Os primos de José Simão e D.Teresa faziam limpeza na casa para recebê-los naquele fim de semana. A casa tinha 4 (quatro) cômodos, um banheiro ao fundo do corredor que dividia os cômodos, tendo logo a frente à entrada uma cozinha espaçosa , uma sala com lareira, e no quintal uma churrasqueira toda construida em blocos de granito. Essa área era coberta, feita de alvenaria rústica, bem antiga. Azulejos portugueses revestiam parcialmente as paredes e traziam desenhos de fragatas, naus e caravelas, navegando ao redor de uma ilha que ao que tudo indicava era a Ilha dos Marrecos. Outros azulejos adornavam a lavanderia com tanquinho de pedra.
Eles gostaram muito da localização da casa que chegou a ser base de um antigo farol, portanto, a visão que desfrutavam era belíssima, desde o nascer ao pôr do sol. Para chegar nessa parte alta da Ilha podia-se escolher dois caminhos, por terra e por mar. Quando a imobiliária fez a oferta da casa, João Lucas e Joana ou mais conhecida por tia Zuca olharam as fotos dentro de uma pequena pasta, passaram aos filhos que comentavam sobre o quintal todo ajardinado, a área da churrasqueira, quadra de futebol de salão, e até uma pequena piscina com espelho de água em direção ao Oceano.
De posse de um antigo escovão oval com palha de aço na extremidade, João Lucas raspava o taco do último cômodo antes do banheiro. No dia anterior Joanna recolheu as roupas das camas, bem como dois jogos de toalhas , deixou de molho na máquina de lavar, tendo o cuidado de separar as roupas mais pesadas, ou melhor, as roupas mais difíceis de lavar e colocou no tanquinho de pedra. Na dispensa de produtos de limpeza apanhou dois sabonetes a mais para abastecer a saboneteira do chuveirinho perto da piscina. Era mais prático que tomassem um primeiro banho do lado de fora, e outro mais completo no interior da casa. João Lucas em noites mais quentes preferia esse chuveirinho. Junto com Joana ele lavou a quadra, e toda área externa e faziam isso com certa regularidade, porque os ventos deixavam cair muitas folhas, pelo chão e teto da casa.
___ O que é isto aqui? Comentou João olhando para a esposa.
___ Você já tinha percebido essa saliência no assoalho de madeira?
____Não João, não tinha percebido.
____Por favor traga a lanterna , aqui neste quarto a luz é muito fraca, e estranho eu não ter percebido a saliência durante o dia. Traz minha caixa de ferramenta, será preciso, porque tenho um palpite.
___Joana pegou rapidamente a caixa, e dela João retirou um pequena faquinha de cabo de madeira entalhada. ___Esta faquinha foi um presente de meu avô.
Usando a faquinha ele raspou um pedaço da saliência, e notou que uma fresta surgiu em paralelo aos tacos do assoalho. Bem simétrica.Prosseguiu raspando sob o olhar curioso de ''Zuca'' !
___Gente! O que será isso ? comentou
Quando terminou de raspar, João notou que havia obtido um quadro exato, e mais ainda, que tratava-se de uma tampa de ferro camuflada.
___Esta vendo? É uma tampa de ferro! Não tem cheiro de esgoto. Poderia ser uma saída de esgoto, mas é outra coisa.
Ele pegou um pé de cabra e ergueu com certa dificuldade, porque pesava bastante.
Apanhou a lanterna e mirou após retirar a tampa.
____É um alçapão! Ajude-me ! Afaste comigo esta cama.
____ Tem uma pequena escada. Vou descer com a lanterna. Quero que você procure nos documentos de propriedade a planta. Se há alguma coisa sobre este alçapão. Parece muito antigo.
João descendo a escada chegou a tossir um pouco, incomodado com o cheiro forte de mofo. Tateava pela parede e pelo corrimão da escada, e iluminando em volta encontrou um interruptor de luz quase ao final da escada. Testou o interruptor, e para sua surpresa um corredor surgiu todo iluminado à sua frente.
