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domingo, 7 de junho de 2020

Décimo nono capítulo - O alçapão debaixo da cama!



                    Os primos de José Simão e D.Teresa faziam limpeza na casa para recebê-los naquele fim de semana. A casa tinha 4 (quatro) cômodos,  um banheiro ao fundo do corredor que dividia os cômodos, tendo logo a frente à entrada uma cozinha espaçosa , uma sala com  lareira, e no quintal uma churrasqueira toda construida em blocos de granito. Essa área era coberta, feita de alvenaria rústica, bem antiga. Azulejos portugueses  revestiam parcialmente as paredes e traziam desenhos de fragatas, naus e caravelas, navegando ao redor de uma ilha que ao que tudo indicava era a Ilha dos Marrecos. Outros azulejos adornavam a lavanderia com tanquinho de pedra.

               Eles gostaram muito da localização da casa que chegou a ser base de um antigo farol, portanto, a visão que desfrutavam era belíssima, desde o nascer ao pôr do sol.     Para chegar nessa parte alta da Ilha  podia-se escolher dois caminhos, por terra  e por mar. Quando a imobiliária fez a oferta da casa, João Lucas e Joana ou mais conhecida por tia Zuca olharam as fotos dentro de uma pequena pasta, passaram aos filhos que comentavam sobre o quintal todo ajardinado, a área da churrasqueira, quadra de futebol de salão, e até uma pequena piscina com espelho de água em direção ao Oceano.

                   De posse de um antigo escovão oval com  palha de aço na extremidade, João Lucas raspava o taco do último cômodo antes do banheiro.  No dia anterior Joanna recolheu as roupas das camas, bem como dois jogos de toalhas , deixou de molho na máquina de lavar, tendo o cuidado de separar as roupas mais pesadas, ou melhor, as roupas mais difíceis de lavar e colocou no tanquinho de pedra.  Na dispensa de produtos de limpeza apanhou dois sabonetes a mais para abastecer a saboneteira do chuveirinho perto da piscina.   Era mais prático que tomassem um primeiro banho do lado de fora, e outro mais completo no interior da casa.     João Lucas em noites mais quentes preferia esse chuveirinho.  Junto com Joana ele lavou a quadra, e toda área externa e faziam isso com certa regularidade, porque os ventos deixavam cair muitas folhas, pelo chão e teto da casa.  

 ___ O que é isto aqui? Comentou João olhando para a esposa.
___ Você já tinha percebido essa saliência no assoalho de madeira?

____Não João, não tinha percebido.
____Por favor traga a lanterna , aqui neste quarto a luz é muito fraca, e estranho eu não ter percebido a saliência durante o dia. Traz minha caixa de ferramenta, será preciso, porque tenho um palpite.

___Joana pegou rapidamente a caixa, e dela João retirou um pequena faquinha de cabo de madeira entalhada.     ___Esta faquinha foi um presente de meu avô.

         Usando a faquinha ele raspou um pedaço da saliência, e notou que uma fresta surgiu em paralelo aos tacos do assoalho. Bem simétrica.Prosseguiu raspando sob o olhar curioso de ''Zuca'' !

___Gente! O que será isso ? comentou 

                     Quando terminou de raspar, João notou que havia obtido um quadro exato, e mais ainda, que tratava-se de uma tampa de ferro camuflada.    
___Esta vendo? É uma tampa de ferro!  Não tem cheiro de esgoto. Poderia ser uma saída de esgoto, mas é outra coisa. 
                      Ele pegou um pé de cabra e ergueu com certa dificuldade, porque pesava bastante.
         Apanhou a lanterna e mirou após retirar a tampa.
____É um alçapão! Ajude-me ! Afaste comigo esta cama.

 ____ Tem uma pequena escada. Vou descer com a lanterna.   Quero que você procure nos documentos de propriedade a planta. Se há alguma coisa sobre este alçapão.  Parece muito antigo.

