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sexta-feira, 5 de junho de 2020

Décimo oitavo capítulo - Márcia e Jorge começam a namorar!


                  
                O trem foi chegando na estação ao pé da Serra que distava 14(catorze) quilômetros da Vila dos Pescadores. Naquela semana Márcia havia conseguido uma folga de trabalho e quis dar-se um presente.
Realizou um passeio de trem até Monte Alvino a cidade mais próspera da região que nada devia em relação à Campos do Jordão, excelente clima, boa gastronomia, lojas de grife localizadas dentro dos Hotéis, e até um palco de eventos com atrações de música sertaneja,  os ídolos preferidos do cancioneiro popular. 

              Em Monte Alvino tinha uma Universidade com cursos de Humanas, Exatas e Biológicas, e Márcia aproveitou para conhecê-la. A viagem de trem até lá demorava  2(duas) horas, então Márcia saiu bem cedo, às 07:00 hrs em ponto. Programou tudo com antecedência porque voltaria ao fim do dia.  Seu grande sonho era formar-se Professora.  Sair um pouco daquela rotina que ela, no fundo de sua alma feminina, apenas imaginava e parecia um sonho estar passeando, afastando-se ao menos por um dia . Pensava em sua mãe e sua irmã que elas iriam , se Deus assim permitir, conhecer outros lugares. Se bem que a Vila dos Pescadores era bem bonita, mas eles já estavam acostumados. Sentir outros ares, conhecer pessoas diferentes, outras culturas, adquirir mais conhecimentos, saber frequentar outros ambientes.  Márcia não era esnobe feito aquela ricaça do cachorrinho salvo pela Clara, nem queria ser esnobe, nunca!  Mas queria um pouco mais, e o estudo estava proporcionando isso prá ela. Por sempre ser boa aluna, tirar boas notas, e uma filha prestativa, inteligente e uma alma belíssima que a todos cativava.  Seu magnetismo pessoal tão forte atraiu a atenção de Jorge, o sobrinho do Padre Álvaro.

               Assim como Gervásio o irmão dela que passou a interessar-se por Anita, ainda que inicialmente um interesse platônico, ela bem que gostaria que ele a convidasse para ir ao cinema, ou coisa parecida. Mesmo ir a missa no Domingo acompanhada por ele já seria um passeio.   Cidade pequena tem dessas coisas.   E agora ela estava em Monte Alvino vendo gente bem vestida, as garotas com outros penteados e maquiagem. Não sentia-se uma caipira, de jeito algum. Márcia era vaidosa, sabia que era bela, e talvez por conhecer-se bem, usava pouca maquiagem.  Na vila também tinha boas lojas, por causa do turismo que crescia cada vez mais, e a juventude que descia nos finais de semana, fora os turistas das pousadas da região.  Estrangeiros vinham conhecer a Vila. Todo aquele universo , porém a realidade da infância pobre, e ainda a realidade dos filhos dos pescadores, a motivava a lutar. Esse era o espírito da família do avô, e de seus Pais, a Família Simão!

             Estava faminta, infelizmente o serviço de bordo do trem não era dos melhores. Serviram apenas um cafézinho com pão e manteiga acompanhado de bolachas maizena, bem fraquinho. Ao chegar na Estação de Monte Alvino ela reforçou comendo um pão de queijo e uma xicara de chocolante bem quente.   Em Monte Alvino o clima era mais frio. Ainda não estavam no Inverno rigoroso. E nesse item de clima, Monte Alvino foi premiada por Deus, nevava, isso mesmo nevava no Inverno.   Monte Alvino ficava muito bonita nessa estação do ano!   Nem sempre foi assim.  De uns três anos para cá, algo aconteceu no clima da região, os ventos ficaram mais frios , as temperaturas começaram a baixar, despertando a curiosidade de cientistas, e de toda a imprensa local.  Foi difícil ocultar a novidade do restante do País.  Empresários resolveram investir em Monte Alvino, e a indústria de roupas e confecções cresceu bastante com aquisição de máquinas para costura mais modernas, inclusive importadas.  Os Bancos aproveitaram o nicho concedendo empréstimos até para pequenos empreendedores do ramo. De repente em cada casa era possível ver alguém tecendo ou costurando alguma roupa de frio.   A vida em Monte Alvino transfigurou-se!  