____Joana, Joana, venha aqui. Você precisa ver isto com seus próprios olhos!
A esposa voltou segurando um tubo com os documentos guardados dentro dele. Notou a intensa luminosidade que vinha de sob a cama, que vinha daquele misterioso alçapão. Iniciou a descida, e enquanto isso olhou no seu colar relógio se já não estava na hora de Anita e o irmão chegarem com a perua da escola de mergulho.
____João ! Essa luz não vem da sua lanterna, estou certa?
____Não é incrível ? Incrível mesmo é o que tem aqui em baixo. Acho que estamos ricos! Falou sem pestanejar com entusiasmo, porém comedido, moderado.
Joana ao descer segurou com firmeza nas mãos do marido, e olhava de olhos arregalados toda aquela maravilha !
Havia um imenso salão sob o quarto e ele dividia-se em mais dois salões pequenos. Pendurados por toda a extensão quadros pintados, quadro grandes e pequenos, quadros pintados à óleo, e vários báus enfileirados. O mais surpreendente pequenas mesas de madeira maciça com armas antigas, mosquetões,espadas, roupas de tripulação de navios bem conservadas, pratarias, louças, alguns livros, e arreios para cavalos.
____ Meu amor, ganhamos um Museu de História! E o que será que há nesses báus? Algum tesouro?
Falta menos de meia-hora para Anita e Ricardo chegarem da aula. Notou que a tampa do alçapão é de ferro, bem pesada? Se alguém empurrar nós ficaremos presos. Deve haver uma outra entrada para estes salões. Quer abrir os báus?
____Gostaria muito e ao mesmo tempo estou assustado! Tudo está muito bem conservado aqui embaixo. E quero te contar um segredo. Outro dia no jardim o rastelo de grama puxou um cordão! Veja estou com ele no bolso: - um cordão de ouro! Queria te dar de sempre no seu aniversário! E agora com este paraíso, o que iremos fazer?
____Eu quero este paraíso prá mim! respondeu Zuca
____ Querida , você sabe o que é esta Ilha chamada de Ilha dos Marrecos ? Ela inteira é uma concessão Federal assim com qualquer arquipélago que vem a ser um conjunto de Ilhas. Já leu sobre o arquipélago de Fernando de Noronha?
____Aonde você quer chegar? João ?
____Fico feliz, muito feliz com a descoberta deste lugar aqui bem debaixo do nosso nariz. Porém, o Governo pode requisitar a Ilha inteira em uma situação de emergência, tipo, uma guerra ou conflito territorial, e portanto, nada, absolutamente nada é nosso. Tudo é uma concessão! Claro que podemos explorar a Ilha com turismo, e estas obras entram nessa classificação. Precisamos conversar com outras pessoas, mas pessoas da mais estrita confiança. Eu nem vou abrir esses baús, por enquanto. E seria bom pegar alguns lençóis velhos, se você tiver, e cobrir tudo. Não comente ainda com Anita e Ricardo. Guarde segredo absoluto. Fique, meu amor, com o colar. Só peço que você guarde ele bem guardado. Se quiser usar me avise, não podemos chamar a atenção. Compreende isso?
A campainha tocou. Dona Joana olhou um pouco assustada para João, dizendo:
__Anita e Ricardo chegaram, apague a luz e vamos subir depressa, jogar um tapete sobre o alçapão. E continuar raspando os tacos, quer dizer, você continua. Eu vou abrir a porta. Fique tranquilo João, eu entendi perfeitamente. Depois, com calma, a gente resolve esta situação!
João Lucas deu uma outra olhada nos salões, admirando a descoberta. Balançava a cabeça como que dizendo para si mesmo:__ Inacreditável!
Seu último pensamento sobre o local foi a respeito de saber de onde vinha a origem da energia elétrica que possibilitou aquela iluminação subterrânea?