           João descendo a escada chegou a tossir um pouco, incomodado com o cheiro forte de mofo.  Tateava pela parede e pelo corrimão da escada, e iluminando em volta encontrou um interruptor de luz quase ao final da escada.  Testou o interruptor, e para sua surpresa um corredor surgiu todo iluminado à sua frente.

____Joana, Joana, venha aqui. Você precisa ver isto com seus próprios olhos!

        A esposa voltou segurando um tubo com os documentos guardados dentro dele.   Notou a intensa luminosidade que vinha de sob a cama, que vinha daquele misterioso alçapão.  Iniciou a descida, e enquanto isso olhou no seu colar relógio se já não estava na hora de Anita e o irmão chegarem com a perua da escola de mergulho.

____João ! Essa luz não vem da sua lanterna, estou certa?
____Não é incrível ? Incrível mesmo é o que tem aqui em baixo.  Acho que estamos ricos! Falou sem pestanejar com entusiasmo, porém comedido, moderado.

         Joana ao descer segurou com firmeza nas mãos do marido, e olhava de olhos arregalados toda aquela maravilha !

           Havia um imenso salão sob o quarto e ele dividia-se em mais dois salões pequenos. Pendurados por toda a extensão quadros pintados, quadro grandes e pequenos, quadros pintados à óleo, e vários báus enfileirados.   O mais surpreendente pequenas mesas de madeira maciça com armas antigas, mosquetões,espadas, roupas de tripulação de navios bem conservadas, pratarias, louças, alguns livros, e arreios para cavalos.

____ Meu amor, ganhamos um Museu de História!   E o que será que há nesses báus?  Algum tesouro?

         Falta menos de meia-hora para Anita e Ricardo chegarem da aula.   Notou que a tampa do alçapão é de ferro, bem pesada?   Se alguém empurrar nós ficaremos presos.   Deve haver uma outra entrada para estes salões.    Quer abrir os báus?

____Gostaria muito e ao mesmo tempo estou assustado!  Tudo está muito bem conservado aqui embaixo.  E quero te contar um segredo.   Outro dia no jardim o rastelo de grama puxou um cordão!  Veja estou com ele no bolso: - um cordão de ouro!  Queria te dar de sempre no seu aniversário! E agora com este paraíso, o que iremos fazer?

____Eu quero este paraíso prá mim!  respondeu Zuca

____ Querida , você sabe o que é esta Ilha chamada de Ilha dos Marrecos ? Ela inteira é uma concessão Federal assim com qualquer arquipélago  que vem a ser um conjunto de Ilhas.  Já leu sobre o arquipélago de Fernando de Noronha?

____Aonde você quer chegar?  João ?

____Fico feliz, muito feliz com a descoberta deste lugar aqui bem debaixo do nosso nariz.  Porém, o Governo pode requisitar a Ilha inteira em uma situação de emergência, tipo, uma guerra ou conflito territorial, e portanto, nada, absolutamente nada é nosso. Tudo é uma concessão! Claro que podemos explorar a Ilha com turismo, e estas obras entram nessa classificação.    Precisamos conversar com outras pessoas, mas pessoas da mais estrita confiança.    Eu nem vou abrir esses baús, por enquanto. E seria bom pegar alguns lençóis velhos, se você tiver, e cobrir tudo.   Não comente ainda com Anita e Ricardo.   Guarde segredo absoluto.  Fique, meu amor, com o colar. Só peço que você guarde ele bem guardado.  Se quiser usar me avise, não podemos chamar a atenção. Compreende isso?

A campainha tocou. Dona Joana olhou um pouco assustada para João, dizendo:

 __Anita e Ricardo chegaram, apague a luz e vamos subir depressa, jogar um tapete sobre o alçapão.  E continuar raspando os tacos, quer dizer, você continua.  Eu vou abrir a porta.   Fique tranquilo João, eu entendi perfeitamente.  Depois, com calma, a gente resolve esta situação!  
 