           Ainda bem que Márcia ouviu o conselho sua mãe!
  __Leve aquele seu casaco, aquele mais grosso, o que tem 8 (oito) botões.
___Nossa mãe! Que frio é esse que a Senhora está esperando?
___Você esqueceu como é frio lá em Monte Alvino, e se o tempo fica mais rigoroso?

          Portanto, Márcia ocupou o restante da pequena mala com aquele casaco bege de botões marrons!
      Aquele chocolate quente reanimou muito bem, depois chamou um táxi e pediu para seguir ao Shopping  que ficava pertinho da Universidade.   Ela teria que resistir à tentação de fazer compras. Seu objetivo era conhecer os cursos que a Universidade oferecia e se encontrasse alguma apostila ou livros de pedagogia, isso sim ela compraria.  No banco do táxi ela encontrou um papel dobrado, um papel levemente azulado, e havia algo escrito nele. Tinha um perfume que não lhe era estranho e tentava lembrar-se de onde. Uma única folha  que desdobrou para ver seu conteúdo. Foi um risco fazer aquilo. Não devia, mas abriu.  Uma poesia com o título:  O SOL É DE QUINTA GRANDEZA!  não tinha nome do autor, mas aquele perfume, ela tinha certeza de conhecer, e não era perfume de mulher.  Buscava na sua memória sensorial os perfumes de quem conhecia:  o perfume que o Pai usava, sua mãe, sua irmã...sim porque às vezes elas pegavam o perfume do Pai.  Coitado! Ele reclamava tanto: 

___Quem pegou meu perfume de novo! Olha isso...olha isso. Falta um tiquinho!  Vou comprar perfume prá vocês duas, só pode ter sido!  Gervásio tem o perfume dele. Vou avisar pra ele esconder de vocês! Falava com aquele vozeirão todo. Muito engraçado!

Lembra o que dizia prá Mãe: ____ E se o Pai descobre?

          Conhecia aquele perfume! Mas de onde?
   
      Resolveu ler a poesia, um pouco longa, mas gostou...e discretamente dobrou, guardando no bolso interno do casaco.   Ela poderia perguntar ao taxista quem tinha sido seu último passageiro, ou passageira, mas ficou tímida e envergonhada, sentindo-se como uma pequena criminosa em pegar aquele pedaço de papel.    ''  Que poesia bonita! Uma pessoa sensível! E fez uma homenagem ao Pai no final.  Ele é filho de Estrangeiros, é o que parece!"

          Chegaram rapidamente ao Shopping, pagou a corrida e seguiu logo para a entrada principal com um grande Arco que assemelhava-se ao Arco do Triunfo em Paris !  Chic !

          Ao entrar logo viu uma grande movimentação, um ir e vir de casais de namorados, e então  caiu em si:   Aquela semana era a semana de compras para o Dia dos Namorados.   As lojas enfeitadas com cestas de flores , aliás o Shopping inteiro enfeitado.   No trem que a trouxe as pessoas estavam quietas, e quase nenhum casal, nem mesmo na lanchonete da estação, talvez porque os casais estavam fazendo as compras.

         Sentia uma ponta de inveja de ter um abraço a envolvê-la, alguém a lhe fazer elogios e carinhos em seus cabelos. Aquela atmosfera despertou-lhe o romantismo.  Teria sido um sinal encontrar aquela poesia?
     
        Será que o autor ou autora ia entregar ao seu ser amado(a)?   Passou levemente a mão pelo bolso para ter certeza de que não perdera o papel perfumado.   Ahhh o perfume! Bem suave, levemente cítrico com um tom amadeirado, eu....eu....de repente ficou comovida, porque definitivamente descobria quem usava aquele mesmo perfume...amadeirado, mas o perfume naquele papel estava suave, o que significava que já fazia algum tempo que o papel ficara dentro do carro.  Talvez quase um dia inteiro, talvez do dia anterior, alguém que pegou o táxi à noite, alguém que desceu apressado.
       
