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sexta-feira, 26 de junho de 2020

Trigésimo capítulo - No percurso para a Ilha !



                    D.Teresa permanecia nervosa o tempo todo. Márcia a olhava com preocupação dentro do carro. As meninas ladeavam a mãe que olhava para os lados, realmente agitada.  Chegava a incomodar o pai que olhava pelo retrovisor de tanto que ela se movimentava dentro da caminhonete.
___Teresa, você está nervosa!  O que foi? Perguntou senhor José.
___ Não é nada! É que faz tanto tempo que não saímos da Vila que estou estranhando a mudança da rotina, e ainda estou com sono.   E fico puxando pela memória.  Será que não esqueci alguma coisa?   Márcia você pegou as moquecas?
___Peguei Mãe!  Relaxe.  As sacolas estão aqui. E os tuperware dos sanduíches eu não esqueci, nem as garrafas de suco, a senhora quer um copo? Eu pego prá Senhora.
___No Saveiro eu vou aceitar.... José, você pegou as chaves? Lembrei!
___Estão comigo aqui no console!  Agora fique calma, eu preciso prestar atenção na estrada, ainda está um pouco escuro deste lado do caminho até o porto. Pare de se agitar ai no banco!   Quer vir aqui na frente? Trocar de lugar?
___Sim....eu vou ficar mais calma ao seu lado!
___ Ahhhh....eu sabia !  Você gosta de vir na janelinha!  Vou estacionar, seja rapida.  Gervásio, eu lamento, troque de lugar com sua mãe. É só por hoje.   Mas vou avisando que não tem janelinha no Saveiro, a não ser que você siga pilotando a embarcação!  Disse rindo
___Muito engraçadinho!   Gervásio a ajudou a descer e a ajudou depois a sentar no banco de passageiro.
      Márcia sabia que o motivo não era a janelinha.  Ela sabia que a mãe estava controlando sua língua para não contar prá todos que ela tinha recebido o pedido de casamento de Jorge. Era esse o motivo do seu nervosismo!   De qualquer forma sentia-se grata por poder contar com sua ajuda, e o seu silêncio, só não sabia quanto tempo iria durar.  Tinha que durar ao menos aquele final de semana.
         D.Teresa respirou um pouco aliviada. Quando sentada lá atrás, sentia-se oprimida, não estava à vontade com tantos pensamentos na cabeça.   Ficou feliz em sair da Vila, ficou mesmo!   Aquele passeio ia fazer bem a todos.  Foram dois meses bem puxados, e muita coisa acontecendo com a cidade, com a família, com seus amigos e parentes.   Julgavam que ela fosse uma fortaleza!  Ledo engano. Estava a ponto de desabar.  Encontrar os primos ia lhe fazer um bem enorme!
     Não demorou para chegarem ao porto, e estacionarem a caminhonete na vaga reservada em frente ao Saveiro Fortuna.  Senhor José Simão olhou carinhosamente para o rosto de D.Teresa; ele a conhecia como a palma da mão, a mão que ele pousou sobre a dele e beijou respeitosamente como quem beija a mão de uma Rainha.  A única mulher que amou verdadeiramente em sua vida. A mulher que na sua juventude e sempre trabalhando na pesca conheciam-se desde meninos ajudando, respectivamente, os pais naquele trabalho, diuturnamente.   A mulher que lhe deu a alegria de ser o Pai de três filhos lindos e maravilhosos.  José naquela manhã sentia-se muito emocionado e agradecido à vida. Era como se todos os sacrifícios tivessem valido à pena.  Seu coração talvez estivesse dando sinais de uma em breve despedida. Qualquer emoção dava-lhe uma pontadinha no canto, e ele suspirava fundo disfarçando o mais que podia.  Na cooperativa olhando o filho discursar para aquela plateia e vendo pessoas admirando aquele jovem pescador que estava cursando a Universidade, ele sentia um orgulho tão grande, mas tão grande ... Nossa, chega...! Preciso me controlar...por favor Minha Mãezinha do Céu '' me ajude a segurar essa barra'' ( lembrava da música de seu cantor preferido ), essa barra que é amar demais minha esposa e meus filhos.  Ainda quero fazer tanta coisa.   Deixa eu caminhar nessa Ilha com meus primos. Deixa eu curtir esse final de semana, e descobrir os segredos ocultos dessa Ilha.  Quisera que eu pudesse morar aqui com a Teresa e os meninos, o modo que José chamava seus filhos, misturando as meninas e o menino. Claro, meninos como é o gênero HOMEM na Humanidade,  isso sim, a humanidade de ensinar como se pega o peixe na vida!

