Mais do que depressa Gérvasio teve
uma excelente ideia. Os barcos estavam estrategicamente ancorados a pouca
distância um do outro, ou melhor, em razão da quietude das águas, aquela
mansidão, permitiu que Gérvasio visse uma possibilidade extraordinária.
Retornou à superfície e logo exclamou ao Pai:
___Que maravilha meu Pai! Quer mergulhar para ver ? O cardume esta aqui,
bem debaixo dos barcos, os peixes circulam e bailam por entre os rochedos e os
corais. Isto aqui é um verdadeiro paraíso e santuário. Eu...eu...Gérvasio
chorava de felicidade! Em seu íntimo ele
vislumbrou o que iria fazer em sua vida daquele instante em diante. Aquela visão
dos corais e dos peixes mexeu profundamente com ele, ele sabia que iria pescar muito mais do que peixes em
breve.
___Pai
joga a rede, primeiro a sua rede! Joga para o lado do meu barco! Vamos formar
um círculo.
___Eu
entendi perfeitamente, Gérvasio. Sei no que está pensando, e acho que vai dar
certo.
___Claro
que vai, já é a melhor de nossas pescarias. Na próxima eu vou trazer uma
filmadora submarina, tenho planos meu Pai, dizia sorrindo abertamente. Tenho
planos!
___
E a outra rede o que faremos com ela?
___Vamos
jogar também, em forma de círculo, abrindo ela em toda a extensão, as duas
redes serão abertas desse jeito.
Gérvasio
ainda dentro da água mergulhava a cabeça para dentro da água e conseguia enxergar
a movimentação nos corais.
____Precisamos
ser rápidos! E cuidadosos com os corais, são delicados e demoram um pouco para alcançarem essa formação tão bonita, tão colorida. Aqui há muitos nutrientes! É fantástico!
Eu vi a profundidade, e terei que mergulhar com a outra rede. Espero ter fôlego para chegar lá. Tenho que nadar até um paredão externo aos corais. É como se fosse uma concha! Incrível que eu tenha conseguido ver de onde estamos. Impressionante a claridade desta águas. Deve ser por ali que se formam as ondas enormes por estes lados da Ilha dos Marrecos.
Eu vi a profundidade, e terei que mergulhar com a outra rede. Espero ter fôlego para chegar lá. Tenho que nadar até um paredão externo aos corais. É como se fosse uma concha! Incrível que eu tenha conseguido ver de onde estamos. Impressionante a claridade desta águas. Deve ser por ali que se formam as ondas enormes por estes lados da Ilha dos Marrecos.
____
Se eu ainda conseguisse mergulhar como antigamente, filho, eu iria com você.
Verdade,
seremos rápidos. Você vai estender a rede desde o paredão até seu barco, é esse
o plano?
___Sim,
uma das redes ficará boiando aqui esticada de um barco a outro e espero que a
calmaria continue para estabilizar os barcos, porque depois meu Pai iremos
precisar daquela manivela de atracação. O senhor e eu vamos usar os braços como
nunca usamos antes.
Enquanto
desço , será que o Senhor consegue estender a outra rede?
Sim,
eu consigo!
___Filho,
você quer usar um dos barcos prá levar essa outra?
___Não
sei se a sorte estará sorrindo ao nosso lado o tempo todo, meu Pai!
___Entendo!
Você está certíssimo! Vai meu Filho, vai! Que Nossa Senhora continue te protegendo!
Estarei orando e fazendo a minha parte! Ore também por seu Pai!
Gérvasio
colocou a rede sobre os ombros e nadando em direção ao costado começou a sentir
que sua tarefa não seria tão simples assim, pois a rede molhada dava sinais de
afundar ao leito do oceano. Alguma pequenas boias nas extremidades faziam-na
boiar, no entanto todo o resto ia lentamente afundando, e novamente a calmaria
evitava que a rede enrola-se em seu corpo.
Procurou
nadar o mais rápido que podia, lembrando que ainda teria que mergulhar ao fundo
do paredão de rochedos que entre cortados formavam uma xadrez naquele formato de
concha! Gervásio era um jovem muito forte. Nada muito bem e tinha um fôlego excepcional!
Ele
nadou por cerca de 10 minutos, os mais longos 10 minutos que valeriam cada
segundo de sua vida.