          Seu raciocínio era semelhante ao de Sherlock Holmes o famoso personagem de investigação policial.
    
         Se a pessoa veio ontem deve estar hospedado aqui em Monte Alvino! Agora arrependia-se de não ter perguntado para o taxista. No entanto, o que ela perguntaria? Se ele conhecia a poesia? Se ele conhecia o perfume?   Imagine!  Passaria por louca.
    
        Caminhava pelo corredor central e tantas pessoas. Temia que alguém esbarrasse, e desviando das pessoas queria evitar um tombo porque estava de salto alto, quase escorregando no piso liso e marmorizado.   Ouvia as músicas românticas que ecoavam pelas lojas, convidando os casais.  Foi quando viu uma loja de perfumes, e entrou já puxando do casaco aquela folha de papel.  Aquele casaco grosso e seu gesto foi quase que um anúncio de assalto.  Assustou a pobre moça que estava na entrada da loja distribuindo pequenos papéizinhos embebidos de amostra de perfumes.

___Por favor ! Você conhece este perfume?

___A moça respirou aliviada e disse:  -   Segure o papel você mesma porque pode confundir com estes que eu tenho.

___Claro!  Desde jeito ? Dá prá sentir?

             A moça respirou de novo, desta vez, o perfume e de pronto olhou para Márcia, sua aparência, olhando-a da cabeça aos pés. Uma vendedora treinada em ''pescar'' pessoas para o interior da loja.

____Vamos precisar entrar na loja, eu estou quase identificando o perfume.

    Márcia empunha o papel a certa altura do rosto diante do nariz da vendedora.  Os papéizinhos de perfume não chamariam tanta atenção, no entanto, aquela folha dobrada , levemente azul, para uma ou outra pessoa ressaltava aos olhares mais próximos.

Ela estava prestes a entrar. Subitamente a moça praticamente estava puxando-a pelo braço, e isto foi o suficiente para deixar cair o papel ao chão.  Voltou o corpo em 180º graus e quase que torcendo o tornozelo , ela foi ao chão.

  Ouviu uma voz masculina.

___Você está bem, machucou-se Márcia!

   Como?   Quem é ?  QUEM É QUE SABE O MEU NOME? Pensava, e erguendo a cabeça lentamente
na direção daquela voz que gentilmente lhe estendia a mão para erguer-se, quase que gira o corpo e ia cair , mas agora eram dois braços fortes que a amparavam.   A vendedora confusa, pedia desculpas e deu-lhe a bolsa de volta, com um sorriso disfarçado, bem desengonçado na verdade. E foi para o interior da loja como se nada tivesse acontecido.

          JORGE !    Seu perfume !   Seu perfume!  Márcia ficou repetindo isso..

_____ Sim Márcia, sou eu o Jorge...  o que tem o meu perfume?  E esse papel...o que você esta fazendo com o meu papel?  Eu esqueci ontem no táxi! Como ele foi parar em suas mãos?

           Márcia ficou mais atordoada, sem saber o que fazer, o que pensar, o que falar...ela gagueja:
Pa..pa..pel...pa..pa..pel.  Jorge mais do que depressa pediu um copo de água pra moça da loja, e dava aos goles que Márcia queria beber de uma vez.

____Calma...beba devagar.  Mas Márcia estava muito nervosa com o surgimento de Jorge. Se fosse combinado não teria dado certo. Sua pressão caiu, o rosto pálido...Jorge percebeu os sintomas de desmaio. Uma situação que ele enfrentava costumeiramente.  Ainda mais ali em Monte Alvino há mais de 4.000 metros de altitude acima do nível do mar. Pessoas idosas estranhavam a altitude. Jorge que era praticante de surf nos finais de semana, comprava pranchas numa famosa marca que tinha loja no Shopping. Porém por ser farmacêutico chegou a socorrer pessoas que sentiram-se mal, até mesmo ali .

               Então Jorge pegou um pequeno frasco e o cheiro forte de cânfora a fez voltar a si. Bebeu um pouco mais de água.
____ Márcia ?  Ele falou mansamente segurando suas mãos!

