi marinho). Enquanto que os caranguejos fazem residência fixa no mangue, como o caranguejo-uçá que é amplamente comercializado. Os caranguejos do mangue podem habitar tocas escavadas no solo, cavidades no tronco das árvores ou até mesmo viver nas copas da vegetação. ''

           A Doutora Karen é desenvolvedora de estudos ligados à ecologia, conservação, sustentabilidade e impactos das alterações climáticas.

          Senhores a sobrevivência tanto de nossa vila quanto de outros necessita urgente de uma comunhão de esforços e de novas iniciativas.  Podemos conviver em harmonia com a natureza, pois é exatamente dela que tiramos o sustento de nossas famílias.  Toda a beleza dos ambientes terrestres e aquáticos onde há a pesca natural ou artesanal igualmente pede socorro e temos a capacidade de salvar, sustentar e manter o equilíbrio do ecosistema.  Vamos realizar um trabalho conjunto com cientistas, conservacionistas, ambientalistas, e inclusive empresários da construção civil. A estes em particular temos excelentes projetos que já foram aplicados em outros países com muito sucesso.  Podemos estabelecer aqui um modelo padrão que poderá ser ampliado para outras regiões do litoral brasileiro. Pareço ambicioso ?  Não amigos, minha ambição é um caminho sem volta, sem união estaremos fadados a extinção.

             Maria Augusta interrompeu Gervásio: 

____ Concordo com você quando diz que temos capacidade de salvar, sustentar e manter o equilíbrio do eco sistema. Eu mesma travo uma batalha hercúlea, porque o principal obstáculo é implementar programas de educação, e isso tem que ser feito desde a base curricular das escolas. Sinceramente eu não entendo o que o homem , dito civilizado,  faz com sua inteligência a ponto de outro ser humano precisar sacudi-lo para as questões de  proteção ambiental. Em busca do lucro fácil ele atropela o que deve ser a questão primeira de convívio social : a defesa do meio ambiente. Estamos falando de amar a sua própria casa e aqueles que vivem dentro desta casa. Será que isto é pedir demais?  Disse Maria Augusta com o seu vigor característico,  com a voz embargada e rouca.

Gervásio e o Prefeito Bastos a aplaudiram acompanhados pelos demais!


___Muito obrigado Maria por sua palavras, você não esta mais sozinha!  Exclamou Gervásio em voz alta.

         Acredito que a Cooperativa deve aproximar-se mais dos seus cooperados.  Os dois homens ao fundo gravavam tudo em seus celulares. E é justamente a partir da implantação do Projeto de inseminação de peixes, e dentro do projeto há espaço para o cultivo de crustáceos lembrando os senhores que as aves também se alimentam dos caranguejos. Portanto Maria Augusta você já esta enraizada feito o mangue neste projeto. Você e sua comunidade!

         Desta feita foi o Prefeito Bastos que interveio:-

   Ele coçava a nuca e a fronte, depois voltava a coçar a nuca, por fim alisava o bigode. Era seu cacoete. E o povo dizia: Lá vem Bastos !

Maria Augusta e ele mantinham uma relação amistosa, diríamos mais política do que amistosa.  Bastos realizava uma gestão com altos e baixos. O breve discurso de Maria teve um endereço certo, porque Bastos nem sempre inspirava confiança quando deixava de acionar Orgãos fiscalizadores da pesca . Em linguagem popular ele fazia vista grossa, geralmente na alta temporada com as pousadas cheias.   Claro que Gervásio sabia disto. Seu projeto visava igualmente corrigir esta e outras distorções.   Seu projeto fatalmente iria precisar do aval do Prefeito, ainda mais com interesses dos empresários do ramo imobiliário em jogo. A construção civil depois da pesca era o setor que mais gerava emprego para todas as vilas. Duas grandes construtoras rivalizam-se na obtenção, ou melhor, na compra de bons terrenos, preferencialmente com frente para o mar, e geograficamente todo aquele litoral de vilas de pescadores assemelha-se muito em vários aspectos com as ilhas marajoenses. 

