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terça-feira, 9 de junho de 2020

Vigésimo primeiro capítulo - A Galeria de Artes de Alfred Mansfield!



                   Quase que a toda lua cheia quem olhasse,  à noite, desde a Lagoa Central em direção ao local do antigo Farol, observava a incrível silhueta da atual casa do casal João Carlos e Joana.  Era uma imagem bem semelhante ao teatro de sombras, e em preto e branco, que a luminosidade da imensa lua oferecia esse presente, somente possível de ser visto àquela distância.    A praça se movimentava e aquele evento único em toda a Ilha sempre era aguardado com ansiedade.  A lua possui muitos movimentos, mas os principais são: Translação, Rotação e Revolução. O que nos interessa é saber que ela gira ao redor da terra, e em torno de si mesma, o chamado mês lunar. A maior massa fica sempre voltada para a terra por causa da força gravitacional do nosso planeta, e consequente a outra face nunca é vista.
                                
                ''  Em um certo momento, um certo ponto da Terra estará embaixo da Lua e terá maré alta (épocas de lua Cheia, e lua Nova, quando a Lua e a Terra estão 'alinhadas'). Aproximadamente seis horas mais tarde (6h 12m), a rotação da Terra terá levado esse ponto a 90° da Lua, e ele terá maré baixa. Dali a mais seis horas e doze minutos, o mesmo ponto estará a 180° da Lua, e terá maré alta novamente. Portanto as marés acontecem duas vezes a cada 24h 48, que é a duração do dia lunar.'' (Fonte: Site Geo-Conceição, Movimentos e fases da lua)

                 Houve um morador, o senhor Alfred Mansfield, que foi dono de uma loja e galeria de artes no centro comercial da Ilha dos Marrecos. Era escritor de livros, poeta, ilustrador de seus livros e de outros autores.  Gostava de colecionar objetos de arte e igualmente de comercializar.   Havia estabelecido uma parceria comercial com as duas únicas escolas de mergulho, desde que em 1989, o naufrágio de um navio mercantil foi descoberto.  Ele, o navio, era provavelmente de origem portuguesa, o que mais tarde foi confirmado, graças a excelente biblioteca de livros de navegação que o senhor Alfred  construíra ao longo dos anos. E graças às louças, objetos de prata, bronze, ânforas de  azeite, bem como barris fechados de azeitonas, vinho, bem como perigosamente senhor Alfred dava-se ao luxo de guardar ao fundo da loja um barril de pólvora devidamente lacrado. As pessoas custavam a acreditar que fosse real. Ao que ele dizia : - ''Feliz ou infelizmente eu não posso abrir o barril. Porém, tentem erguê-lo do chão, para sentir o peso, e saberão que ele não está vazio. Está sim repleto de pólvora, e talvez em condições ainda de fazer...BUMMMMM!   Ele adora contar esta parte.

     Corria uma lenda, antiga,  de que exatamente em noites de lua cheia, pequenos objetos domésticos, como espelhos, frascos de perfumes, e às vezes roupas vinham à tona, à superfície das águas da Lagoa Central.  Para alguns era lenda, para os mergulhadores da Ilha tratava-se de um fato real.

                 O fenômeno logo foi esclarecido por um experiente instrutor de mergulho, o Daniel ''Pirata'', que recebeu esse apelido quando ele fez a descoberta do navio mercantil naufragado.  Ocorria que nada mais era que o movimento da maré alta e maré baixa.  Há uma ligação das correntes marítimas entre a Lagoa e o Mar que distava dentro de uma caverna, a sua maior distância de 20(vinte) quilômetros.  Esta caverna agora não estava mais acessível. Fora lacrada após o acidente que matou Daniel ''Pirata''. 
                     
                   A descoberta do naufrágio aconteceu por acaso, porque aquele ''afloramento'' de pequenos objetos despertou a curiosidade de Daniel e do senhor Alfred Mansfield.  Eles eram na época os moradores mais antigos da Ilha dos Marrecos.   O próprio senhor Alfred vinha de uma linhagem de navegantes holandeses. Dizia-se que o verdadeiro ''pirata'' seria ele, já que ele usava costumeiramente um monóculo.  No entanto era seu objeto de trabalho na avaliação de objetos históricos.   Trazia em sua loja alguns livros com centenas de fotos de louças do Século XVI, XVII e XVIII que lhe ajudavam a reconhecer a procedência e origem da peças. Possui uma coleção de livros extraordinária.   Um outro livro apresentava fotos de armas ou brasões das famílias europeias.  Alfred Mansfield tinha muito conhecimento sobre pinturas e obras de arte em geral.   Um homem raro neste aspecto, e vestia-se em determinadas ocasiões com roupas que faziam-no parecer um viajante do tempo.   Uma coleção de relógios antigos, e até ossos de animais históricos sob um balcão envidraçado.   Á parede um quadro emoldurado de lindas borboletas Monarcas  cuidadosamente  organizadas por tamanho e coloração!