                   Olhando nos olhos de Teresa ele enxergou toda uma verdade,  que Teresa queria contar alguma coisa para ele e não podia contar ou não queria.  Ele olhou profundamente naqueles brilhinhos cheios de vida e amor, e viu que um fogo divino lhe dizia...'' Tenho novidades!".      Senhor José Simão, o neto do velho Antonio Simão, descendentes dos antigos caiçaras, mestiços de índios Kamaiurá, índios que sabiam ler as estrelas, que sentiam na pele a brisa do tempo avisando de tempestades, ou de vários dias de seca, de muito frio, de pouco peixe.   Senhor José e poucos sabiam disso, exceto sua companheira, decifrava sonhos.   Muitos amigos pescadores vinham conversar em particular com ele, e confidenciavam seus segredos. O próprio Pai lhe contará sobre o salvamento de um menino que ele pegara no colo sob um grande penhasco.    O  velho Simão caminhava na praia e havia uma encosta bem alta, um pouco afastada da orla.   O velho ouviu um canto suave que a brisa do mar ia e vinha, dançando à sua volta, assoviando um chamado, num momento lembrava um passarinho, e noutro uma voz que o puxava para fora e mais próximo daquela encosta.   Era uma sensação boa e ao mesmo tempo de alerta....''venha...venha com cuidado''. Ele não ouvia mas na sua mente as palavras emergiam como as mãos suaves de um anjo a conduzi-lo em direção daquele lugar.    Ele olhava ao redor tentando saber de ''a voz'' ou o que fosse estivesse por perto.   O que ''aquela voz'' queria com ele, e por que ali na junção da areia com a terra , do salgado com o doce aroma do mato, do calor refletido nas águas do alto mar e o orvalho das flores que cresciam por entre as rochas?   Olhava para o alto, e precisava esconder o sol com as mãos para enxergar melhor.   Ouviu um grito e instintivamente abriu os braços em forma de concha, e num átimo se segundo fechou acolhendo uma pequena criança, um menino que assustado cairá de cima de uma árvore, um pé de goiaba que crescia à beira do penhasco. O garoto segurava a preciosa goiaba, menos preciosa que sua vida. Certamente, aquele menino aprenderia a lição.   O coraçãozinho do pequeno quase que saia pela boca de tão assustado que estava e mal acreditando de estar nos braços daquele homem a quem seria eternamente agradecido por ter salvo a sua vida.   

___O Senhor é um Anjo!  falou o menino tremendo...

___ Não, eu não sou um Anjo!  Anjo foi o vento que me trouxe aqui e que fez com que eu abrisse os braços!     Você , garoto, tem um lindo Anjo!  Agradeça à ele!

              José Simão ficou tão absorvido nessa lembrança que precisou ser cutucado para voltar à realidade.   Ele já tinha saído do carro, e estava do outro lado segurando a porta do lado do passageiro, ajudando Teresa a descer.   José tinha herdado o dom de estar atento aos sinais da natureza, sendo que para ele o dom ficou mais forte, no entanto, ''seu'' José, era tímido e muitas vezes recolhia-se na quietude de preparar um cigarrinho de palha, mergulhando no silêncio da noite, e cantando nas noites de lua cheia.   Nem sempre sua sensibilidade o ajudava, principalmente se sentia que algo de ruim ia acontecer. Ás vezes tinha medo de saber demais, e não conseguir mudar o destino. Ninguém pode puder o destino, e o mais triste é ficar conhecendo esse destino. Então, José usava o seu dom apenas para ajudar Teresa na escolha das ervas que ele a ajudava a plantar no quintal de casa.  Uma ocasião ao escolher folhas de hortelã ele viu nas próprias folhas uma casa desabando.  Correu para fora, correu o mais que pode em direção de outra casa. Chamou o morador e sua família para saírem todos, imediatamente.   Assim que, inclusive o cachorro, sai da casa, ela desabou como uma folha é arrancada pelo vento.   E foi um vento, o tal do vento noroeste que atravessou a casa como uma espada afiada.  Foi apenas isto, e mais nada.  Ninguém até hoje conseguia entender porque apenas aquela casa foi derrubada.  Mais uma vez, outro Anjo?
               
                 José Simão aceitava e procurava apenas viver modestamente, orando, vigiando, indo às missas com Teresa, agradecendo e trabalhando. Evitava comentar com outros essas ''coisas'' dele e do pai.   Mas muita gente sabia e respeitava, não duvidava não.  Porque há mistérios, muitos mistérios nesta vida e todos estão sob as mãos de Deus, até mesmo quando acontece coisa ruim...depois Deus, ou alguma coisa, trata de explicar o porquê.   Tem coisas que não adianta...outras a gente consegue saber...é assim mesmo!