Ao subirem para o quarto e ajeitarem a cama de volta, olharam-se mutuamente para suas roupas e ocultar vestígios, algo que denunciasse, até o cheiro. Com sinais de polegar erguido ficaram mais calmos. João voltou a raspar o chão, e rindo à toa com a memória acesa pelas últimas imagens ali sob os seus pés, imaginava o que poderia haver nos báus. Pena que Anita e Ricardo voltaram logo da escola. Dia seguinte eles teriam mais uma aula, e teriam tempo suficiente para retornarem e investigarem melhor.
Enquanto isso, Joana abriu a porta ajeitando os cabelos e o vestido, instintivamente batendo para tirar alguma poeira, poeira que não havia, não houve tempo de empoeirar-se, nem ela e nem João.
____Oi meus amores! Vocês vieram mais cedo, o que houve?
____Mãe! Mais cedo que nada, viemos no horário de sempre. Seu relógio deve estar errado.
Por acaso Joana ao olhar as horas interrompeu o funcionamento do relógio, um mini relógio preso a um outro colar de ouro.
____Olhe só, você acertou em cheio. O relógio parou às 03:30 hrs Que hora são agora?
____ Ei, vamos ficar parados aqui na porta? Disse o filho, Ricardo
____Oi filho! Deu um beijo. Beijos os dois. Entrem , está esfriando! Vou fazer chocolate quente. O meu chocolate é muito melhor que o de Monte Alvino!
____Hummm chocolate quente é uma boa ideia! Cadê o Pai, perguntou Ricardo.
____Seu Pai esta lixando o assoalho dos quartos. Evitem respirar a poeira. Usem máscaras! Na mesa da cozinha tem algumas na caixa de sapato, aquela caixa de sapato amarela.
Os dois correram por entre os quartos! Procurando o Pai? Ao contrário, apostaram para ver quem chegaria primeiro ao banheiro. Anita chegou primeiro, dando risadas, e trancou a porta. Ricardo reclamou: ___Vê se não demora, estou apertado!
No quarto ao lado o Pai divertia-se ouvindo a pirraça dos filhos.
___Cadê a educação que eu dei à vocês?
___Boa tarde Pai! Benção!
___Deus abençoe! Pode ficar ai no corredor, tem muita poeira! Disse senhor João Lucas, empurrando o tapete um pouco mais para debaixo da cama, porque uma ponta do alçapão estava descoberta.
De dentro do banheiro, Anita gritou : Benção, Pai !
___Deus também te abençoe, depois você me cumprimenta direito!
____''Tá'' bem ! respondeu
____''Pô'' Anita, que demora. Novamente reclamou Ricardo trançando as pernas.
____Calma! Acabei de entrar. '' Tô terminando'' ! Ouvia-se o barulho da torneira aberta e Anita lavando as mãos e acionando a descarga, antiga, com caixa suspensa, puxando uma cordinha de nylon. Assim que saiu, levou um trombaço do irmão que literalmente invadiu dizendo : ''Licença''! ''Licença''! E fechou a porta atrás de si. Praticamente batendo, o que deixou o Pai nervoso.
____ Precisa bater a porta dessa maneira, grandão?
____ Desculpe, aehhhh, foi mal!
____ Filha, traduza o que seu irmão falou.
____ Ele pediu desculpas, Pai!
Terminando de limpar aquele quarto ele trancou usando um molho de chaves que trazia `a cintura.
____Como foi a aula de hoje? Alguma novidade?
____Foi legal, a gente mergulhou aqui perto, quer dizer, nem tão perto. Lá na lagoa central. Conhecemos uma caverna . Você sabia que há mais de uma caverna na lagoa? Nosso instrutor comentou que uma delas tem aproximadamente 20 quilômetros, e é exatamente a distância da escola até aqui. Deve ser espetacular. A caverna que visitamos é a menor delas. Ao todo, o instrutor informou que são 8(oito) cavernas. Essa caverna mais longa ele disse que estava lacrada. Parece que no passado aconteceu um acidente. Quando a gente perguntou o que tinha acontecido, ele mudou de conversa.
___É, esse lance, ai foi bem sinistro, Pai. Falou Ricardo enxugando as mãos já saindo do banheiro.
___Escuta...ô camaradinha! Conversa direito comigo, tá legal? Insistiu o Pai com Ricardo.
Ricardo sorriu, entendendo o recado!