_____Eu estou sonhando?  É você mesmo? O que faz aqui?

_____Pergunto a mesma coisa?  Não...me desculpe...Vamos cuidar de você primeiro, depois eu conto.

_____Acho que não se alimentou direito.  Fique aqui. Tem um quiosque vendendo café. Acalme-se. Respire o frasco de vez em quando, mas segure com cuidado.

Márcia falava sózinha e querendo rir, ainda que nervosa, daquela situação.

         Tanta coisa prá acontecer, e fui encontrar Jorge aqui em Monte Alvino, a poesia dele no mesmo táxi, semana do Dia dos Namorados....ahhhh não...eu tô sonhando...isso é mentira, Senhor!  Meu Deus que senhora pegadinha!  Cadê...cadê a câmera filmando.   Encontrou a cãmera, várias delas que devem ter filmado tudo o que aconteceu, a sua queda no chão, Jorge chegando...enfim... Era demais!  Melhor seria acalmar-se para continuar ....e continuar seria afastar-se de Jorge.  Não, não...ahhh Jesus, o que eu faço?

            Jorge voltou com um lanche de pão com queijo e presunto, mais um suco de laranja.   Para o estômago de Márcia aquilo era um almoço, ia dividir com ele. E depois seu estômago estava literalmente embrulhado de emoções !

             Mas o que aconteceu foi que Márcia devorou o lanche, não sobrou migalha sobre migalha prá contar a história.  Só deixou o suco para Jorge que sorria, aquele sorriso incrível que ele distribua no balcão da fármacia da Vila dos Pescadores.
     
               Refeita e bem alimentada, Márcia começou a conversar com mais tranquilidade, e contou à Jorge os seus planos de estudar na Universidade, e que ela precisava ainda naquele dia ir até lá. 

                        Jorge por sua vez disse que ele também tinha alguns planos, mas não entrou em detalhes. No momento estava preocupado em comprar uma prancha de surf, e convidou Márcia a andar por outros corredores,   Entabularam uma conversa animada e riam do que havia acontecido momentos antes.  Márcia devolveu o poema, elogiou, dizendo que ele escrevia muito bem. E que se tinha outros poemas poderia escrever um livro, quem sabe vender numa livraria do Shopping.   Imaginaram juntos uma tarde de autógrafos!  Por que não ?    Márcia com sua beleza e carisma estava conquistando Jorge! Mais que isso, sentia-se enamorada, e não criou obstáculos para que ele se aproxima-se, incentivando-o com cabelos jogados, mãos ajeitando a lapela de sua camisa. Olhares demorados em silêncio, embalados pelas músicas. Tudo perfeito como jamais Márcia poderia imaginar ou sequer supor.   Estava pintando um clima!   Eles pareciam se conhecer há muito tempo!     Ele comprou sorvete!   Disse que ainda ficaria mais uns dois dias na cidade. Que estava hospedado em um hotel , inclusive, perto da Universidade.  E lamentou que ela tivesse que voltar naquele dia. Perguntou se ela não poderia ficar mais um dia!  

            Márcia! Márcia!   Uma voz interna acendia uma luz vermelha na sua consciência, uma voz interna dizia que ela estava a ponto de fazer a maior loucura de sua vida, uma loucura de amor?   Já? Estaria pronta?  Tudo favorecia, menos essa possibilidade de ficar com ele!   Acorda Márcia! Acorda desse sonho, ainda não....ainda não, ainda que o perfume de Jorge a deixasse em êxtase.

             Mesmo Jorge percebeu que falara demais....Caramba, ele precisava dizer que ficaria mais dois dias?  Prá quê foi dizer aquilo. Tinha que consertar isso, e falou logo o que sentia:

              Na praça de alimentação tocou uma música de Barry White ....'' você é a primeira, the first...'' Jorge ouvia e traduzia em sua mente.   Márcia também fazia o mesmo... Se aproximaram mais um pouco e trocaram o primeiro beijo, quente, gostoso, lento, cheio de paixão!


         


     

            
            
          

        

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