Sexto capítulo - Márcia sente atração por Jorge !

                   Havia algum tempo que Márcia sentia uma certa atração por Jorge, o rapaz que começou a trabalhar na farmácia do Senhor Higino, a única do vilarejo.  Ruivo, altura próxima a sua, 1,70 nem magro e nem gordo, forte, uma voz agradável e de sotaque que lembrava o sotaque gaúcho. 

                  Educado, vaidoso , trazia a barba bem aparada que também era ruiva, e Márcia não tirava o seus olhos dele. Jorge estava atendendo como sempre as pessoas mais idosas, as pessoas da fila prioritária. Márcia talvez por distração ou encantamento, suas principais características, bem que poderia ser atendida por outro funcionário ou funcionária, mas ali ficou e dali não arredava o pé. Era tão evidente sua intenção que outra fila de idosos formava-se atrás dela com duas senhoras fazendo comentários em voz baixa:

          ____ Mercedes , esta mocinha aqui na minha frente é a filha da Teresa? 

          ____ É sim, Lurdinha! Você viu que ela olha fixamente o ruivão bonitão?

          ____Ele é ruivo? Essa minha catarata me atrapalha demais, só sei que também gosto de ser atendida por ele! É cheirosoooooo!

                Nem mesmo a conversa animada das velhinhas foi capaz de tirar Márcia de sua auto hipnose, e conforme a fila andava seu coração juvenil disparava, suas pernas tremiam de um modo estranho, e o perfume dele que emanava um leve aroma de cítrico amadeirado chegava até ela despertando sua imaginação. Com as devidas comparações era razoável entender aquela fila .  O dono da farmácia deveria olhar pra ele com outros olhos, olhos de cifrões, sons de moedas tilintando na caixa! 

                   Apenas uma conversa chamou a atenção de Márcia, uma conversa seguida de um leve cutucão em seu ombro. Era sua irmã Clara um pouco ofegante.

             _____ Nossa que fila grande hein Márcia? A mãe quer saber o que tá acontecendo. Ela ligou três vezes no seu celular e você não atende. O celular tá desligado na sua bolsa? Ahhhh olha que interessante: Você entrou na fila das pessoas idosas? Qual é sua prioridade? Aquele ruivo bonitão?

Fiquei sabendo que ele folga aos Domingos e surfa de manhãzinha na ponta da praia. Acho ele um pouco vaidoso para o meu gosto!
            _____ Para o seu gosto ?! Olha como fala!  Você só tem 13 (treze) anos! 
           ______ E o que tem isso? Esqueceu que já estou usando seus vestidos? respondeu Clara

                        E se eu fosse você saia desta fila. Só dá você de novinha! 
            _____ Fique despreocupada, só tem um funcionário atendendo, se vier outro eu saio e dou passagem, viu?
           ______ Ah ra ra...parece! Du- vi- de - o -do . Melhor é pegar o  celular e você mesma responder prá mãe o que tá acontecendo. Eu é que não vou bancar a levadora de recado.  A  gente precisa de você lá em casa.
               _____ Arre, você é uma estraga prazer!  
               _____ Moça, desculpe! Seu nome é Márcia?
                           Perguntou a senhora que tinha problemas nos olhos.
               _____ Eu conheço sua mãe a D.Teresa, somos vizinhas. Se você precisa de algum remédio eu posso levar depois.
                ____ Imagine! Já está chegando a minha vez,não precisa se incomodar, não!
                         Eu fico muito agradecida, Senhora ?
                 ____Pode me chamar de Lurdinha!
                ____Tudo bem, então, muito obrigado!
                ____Esse moço do balcão é bonito, não é?  Disse a Senhora querendo puxar conversa.

                        Márcia nada boba percebeu que estava dando bandeira, e desconversou fingindo-se distraída com a irmã, mas a seguir pediu desculpas.
                ____ Perdão eu me distrai com minha irmã caçula.
                ____Clara que estava um pouco de lado e quase às costas para a senhorinha fez caretas e mostrou a língua.
                           Márcia conteve o riso e puxando a irmã pelo braço deram um passo a frente na fila.
                _____Você ficou maluca é? O que deu em você?
                _____Que velha inxerida e assanhada! respondeu Clara.
                       
                          Olha ai, chegou sua vez! Disfarça um pouco o interesse, irmã! 
                  ____Olá Bom dia!   A quem devo atender primeiro? Perguntou Jorge
                   ____ Eu !  responderam juntas
                            Jorge sorriu, e aguardou um momento.
                           Clara calou-se e abaixou a cabeça.
                    ____Senhor ! Eu preciso...
                            Foi interrompida por Jorge que afirmou:
                      ___Por favor, não sou tão velho assim. Sou Jorge a seu dispor. No que posso ajudar?

                            Márcia retirou um papelzinho do bolso, e leu o nome do remédio. Jorge pediu o papel porque Márcia não leu corretamente o nome, e foi percorrendo a prateleira organizada por ordem alfabética.
                            Clara praticamente colada na irmã falou baixinho:
                     ____Sabe de uma coisa, até que o perfume dele é gostoso. Enrola e pergunta alguma coisa!  Me dá o celular que eu ligo prá mãe. A farmácia tá mesmo cheia, olha prá trás. 
                              Márcia girou sobre os pés e viu que a fila agora chegava até a porta da farmácia, e elas estavam ao fundo do salão que distava alguns metros.
                              Jorge voltou com o remédio e quem queria demorar-se na conversa era ele porque vez em quando para controle do atendimento ele lançava um olhar para os fregueses, e seus olhos meio que cruzaram com os olhos azuis de Márcia. Reparou que Clara também tinha olhos azuis, e isto foi a deixa.
                           ____Nossa vocês duas tem olhos azuis, comentou. São irmãs?
                           ____ Sim! responderam juntas mais uma vez
                                             Até pareciam ter ensaiado.
                           Jorge divertia-se com a situação, e ao mesmo tempo preocupado em atender rapidamente. Era óbvio que a farmácia precisaria de mais um ou dois funcionários para ajudá-lo no atendimento.        
                              Ele colocou o remédio na cesta e apresentou uma lista de ofertas com desconto, tipo, perfumarias, e produtos de higiene. Agradeceu, dizendo:  O remédio é de uso contínuo, não precisa pagar.Esta na lista de medicamento popular, é remédio para pressão alta. Obrigado, pode passar no caixa e voltem sempre.
                           ____Ahhhhhhhh mas já?  suspirou Clara.
                           ____Venha! Sua danada!  Chega de brincadeiras!
                           ____Que pena, reparou só?   Ele olhou nossos olhos!
                           ____Evidente que ia reparar, né. Duas moças no balcão de olhos azuis, até eu que não sou cega, ia reparar!
                                        Sairam apressadas, e Márcia indagou :
                            ____Você ligou prá mãe ? Ligou?
                            ____ E deu tempo? Poxa !