 ____Amigos, será necessário outras reuniões desta cooperativa!
Apresento, antecipadamente o resumo do que iremos discutir e colocar em prática , um deles é idêntico ao objetivo adotado pelo povo das Ilhas do Marajó:

Objetivo: Elaborar e executar o zoneamento ecológico-econômico, visando à conservação da biodiversidade, o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida da população marajoara, perdão, no caso destas nossas vilas. Preservar as espécies ameaçadas de extinção e amostras representativas dos ecossistemas. Implementar projetos de pesquisa científica, educação ambiental e ecoturismo. Neste item, esta inserido o projeto de inseminação artificial e/ou crustáceos.

Em especial quero apresentar minha moção de receber desta cooperativa a aprovação deste ante projeto que tenho aqui em mãos, todo ele referente à criação de uma empresa de inseminação artificial de peixes e/ou crustáceos, bem como outros assuntos de interesse desta cooperativa.

Senhor Prefeito Bastos há vários interesses envolvidos em toda esta questão, e também peço desta cooperativa a minha indicação como representante, digo, porta voz de todos os interesses dos cooperados. A partir de hoje minha dedicação será integral à implementação deste projeto, bem como de outros que serão derivados dele.  A Márcia vai imprimir para os senhores uma cópia, assim vocês poderão ler com toda atenção todos os itens.  Na próxima reunião iremos votar. Então peço que todos estejam presentes, inclusive novamente o Prefeito e Maria Augusta.   Sem a aprovação dos senhores, ou não seriamos uma Cooperativa, certo?
 
Estamos de acordo?  Márcia por favor agende as próximas reuniões e grampeie bilhetes nessas cópias com data e horários combinados.

Quero deixar registrado que não iremos repetir os erros cometidos em outras regiões, cito por exemplo, a instalação de salinas e de fazendas marinhas para a criação de camarões, e barramento de rios, agricultura, urbanização e aquicultura. Os impactos negativos sobre o ambiente marinho e da região original do mangue ocasionam não só degradação ambiental, mas também grandes perdas sociais e econômicas.

Darei por encerrada esta reunião!  Agradeço  a paciência em me ouvir e espero que tenha sido do agrado de todos!  Uma boa noite, e voltem com Deus para suas casas.  Muito obrigado !

Gervásio foi aplaudido de pé!

Então, o Prefeito falou um pouco esbaforido:    ___Calma lá, vou querer um prato quente da Moqueca de D.Teresa!  Os cooperados riram e permaneceram em seus lugares.    Evidente que D.Teresa já havia preparado os pratinhos e alguns refrigerantes.  Entrou no salão, aguardando porém que todos recebessem as cópias da ata e do ante projeto.    Assim que terminou aquele vai e vem, D.Teresa e as filhas, auxiliadas por Gervásio e Maria Augusta que não paravam de sorrir um para o outro, arrumaram rapidamente as mesas, estendendo as toalhas de tecido xadrez nas cores iguais à da bandeira da Cooperativa. 

     ____Maria Augusta percebeu a semelhança, e comentou com Gervásio:   ___Estou cansada e ainda tenho que retornar em 1(uma) hora para o Mangue, mas valeu a pena. Fiquei realmente surpresa com sua inteligência e liderança, meu rapaz. Faremos uma bela parceria. E deu-lhe um forte abraço. Maria Augusta tinha braços fortes como homem e seu aperto de mão, então... Seu lado feminino, pois era mulher inegavelmente manifestou-se quando olhou as crianças que a acompanhavam e chamou-as para comer:    ____Venham meus filhos ( como carinhosamente chamava as crianças do Mangue), venham, sentem-se para provar a famosa moqueca de D.Teresa.    As crianças bonitas, morenas, de cabelos lisos e dentes mais brancos que as nuvens do céu obedeceram com alegria.



 


A ILHA DOS MARRECOS! OUTROS SEGREDOS!

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