                        Sua Galeria transformou-se em lugar turístico!   Estátuas misteriosas foram encontradas à profundidade de 30(trinta) metros na Lagoa Central.  Se ele pudesse estaria certamente com aquelas estátuas em sua loja.  O acesso à Lagoa dava-se por um atalho rochoso apenas permitido aos mergulhadores.   Alfred recebeu os primeiros artefatos encontrados na Lagoa e passou a expor na vitrine da Galeria.   Desde então ele pagava uma certa quantia pelos objetos, e as escolas lucravam com suas aulas de mergulho e com a venda deles ao Senhor Alfred.    Porém certo dia Daniel resolveu mergulhar mais fundo e mais longe, levando com ele um colega . Devidamente paramentados com seus trajes de mergulho, e um cilindro de oxigênio extra.

                     Daniel queria provar aquela teoria de que  a Lagoa realmente ligava-se ao Oceano através daquelas 8(oito) cavernas, principalmente a Caverna dos Náufragos.   A sabedoria popular supostamente profética tinha dado o nome à Caverna.  

                            No dia que mergulhou com seu colega, Daniel foi homenageado com uma faixa   com os seguintes dizeres:                                                                               Vai fundo Pirata!
                 
                Após alguns preparativos, checagem do equipamento e inclusive uma orientação do Senhor Alfred que lhe disse : -
 ___Você vai encontrar diversos objetos pequenos que a corrente marítima deve ter enterrado no fundo de areia da caverna, mas tenha cuidado. Você não sabe que surpresas pode encontrar.

____Perfeitamente, Sr. Alfred, estou ciente dos perigos, e espero não ter surpresas demais, porque com certeza irei encontrar algumas.

           Daniel empunhava uma lanterna aquática e seu colega idem.   Por ser noite de lua cheia, Daniela sabia que estaria nadando em águas mais agitadas pela maré alta, e não demorou muito para os dois enxergarem objetos enterrados.  Poderiam recolher alguns, mas apenas no retorno. Tinham a intenção de encontrar a possível ligação com o Oceano.  Mergulharam 5 metros, e foram avançando em sentido descendente. Não era um mergulho vertical.  Mergulhavam por uma caverna que formava um tipo de funil. E ai morava o perigo! Grande perigo!  A depender da força das correntes eles teriam que esticarem uma corda e fixarem onde fosse possível.   Agora, infelizmente, essa constatação veio tarde.  Por enquanto a sorte favorecia. A corrente não estava forte. Daniel fez um gesto ao amigo que o acompanhava.   Ele entendeu que se tudo ficasse perigoso, eles voltariam !

          Mergulharam mais 10 metros, sempre em sentido oblíquo.   A claridade permitia ver ao fundo que as águas apresentavam um tom mais azulado. A teoria de Daniel se confirmava. Era o tom azulado do Oceano.     Então, a Caverna tomou outra forma, alargando-se, saindo daquele formato quase sufocante de funil, e aplainou. Não era mais descendente, estava invertendo de modo suave para frente e a esquerda.     Daniel segurou o braço de Clóvis, o seu colega de trabalho. O medo, apesar da experiência, transforma qualquer colega em amigo, ainda mais naquelas profundidades com seus mistérios.

             Logo a uma curva da caverna, encostado à uma falésia  , ou fiorde, submarino, Daniel e Clóvis tomaram um grande susto.   Um galeão Português perfeitamente conservado e fincado nessa falésia, se fosse um pequeno brinquedo estaria preso por um prego à parede. Historicamente a Ilha dos Marrecos fora palco de batalha nos Séculos XVI e XVII entre navios Portugueses e Holandeses;  o Estado de Pernambuco fora invadido pelos Holandeses especificamente a Baia de Todos os Santos.    Os Portugueses recuperavam , após algumas Batalhas em que saiam vitoriosos, navios naufragados, restauravam e rebatizavam os galeões. Ali estava diante deles um desses galeões restaurados, e novamente naufragado, tragicamente.