Olhou
para dentro da água,e constatou que já estava no local exato. E o cardume
continuava lá, numa maravilhosa ciranda de cores.
___Louvado
Seja Nosso Senhor Jesus e sua Amantíssima Mãe!
Orando
assim, Gérvasio respirou o mais profundo possível e iniciou seu mergulho.
Desta
vez ele usou do peso da rede para chegar mais depressa, e nadando em sentido
inverso à uma imaginária corrente sobre pôs a rede numa das extremidades do
paredão e trouxe-a como se fosse uma cortina até pousar em outra extremidade.
Procurou em sua cintura uma corda de nylon azul que media aproximadamente 4
(quatro) metros e passou-a igualmente de um extremo a outro. Sua ideia era
formar um arrastão submerso de pesca. Naquele ponto a altura dos corais ladeando
o paredão deveria ser de apenas um metro de altura. Isto foi uma surpresa
porque tinha a impressão de ser mais fundo, porém em direção ao corais, a
profundidade era realmente enorme.
Feito isto, Gérvasio retornou
lentamente à superfície e acenou ao Pai para que trouxesse os barcos em sua
direção.
____
Senhor Antonio remou um dos barcos que aos poucos foi aproximando-se trazendo
consigo a rede flutuante.
A
certa distância Gérvasio já consegui falar ao Pai:
____Venha
com calma ! Agora é que vem a parte mais difícil.
Consegue me ouvir?
____Sim,
consigo ouvi-lo filho. Você esta de pé? Tá parecendo Jesus sobre as águas!
___
Não Pai, depois eu explico. Respondeu sorrindo pela comparação do Pai.
Gérvasio
nadou em direção de seu barco, antes porém tocou nas mãos do Pai como que feliz
de ter conseguido realizar sua tarefa, mas estava tremendo de medo.
___Pai,
isso que eu fiz acho que jamais eu farei novamente, quero dizer, que se o fizer
o farei em melhores condições, usando um barco a motor, e é claro em condições
de clima semelhantes.
____Vamos
lá! Preparado?
____Nunca
estive tão preparado!
____Como
está o seu coração? Perguntou o filho
____Estou
bem! O que iremos fazer?
____
No seu barco imagino que tem outra corda de nylon!
____
Tenho sim, aqui esta debaixo dos remos.
____
Pai preste muita atenção na ideia maluca... Gérvasio ria sozinho, como se
estivesse ficando doido. Chegou a rir alto, assustando o Pai.
___Que
é isso filho?
Ele acalmou-se e disse: Pai eu não sou Jesus, esta bem?
___ Ahhh é isso? Kkkkkkk
___
É o seguinte, não sei se o Senhor percebeu onde estamos? É o lugar mais
perigoso para se pescar qualquer peixinho, quanto mais um cardume. Agradeça a
Deus toda esta calmaria, por Deus, que calmaria do outro mundo! Isto tem que ser estudado!
___Eu
soube desde o começo que estávamos fazendo uma loucura, mas quando vi o tamanho
do cardume eu não sei o que deu em mim, e então, vi que podia confiar em você,
porque via o brilho nos seus olhos, o mesmo brilho que vejo nos olhos de sua
mãe e suas irmãs. E pensei : Ele está preparado! Tenho que deixa-lo tomar
as rédeas, digo, as redes! Valei-me Nossa Senhora! Diria sua mãe se estivesse
aqui, agora, pescando conosco.
Então, o Senhor entende que cada um
de nós vai manobrar os barcos um pouco para fora dos costados, apenas um pouco,
porque veja a altura de onde fiquei é de apenas um metro de altura. Por isso
ficarei parecendo Jesus sobre as águas.
O cardume esta ai embaixo porém em profundidade maior com os corais. Se
o Senhor mergulhar o rosto vai entender melhor o que iremos fazer.
____Filho,
tranquilize-se, e eu também estou tranquilo. O que você deseja fazer é jogar
esta rede por cima da outra, certo.
___É...é
isso, porém vamos juntar a outra corda numa espécie de guarda chuva invertido.
E descer esta primeira rede ao fundo. Sua corda tem 4 (quatro) metros?
___Aproximadamente!
Quando
a rede chegar ao fundo a pesca vai começar! Se calculei direito dentro de cinco
minutos iremos puxar a primeira, e a segunda será a que jogaremos por cima.