___Então...nós achamos essa parada...desculpe, achamos essa história muito estranha, sabe?
___Agora entendi a conversa! Verdade, Seu instrutor parece que sabe mais do que contou. Ele tem fotos das cavernas, pelo menos?
___Olha Pai, fotos são poucas. Porém ele tem filmagens dos mergulhos. Até dessa caverna maior.
Realmente estranha a conversa. Vale à pena investigar. Pensou Senhor João Lucas.
Da cozinha D. Joana chamou todos para tomarem o chocolate quente.
Senhor João também lavou as mãos e veio com os filhos para a mesa. Antes de chegar à cozinha sentiu uma vertigem e aquele corredor parecia imenso, uma sensação de claustrofobia. Os filhos não perceberam o mal estar dele. A mãe segurando o fervedor com o leite quente já misturado ao chocolate olhou para eles que se aproximavam e viu o marido cambaleante, quase que desmaiando.
___João! O que foi João ! Acudam seu Pai, pelo amor de Deus !
Os jovens retrocederam a tempo de o segurarem e impedir que fosse ao chão. Trouxeram-no devagar até o sofá. Joana pegou um copo de água e com a tampa de uma panela abanava o ar na direção de seu rosto. Naquele estado de quase inconsciência João Lucas ouvia as vozes mas não distinguia uma da outra. Conseguiu beber a água, e até engasgou. Isso o ajudou a recobrar-se, lentamente foi respirando melhor, e perguntava:
____ O que aconteceu? Eu lembro de caminhar atrás de Anita e Ricardo, e de repente minha visão ficou dupla, senti tremores, um esquecimento...um branco na memória.
___Memória? Olhe prá mim, Pai...qual é meu nome?
____Ricardo!
____E o meu ?
____Anita
____Lembra quem eu sou? Perguntou temerosa, Joana
____Hummmm....espere um momento.
____Ai Homem...não brinca comigo, disse chorosa...e com lágrimas.
____Você é a mulher mais linda do mundo! Joana! O meu grande amor!
Diacho... João! Nunca mais assuste a gente!
Melhor telefonar ao médico, e se for preciso iremos ao Pronto Socorro do Hospital.
____Onde está a agenda! Ahhh aqui, achei! Dr...Dr. Gustavo..
Afastou-se a um canto da sala e explicou tudo o que aconteceu. E na cozinha João voltou a ser a pessoa alegre de sempre compartilhando o chocolate quente com os filhos.
A conversa ao telefone foi rápida. O que Anita e Ricardo não supunham era que Joana contou ao médico que o marido estivera raspando o assoalho dos quartos da casa o dia todo. Conclusão do Médico:
Uma possível reação alérgica à poeira. Receitou um anti alérgico, e que ele bebesse alguns copos de leite morno, além de deixar o ambiente bem ventilado, abrir janelas e portas.
____ Obrigado! Doutor Gustavo! Uma boa noite!
____ Querida , você sabe o que é esta Ilha chamada de Ilha dos Marrecos ? Ela inteira é uma concessão Federal assim com qualquer arquipélago que vem a ser um conjunto de Ilhas. Já leu sobre o arquipélago de Fernando de Noronha?
____Aonde você quer chegar? João ?
____Fico feliz, muito feliz com a descoberta deste lugar aqui bem debaixo do nosso nariz. Porém, o Governo pode requisitar a Ilha inteira em uma situação de emergência, tipo, uma guerra ou conflito territorial, e portanto, nada, absolutamente nada é nosso. Tudo é uma concessão! Claro que podemos explorar a Ilha com turismo, e estas obras entram nessa classificação. Precisamos conversar com outras pessoas, mas pessoas da mais estrita confiança. Eu nem vou abrir esses baús, por enquanto. E seria bom pegar alguns lençóis velhos, se você tiver, e cobrir tudo. Não comente ainda com Anita e Ricardo. Guarde segredo absoluto. Fique, meu amor, com o colar. Só peço que você guarde ele bem guardado. Se quiser usar me avise, não podemos chamar a atenção. Compreende isso?