____Pai?   O senhor está bem?  
____Âhhh...âhhhh...oi filho, sim estou...Vamos, vamos tirar as coisas pro Saveiro.  Vem tempestade!

____Tempestade?  Tá um céu de brigadeiro!  Sol a pino! Tem certeza!?

____Você me conhece filho, não discuta!   Tire o carro daqui e guarde atrás da Igrejinha dos Pioneiros, sabe onde fica?

___Sei sim...mas vou ter que voltar com a bicicleta do senhor.

___Sim,  isso mesmo,  volte com a bicicleta.  Vai depressa, veja como estou arrepiado!

              Gervásio não discutiu e D.Teresa abraçou-se com as filhas e ela igualmente sentiu os calafrios.

Márcia esboçou uma sensação de enjôo, e conteve-se.

                D.Teresa falou baixinho com a filha. 

___Não vou precisar falar nada para seu Pai. Ele já deve ter percebido alguma coisa sobre você.  Ele é tão discreto sobre ''aquele dom'' que eu mesma acabo esquecendo.  Você viu como ele ficou aéreo? Parecia tomado por uma força estranha. Quando ele fica assim, eu rezo muito, rezo muito!  Mas não tenha medo, isso passa, ele tem proteção de Nossa Senhora.

            Gervásio voltou depressa, entraram todos no Saveiro.

____Filho levante âncora, e solte todas as velas, até aquela maior da proa,  de forma triangular que se estufa e enverga num dos estais do velacho! Aproveitaremos para ir mais velozes.   É a primeira vez que este Saveiro vai usar a ''grandona', disse referindo-se á bujarrona !

               ____Suba até àquela amarras e solte uma de cada vez.   Eu vou manobrar o Saveiro para fora do estreito e aprumar na direção da Ilha. Prepare-se e amarre-se pela cintura, dentro do cesto no meio do mastro tem cordas. Use-as para prender-se bem.

____Valha-me Nossa Senhora dos Navegantes!   rezou D.Teresa que levou as filhas para dentro do Saveiro Fortuna e desceram um alçapão levando as sacolas.


____Puxa vida, aqui é grande Mãe! Olhando de fora a gente não tem essa visão.

____Filhas, rezem comigo!   Não tenho bom pressentimento!

       Dentro dos aposentos do Saveiro duas pequenas janelas divisavam o horizonte do mar ainda de quem olha do porto.  Elas podiam ver que o píer ainda estava rente, e aos poucos o Saveiro foi afastando-se.

     Carla prendeu os cabelos com um elástico, e deu outros para a mãe e a irmã prenderem os seus em coques graciosos que a seguir forma cobertos com lenços coloridos.

D.Teresa pegou de um terço guardado na bolsa e iniciaram o Creio em Deus Pai!

       Assustaram-se com o estalo forte das velas e de Gervásio no alto do mastro gritando ao Pai:

____Estica as amarras meu Pai à estibordo e bombordo. Estamos velejando! Uhuuuuuuuuuu

Gritou entusiasmado Gervásio que foi descendo por uma corda feito um corsário.

____Não é hora de brincadeiras!  Me ajude a puxar, o vento está mesmo forte, só espero que o mastro aguente firme!

____O Senhor acredita que virá tempestade?

____Você já devia ter aprendido!  O que acha desses ventos?  Porque assim no meio do nada?  E não demora muito.     Pegue aquele tronco ali no canto.   Traga-o para mim.  Me ajude a travar o leme.Iremos reto, sempre em frente.     Se aproveitarmos bem esses ventos podemos até escapar da tempestade.   Sem tempestade...sem tempestade....consegue me ouvir?   José Simão precisou elevar a voz que era de tufão diante do som estrondoso dos ventos sobre as velas que estavam completamente distendidas, estufadas, esticadas. 


_____Veja filho como é lindo o Saveiro com as velas abertas!  Igualzinho à foto na sua carteira, aquela que eu te dei na Cooperativa.

Veja, se não é igual!

o bujarrona vela cortador com uma bujarrona aparelho por Nicholas ...


____Porque o senhor acha que eu desci tão alegre e feliz? Lá de cima eu vi toda a belezura dessas velas, e mais ainda da Bujarrona. A gente vai voarrrrrr !