               Esta a aparência daquele navio antigo à primeira vista.   A água do Oceano brilhava  à luz do sol que cintilava desde a superfície adentrando os contornos do nave, apenas uma metade, enquanto que o restante ''dormia'' aprisionado às rochas pontiagudas.    Uma visão aterrorizante!  Podia-se imaginar como teria sido a tragédia. De certo que ele fora totalmente envolvido por uma subida repentina da Maré.  Um descuido fatal do capitão, descuido que custou a vida de mundos.   

                 Há historicamente o relato de uma batalha que aconteceu na Baia de todos os Santos, em que dois galeões Holandeses flanquearam, ou seja, ficaram lado a lado com um Navio Português!   O Capitão não teve dúvidas, ao constatar que perderia o Navio ele ateou fogo ao paiol de pólvora explodindo seu Navio e juntos com ele os outros dois. Sim, a tripulação quase toda foi aniquilada. Parece que houve sobreviventes que ficaram para contar a história. O navio Português está lá  despedaçado ao fundo com vários canhões amontoados.







Olinda, então a urbe mais rica do Brasil Colônia, foi saqueada e destruída pelos holandeses, que escolheram o Recife como a capital da Nova Holanda. O mapa de Nicolaes Visscher mostra o cerco a Olinda e Recife em 1630.


                         
                

             Aproximaram-se com cuidado!  Estavam ainda há uma distância de 8(oito)metros quando viram um grupo de Tubarões saindo de um rombo no casco do lado direito.  Novamente Daniel segurou o braço de Clóvis assustando-se com eles.  Nunca tinha visto tantos tubarões juntos!
         
           Retrocederam ao ponto da curva da Caverna! Daniel acionou a filmadora e fez sinal com as mãos para Clóvis desligar a lanterna.  Clóvis apontou para seu cilindro e ''falou'' das bolhas de ar. Algo não estava bem com seu aparelho.    Daniel  fez mais algumas filmagens, acionando o ''zoom''!
  E pensava emocionado:  ____Que descoberta sensacional!   Um naufrágio aqui na Ilha dos Marrecos!  

               Clóvis cutucou Daniel!   ''  Vamos voltar!  Vamos voltar!  Muito perigoso!"

           Ele entendeu perfeitamente a mímica!      O retorno foi mais rápido, a corrente invertera-se impulsionando os mergulhadores em direção aquele funil inicial da Caverna, a Caverna do Naufrágio!

                   Quando subiram à tona, Daniel e Clóvis abraçaram-se emocionados, pela descoberta e por terem escapado dos tubarões!     Senhor Alfred não vai acreditar! Só assistindo a filmagem!        
____Daniel percebeu que o dia amanhecia!  A que hora iniciamos o mergulho?
____Iniciamos às 23:00 horas!   É impossível!
____Completamente impossível!  Estaríamos mortos! Nosso cilindros não tem capacidade maior que duas horas de mergulho, cara !   Olhe seu relógio!   Veja, o sol nasceu e o relógio mostra 05:30 da manhã. Bem que fiquei confuso com aquele brilho do sol na superfície!   Que loucura é essa?  Mergulhamos 5(cinco) horas ininterruptas?
       Ficaram mais atordoados com isto do que com a descoberta do Naufrágio!

           Acho melhor procurarmos um médico!  Tem que haver uma explicação!
___Um momento Clóvis, deixe-me ver seu relógio, e também quero ver seu cilindro de mergulho.

           De repente Daniel soltou uma sonora gargalhada!

____Que raios de mergulhador profissional é você que usa um relógio quebrado?  ria Daniel sacudindo o relógio diante dos olhos de Clóvis.   E o seu cilindro está desregulado, este sim é um grande erro de sua parte, meu amigo.  Você poderia ficar sem ar, felizmente nem foi necessário usar o reserva. 

_____Puxa vida, eu poderia jurar que chequei antes de entrarmos na água.  Daniel, desculpe...devo ter batido o relógio em alguma coisa. respondeu Clóvis.

____Se bateu deve ter sido antes.  Mergulhamos depois das 03:30 e quem pede desculpas, sou eu, que esqueci de pegar o meu relógio.  Ficamos empatados nessa. E gargalhava solto!  
____A conta bateu certo, nadamos exatas duas horas, uma hora para ir, e outra para voltar! Conclui Daniel. 

____Vamos falar com o senhor Alfred.  E esquecemos de pegar alguns artefatos na areia do fundo.  Fica para a próxima. Ao menos a filmagem vai causar uma grande surpresa para ele e a Ilha inteira. 



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