A campainha tocou. Dona Joana olhou um pouco assustada para João, dizendo:
__Anita e Ricardo chegaram, apague a luz e vamos subir depressa, jogar um tapete sobre o alçapão. E continuar raspando os tacos, quer dizer, você continua. Eu vou abrir a porta. Fique tranquilo João, eu entendi perfeitamente. Depois, com calma, a gente resolve esta situação!
João Lucas deu uma outra olhada nos salões, admirando a descoberta. Balançava a cabeça como que dizendo para si mesmo:__ Inacreditável!
Seu último pensamento sobre o local foi a respeito de saber de onde vinha a origem da energia elétrica que possibilitou aquela iluminação subterrânea?
Ao subirem para o quarto e ajeitarem a cama de volta, olharam-se mutuamente para suas roupas e ocultar vestígios, algo que denunciasse, até o cheiro. Com sinais de polegar erguido ficaram mais calmos. João voltou a raspar o chão, e rindo à toa com a memória acesa pelas últimas imagens ali sob os seus pés, imaginava o que poderia haver nos báus. Pena que Anita e Ricardo voltaram logo da escola. Dia seguinte eles teriam mais uma aula, e teriam tempo suficiente para retornarem e investigarem melhor.
Enquanto isso, Joana abriu a porta ajeitando os cabelos e o vestido, instintivamente batendo para tirar alguma poeira, poeira que não havia, não houve tempo de empoeirar-se, nem ela e nem João.
____Oi meus amores! Vocês vieram mais cedo, o que houve?
____Mãe! Mais cedo que nada, viemos no horário de sempre. Seu relógio deve estar errado.
Por acaso Joana ao olhar as horas interrompeu o funcionamento do relógio, um mini relógio preso a um outro colar de ouro.
____Olhe só, você acertou em cheio. O relógio parou às 03:30 hrs Que hora são agora?
____ Ei, vamos ficar parados aqui na porta? Disse o filho, Ricardo
____Oi filho! Deu um beijo. Beijos os dois. Entrem , está esfriando! Vou fazer chocolate quente. O meu chocolate é muito melhor que o de Monte Alvino!
____Hummm chocolate quente é uma boa ideia! Cadê o Pai, perguntou Ricardo.
____Seu Pai esta lixando o assoalho dos quartos. Evitem respirar a poeira. Usem máscaras! Na mesa da cozinha tem algumas na caixa de sapato, aquela caixa de sapato amarela.
Os dois correram por entre os quartos! Procurando o Pai? Ao contrário, apostaram para ver quem chegaria primeiro ao banheiro. Anita chegou primeiro, dando risadas, e trancou a porta. Ricardo reclamou: ___Vê se não demora, estou apertado!
No quarto ao lado o Pai divertia-se ouvindo a pirraça dos filhos.
___Cadê a educação que eu dei à vocês?
___Boa tarde Pai! Benção!
___Deus abençoe! Pode ficar ai no corredor, tem muita poeira! Disse senhor João Lucas, empurrando o tapete um pouco mais para debaixo da cama, porque uma ponta do alçapão estava descoberta.
De dentro do banheiro, Anita gritou : Benção, Pai !
___Deus também te abençoe, depois você me cumprimenta direito!
____''Tá'' bem ! respondeu
____''Pô'' Anita, que demora. Novamente reclamou Ricardo trançando as pernas.
____Calma! Acabei de entrar. '' Tô terminando'' ! Ouvia-se o barulho da torneira aberta e Anita lavando as mãos e acionando a descarga, antiga, com caixa suspensa, puxando uma cordinha de nylon. Assim que saiu, levou um trombaço do irmão que literalmente invadiu dizendo : ''Licença''! ''Licença''! E fechou a porta atrás de si. Praticamente batendo, o que deixou o Pai nervoso.