____Sem tempestade será uma maravilha porque não temos ondas grandes, quer dizer, por enquanto!

____Quer pilotar o leme ?   Manobre o suficiente para encaixarmos aquele tronco!

         D.Teresa e as filhas estavam terminando o terceiro mistério quando sentiram que o Saveiro ganhou velocidade e o porto foi ficando distante do alcance dos olhos.

____Com esses ventos, meu Pai, em quanto tempo acha que chegaremos à Ilha?

____ A velocidade é boa!   Lá do continente de cima da colina da primeira igreja podemos avistar a Ilha que dista aproximadamente uns 180 quilômetros!   Eu calculo que se o Saveiro estiver fazendo 60 km/hr chegaremos em 30(trinta minutos) ou menos.   Eu começo a pensar que foi uma benção não precisarmos ligar o motor!  Realmente uma benção!  A maré continua alta, isso é muito bom!  E é exatamente o tempo que nos resta, depois disto ela começa a baixar!

 ___Fique aqui  que eu vou descer prá ver se está tudo bem com elas! Ouviu?

____Ouvi perfeitamente, não precisa gritar! Falou sorrindo Gervásio.

____Eii...Pai!  Pegue o meu celular, depois...e tire uma fotos.  Fico igual à um capitão, né? Fala sério!

           O Pai foi se escorando até o degrau do alçapão que conduzia ao porão do Saveiro.  Chegou no finzinho da reza do terço, e fez o sinal da cruz dizendo Amém!

___Obrigado por terem rezado! Deve ter funcionado! Estamos zingrando os mares! Oh.. Oh..Capitão Gancho!   Nada de tempestade! Mas temos que chegar na Ilha antes dela. E se calculei direito levaremos uns 25 ou 30 minutos.

___Que bom! Obrigado Mãe! Falo D.Teresa apontando o dedo indicador para o céu, e recolhendo o terço com um beijo nas continhas de madre pérola!


          Sentou-se ao lado delas e as aconchegou num grande abraço.


____Querem subir para um retrato, todos juntos?   O Gervásio esta se sentindo o próprio Almirante no leme de um navio!  E esta sendo um lindo passeio.  Não há nuvens, como eu falei, por enquanto. Céu azulíssimo!   Mantenham o pensamento firme, assim como eu e Gervásio firmamos o leme em direção à Ilha dos Marrecos!     Subam para tirarmos fotos!

             Elas subiram à sua frente, quando Márcia ia subir ''seu'' José pegou suavemente a mão da filha, olhou-a e com um leve aperto da outra mão em seu ombro, falou: -

____Eu amo você! Não importa o que aconteça!  Eu amo você!

____ Eu também te amo Pai!

        ____Olhem quem está acompanhando nosso passeio!  Olhem à esquerda! Filmem! Filmem!

____Pode deixar que eu filmo! Exclamou Carlinha

            Um pequeno cardume de Golfinhos pulavam e mergulhavam continuamente '' escoltando'' o Saveiro Fortuna!

Ruque-Raque, um blogue cânico: LEVANTANDO A BUJARRONA

____Aonde você vai menina?  

Exclamou o ''seu'' José para filha que de posse de uma pequena porém poderosa máquina fotográfica, dessas que são ao mesmo tempo, filmadora, escalou o mastro inclinado de 35º da Bujarrona e do pequeno cesto, em pé, começou a filmar e fotografar quase sem cessar aquele lindo espetáculo da natureza!    

 Os golfinhos seguiam a frente bem abaixo dela e saltavam, davam piruetas, e cantavam ou melhor emitiam assobios engraçados. Dizem que é uma forma de comunicação entre as mães golfinhos e seus filhotes!

             Quando o Pai foi chamar sua atenção, já era tarde. Lá estava a peralta Carlinha quase tão alta quanto sua irmã Márcia que sem temor escalou até a extremidade do Saveiro. 

____Meu velho, escalar isso é o mesmo que ela subir nas árvores pra catar maçãs ou goiabas! Falou D.Teresa para tranquilizá-lo!







Planeta Vida: GOLFINHOS   

___Que criaturas lindas!

Um outro grupo de golfinhos um pouco mais atrás estavam interessados em Márcia! Era essa a impressão que passavam porque ela estava sentada do lado esquerdo, acenando com as mãos e pareciam corresponder.






___Eu não quero ser um estraga prazer! Os golfinhos pensam que estamos transportando peixes. Foram atraídos pelo cheiro que apesar de termos lavado o Saveiro,ainda é perceptível ao faro super apurado deles.   Tirem o máximo de fotos. Se eu tivesse alguns peixes eu até poderia oferecer a eles, mas tem que ser peixe pequeno. Infelizmente, amiguinhos, fico devendo!

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