       João Lucas deu uma outra olhada nos salões, admirando a descoberta. Balançava a cabeça como que dizendo para si mesmo:__ Inacreditável!  

              Seu último pensamento sobre o local foi a respeito de saber de onde vinha a origem da energia elétrica que possibilitou aquela iluminação subterrânea?

              Ao subirem para o quarto e ajeitarem a cama de volta, olharam-se mutuamente para suas roupas e ocultar vestígios, algo que denunciasse, até o cheiro.   Com sinais de polegar erguido ficaram mais calmos.  João voltou a raspar o chão,  e rindo à toa com a memória acesa pelas últimas imagens ali sob os seus pés, imaginava o que poderia haver nos báus. Pena que Anita e Ricardo voltaram logo da escola. Dia seguinte eles teriam mais uma aula, e teriam tempo suficiente para retornarem e investigarem melhor.

              Enquanto isso, Joana abriu a porta ajeitando os cabelos e o vestido, instintivamente batendo para tirar alguma poeira, poeira que não havia, não houve tempo de empoeirar-se, nem ela e nem João.

____Oi meus amores! Vocês vieram mais cedo, o que houve?

____Mãe! Mais cedo que nada, viemos no horário de sempre. Seu relógio deve estar errado.

                  Por acaso  Joana ao olhar as horas interrompeu o funcionamento do relógio, um mini relógio preso a um outro colar de ouro.

____Olhe só, você acertou em cheio. O relógio parou às 03:30 hrs  Que hora são agora?

____ Ei, vamos ficar parados aqui na porta?  Disse o filho, Ricardo

____Oi filho!   Deu um beijo. Beijos os dois.  Entrem , está esfriando!  Vou fazer chocolate quente. O meu chocolate é muito melhor que o de Monte Alvino!

____Hummm chocolate quente é uma boa ideia!  Cadê o Pai, perguntou Ricardo.

____Seu Pai esta lixando o assoalho dos quartos. Evitem respirar a poeira.  Usem máscaras! Na mesa da cozinha tem algumas na caixa de sapato, aquela caixa de sapato amarela.

               Os dois correram por entre os quartos! Procurando o Pai? Ao contrário, apostaram para ver quem chegaria primeiro ao banheiro. Anita chegou primeiro, dando risadas, e trancou a porta.  Ricardo reclamou:  ___Vê se não demora, estou apertado!

                No quarto ao lado o Pai divertia-se ouvindo a pirraça dos filhos.
___Cadê a educação que eu dei à vocês?

___Boa tarde Pai! Benção!

___Deus abençoe!  Pode ficar ai no corredor, tem muita poeira! Disse senhor João Lucas, empurrando o tapete um pouco mais para debaixo da cama, porque uma ponta do alçapão estava descoberta.

        De dentro do banheiro, Anita gritou :   Benção, Pai !
___Deus também te abençoe, depois você me cumprimenta direito!

____''Tá'' bem ! respondeu

____''Pô'' Anita, que demora.  Novamente reclamou Ricardo trançando as pernas.

____Calma! Acabei de entrar. '' Tô terminando'' !  Ouvia-se o barulho da torneira aberta e Anita lavando as mãos e acionando a descarga, antiga, com caixa suspensa, puxando uma cordinha de nylon. Assim que saiu, levou um trombaço  do irmão que literalmente invadiu dizendo :   ''Licença''! ''Licença''!  E fechou a porta atrás de si. Praticamente batendo, o que deixou o Pai nervoso.

____ Precisa bater a porta dessa maneira, grandão?
____ Desculpe, aehhhh, foi mal!

____ Filha, traduza o que seu irmão falou.
____ Ele pediu desculpas, Pai!

                 Terminando de limpar aquele quarto ele trancou usando um molho de chaves que trazia `a cintura.