____ Precisa bater a porta dessa maneira, grandão?
____ Desculpe, aehhhh, foi mal!
____ Filha, traduza o que seu irmão falou.
____ Ele pediu desculpas, Pai!
Terminando de limpar aquele quarto ele trancou usando um molho de chaves que trazia `a cintura.
____Como foi a aula de hoje? Alguma novidade?
____Foi legal, a gente mergulhou aqui perto, quer dizer, nem tão perto. Lá na lagoa central. Conhecemos uma caverna . Você sabia que há mais de uma caverna na lagoa? Nosso instrutor comentou que uma delas tem aproximadamente 20 quilômetros, e é exatamente a distância da escola até aqui. Deve ser espetacular. A caverna que visitamos é a menor delas. Ao todo, o instrutor informou que são 8(oito) cavernas. Essa caverna mais longa ele disse que estava lacrada. Parece que no passado aconteceu um acidente. Quando a gente perguntou o que tinha acontecido, ele mudou de conversa.
___É, esse lance, ai foi bem sinistro, Pai. Falou Ricardo enxugando as mãos já saindo do banheiro.
___Escuta...ô camaradinha! Conversa direito comigo, tá legal? Insistiu o Pai com Ricardo.
Ricardo sorriu, entendendo o recado!
___Então...nós achamos essa parada...desculpe, achamos essa história muito estranha, sabe?
___Agora entendi a conversa! Verdade, Seu instrutor parece que sabe mais do que contou. Ele tem fotos das cavernas, pelo menos?
___Olha Pai, fotos são poucas. Porém ele tem filmagens dos mergulhos. Até dessa caverna maior.
Realmente estranha a conversa. Vale à pena investigar. Pensou Senhor João Lucas.
Da cozinha D. Joana chamou todos para tomarem o chocolate quente.
Senhor João também lavou as mãos e veio com os filhos para a mesa. Antes de chegar à cozinha sentiu uma vertigem e aquele corredor parecia imenso, uma sensação de claustrofobia. Os filhos não perceberam o mal estar dele. A mãe segurando o fervedor com o leite quente já misturado ao chocolate olhou para eles que se aproximavam e viu o marido cambaleante, quase que desmaiando.
___João! O que foi João ! Acudam seu Pai, pelo amor de Deus !
Os jovens retrocederam a tempo de o segurarem e impedir que fosse ao chão. Trouxeram-no devagar até o sofá. Joana pegou um copo de água e com a tampa de uma panela abanava o ar na direção de seu rosto. Naquele estado de quase inconsciência João Lucas ouvia as vozes mas não distinguia uma da outra. Conseguiu beber a água, e até engasgou. Isso o ajudou a recobrar-se, lentamente foi respirando melhor, e perguntava:
____ O que aconteceu? Eu lembro de caminhar atrás de Anita e Ricardo, e de repente minha visão ficou dupla, senti tremores, um esquecimento...um branco na memória.
___Memória? Olhe prá mim, Pai...qual é meu nome?
____Ricardo!
____E o meu ?
____Anita
____Lembra quem eu sou? Perguntou temerosa, Joana
____Hummmm....espere um momento.
____Ai Homem...não brinca comigo, disse chorosa...e com lágrimas.
____Você é a mulher mais linda do mundo! Joana! O meu grande amor!
Diacho... João! Nunca mais assuste a gente!
Melhor telefonar ao médico, e se for preciso iremos ao Pronto Socorro do Hospital.
____Onde está a agenda! Ahhh aqui, achei! Dr...Dr. Gustavo..
Afastou-se a um canto da sala e explicou tudo o que aconteceu. E na cozinha João voltou a ser a pessoa alegre de sempre compartilhando o chocolate quente com os filhos.
A conversa ao telefone foi rápida. O que Anita e Ricardo não supunham era que Joana contou ao médico que o marido estivera raspando o assoalho dos quartos da casa o dia todo. Conclusão do Médico:
Uma possível reação alérgica à poeira. Receitou um anti alérgico, e que ele bebesse alguns copos de leite morno, além de deixar o ambiente bem ventilado, abrir janelas e portas.
____ Obrigado! Doutor Gustavo! Uma boa noite!
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