Gérvasio
então pegando da corda saiu novamente do barco e sem esforço conseguiu emendar
com um laço, claro, laço de marinheiro, e puxou a rede submersa fazendo-a
descer aos corais.
____Pai
está feito! Esta outra ponta vai servir como se fosse um sinalizador. Fica
esperto, hein?
Uma expectativa tomou conta dos
dois, um silêncio profundo e respeitoso. A corda oscilou levemente, e os dois
arregalaram os olhos, arrepiaram as orelhas, e fortaleceram os braços.
____
Cadê a manivela de atracação, Pai!
___Puxa
vida, quase esqueci!
___Prende
a corda lá, agora! Com calma e gire um pouco!
Sr.
Antonio fez o que o filho pediu, e mal terminaram de girar, travando a primeira
volta, sentiram um forte tranco num dos barcos.
____Pai,
vamos fazer a manobra. Leve seu barco para fora do paredão e me conte tudo,
qualquer movimento para direita ou esquerda, certo ?
Sr.Antonio
conduziu o barco e então a corda ficou tensa, esticada como se estivesse presa
a alguma coisa.
___Gérvasio
acho que pegamos alguns!
____Gire
Pai, gire a manivela, e vai atracando a corda!
Ao fazer isso Sr.Antonio viu que o
barco adernava.
___Filho,
preciso de ajuda, olhe prá isso, meu Deus !
Gérvasio
percebeu então que estava no momento exato de lançar a outra rede, e avisou o
Pai:
____Mantenha
a atracação, Pai, mantenha assim e ancore o barco em um rochedo, qualquer
rochedo vai segurar o barco, precisamos estabilizar seu barco, entendeu?
A outra rede foi gradualmente descendo e
Gérvasio fez sinal para que o Pai voltasse a erguer a rede, quase que em
sincronismo, uma descendo e a outra subindo. Completamente cheia de peixes a
forma de guarda chuva invertido foi
fechando-se num grande bolsão que ficou aprisionado entre três ou quatro
rochedos, em forma de garfo. Gérvasio
viu maravilhado que o bolsão trouxera os peixes na exata altura daquela
extremidade de 1 metro, a mesma altura que lhe permitira ficar de pé.
A outra rede já descerá sobre os
corais, porém Gérvasio é quem começou a puxar. Ele sabia que esta rede não
deveria descer de mais. A sua intenção era pescar os peixes que não vieram na
primeira leva, e estava certo, novamente. Poderia ter pego mais peixes, porém
seus barcos não suportariam o peso. Preocupava-se Gérvasio com seu Pai, sua
idade, e saúde. Apesar de ter dito que estava bem, Sr.Antonio não tinha a mesma
mocidade e vigor que seu filho, não obstante a experiência. Sua rede não estava tão pesada quanto a
primeira, mesmo assim veio cheia, e agora Gérvasio manobrou seu barco para
junto do barco de seu pai. Os dois olhavam-se atordoados e mal acreditando que
tinham conseguido pescar tantos peixes.
Os peixes debatiam-se naquele acostado em
forma de concha a apenas um metro de suas mãos.
____
E agora vamos recolher os peixes!
Arrumaram
os caixotes em linha, e souberam que seus peixes eram do tipo agulhinha e
agulhão, peixes que há vários meses estavam ausentes das pescas da vila. Aquela
foi sem dúvida a melhor pescaria e realizada em pequenos barcos de remar.
____Pai,
vamos precisar dividir bem o peso!
Devemos ter aqui quase que 500 quilos, ou seja, meia tonelada de peixe.
Nossa !
___
Bem, comecemos pelos menores o agulhão. Curioso eles terem o nome invertido em
relação ao tamanho!
Passaram
o fim da tarde arrumando os caixotes de agulhão e agulhinha. Quando terminaram já era noite. Uma linda lua
brilhava sobre eles, e iluminava a jornada de volta. Cada barco, portanto, trazia 250 quilos.
___
Que Deus nos acompanhe! Devagar e sempre! Esta pescaria vai ficar para sempre
na minha memória!
___E
chegaremos antes do nascer do sol, bem melhor porque os outros pescadores irão
saber da nossa proeza.
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