____Como foi a aula de hoje? Alguma novidade?

____Foi legal, a gente mergulhou aqui perto, quer dizer, nem tão perto. Lá na lagoa central. Conhecemos uma caverna . Você sabia que há mais de uma caverna na lagoa?  Nosso instrutor comentou que uma delas tem aproximadamente 20 quilômetros, e é exatamente a distância da escola até aqui. Deve ser espetacular.  A caverna que visitamos é a menor delas. Ao todo, o instrutor informou que são 8(oito) cavernas. Essa caverna mais longa ele disse que estava lacrada. Parece que no passado aconteceu um acidente.  Quando a gente perguntou o que tinha acontecido, ele mudou de conversa.

___É, esse lance, ai foi bem sinistro, Pai.  Falou Ricardo enxugando as mãos já saindo do banheiro.

___Escuta...ô camaradinha!  Conversa direito comigo, tá legal?   Insistiu o Pai com Ricardo.

              Ricardo sorriu, entendendo o recado!
___Então...nós achamos essa parada...desculpe,  achamos essa história muito estranha, sabe?

___Agora entendi a conversa!   Verdade, Seu instrutor parece que sabe mais do que contou.   Ele tem fotos das cavernas, pelo menos?
___Olha Pai, fotos são poucas. Porém ele tem filmagens dos mergulhos. Até dessa caverna maior.

             Realmente estranha a conversa. Vale à pena investigar. Pensou Senhor João Lucas.

         Da cozinha D. Joana chamou todos para tomarem o chocolate quente.

            Senhor João também lavou as mãos e veio com os filhos para a mesa. Antes de chegar à cozinha sentiu uma vertigem e aquele corredor parecia imenso, uma sensação de claustrofobia. Os filhos não perceberam o mal estar dele.  A mãe segurando o fervedor com o leite quente já misturado ao chocolate olhou para eles que se aproximavam e viu o marido cambaleante, quase que desmaiando.

___João!   O que foi João !  Acudam seu Pai, pelo amor de Deus !

               Os jovens retrocederam a tempo de o segurarem e impedir que fosse ao chão. Trouxeram-no devagar até o sofá. Joana pegou um copo de água e com a tampa de uma panela abanava o ar na direção de seu rosto.    Naquele estado de quase inconsciência João Lucas ouvia as vozes mas não distinguia uma da outra.    Conseguiu beber a água, e até engasgou.  Isso o ajudou a recobrar-se, lentamente foi respirando melhor, e perguntava:
____ O que aconteceu?  Eu lembro de caminhar atrás de Anita e Ricardo, e de repente minha visão ficou dupla, senti tremores, um esquecimento...um branco na memória. 
___Memória?   Olhe prá mim, Pai...qual é meu nome?
____Ricardo!
____E o meu ?
____Anita
____Lembra quem eu sou? Perguntou temerosa, Joana
____Hummmm....espere um momento.
____Ai Homem...não brinca comigo, disse chorosa...e com lágrimas.
____Você é a mulher mais linda do mundo!  Joana! O meu grande amor!

              Diacho... João! Nunca mais assuste a gente!
          Melhor telefonar ao médico, e se for preciso iremos ao Pronto Socorro do Hospital.
____Onde está a agenda!  Ahhh aqui, achei!  Dr...Dr. Gustavo..

             Afastou-se a um canto da sala e explicou tudo o que aconteceu. E na cozinha João voltou a ser a pessoa alegre de sempre compartilhando o chocolate quente com os filhos.

             A conversa ao telefone foi rápida. O que Anita e Ricardo não supunham era que Joana contou ao médico que o marido estivera raspando o assoalho dos quartos da casa o dia todo.  Conclusão do Médico:
Uma possível reação alérgica à poeira.  Receitou um anti alérgico, e que ele bebesse alguns copos de leite morno, além de deixar o ambiente bem ventilado, abrir janelas e portas.

 ____ Obrigado! Doutor Gustavo! Uma boa noite!

                  


                 




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