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quarta-feira, 15 de abril de 2020

Segundo capítulo - Lançando as redes !





          Mais do que depressa Gérvasio teve uma excelente ideia. Os barcos estavam estrategicamente ancorados a pouca distância um do outro, ou melhor, em razão da quietude das águas, aquela mansidão, permitiu que Gérvasio visse uma possibilidade extraordinária. Retornou à superfície e logo exclamou ao Pai:  ___Que maravilha meu Pai! Quer mergulhar para ver ? O cardume esta aqui, bem debaixo dos barcos, os peixes circulam e bailam por entre os rochedos e os corais. Isto aqui é um verdadeiro paraíso e santuário. Eu...eu...Gérvasio chorava de felicidade!  Em seu íntimo ele vislumbrou o que iria fazer em sua vida daquele instante em diante. Aquela visão dos corais e dos peixes mexeu profundamente com ele, ele sabia  que iria pescar muito mais do que peixes em breve.

___Pai joga a rede, primeiro a sua rede! Joga para o lado do meu barco! Vamos formar um círculo.
___Eu entendi perfeitamente, Gérvasio. Sei no que está pensando, e acho que vai dar certo.
___Claro que vai, já é a melhor de nossas pescarias. Na próxima eu vou trazer uma filmadora submarina, tenho planos meu Pai, dizia sorrindo abertamente. Tenho planos!
___ E a outra rede o que faremos com ela?
___Vamos jogar também, em forma de círculo, abrindo ela em toda a extensão, as duas redes serão abertas desse jeito.
Gérvasio ainda dentro da água mergulhava a cabeça para dentro da água e conseguia enxergar a movimentação nos corais.
____Precisamos ser rápidos! E cuidadosos com os corais, são delicados e demoram um pouco para alcançarem essa formação tão bonita, tão colorida. Aqui há muitos nutrientes! É fantástico!

       Eu vi a profundidade, e terei que mergulhar com a outra rede. Espero ter fôlego para chegar lá. Tenho que nadar até um paredão externo aos corais. É como se fosse uma concha! Incrível que eu tenha conseguido ver de onde estamos. Impressionante a claridade desta águas. Deve ser por ali que se formam as ondas enormes por estes lados da Ilha dos Marrecos.
____ Se eu ainda conseguisse mergulhar como antigamente, filho, eu iria com você.
Verdade, seremos rápidos. Você vai estender a rede desde o paredão até seu barco, é esse o plano?

___Sim, uma das redes ficará boiando aqui esticada de um barco a outro e espero que a calmaria continue para estabilizar os barcos, porque depois meu Pai iremos precisar daquela manivela de atracação. O senhor e eu vamos usar os braços como nunca usamos antes.
Enquanto desço , será que o Senhor consegue estender a outra rede?
Sim, eu consigo!
___Filho, você quer usar um dos barcos prá levar essa outra?
___Não sei se a sorte estará sorrindo ao nosso lado o tempo todo, meu Pai!
___Entendo! Você está certíssimo! Vai meu Filho, vai! Que Nossa Senhora continue te protegendo! Estarei orando e fazendo a minha parte! Ore também por seu Pai!
            Gérvasio colocou a rede sobre os ombros e nadando em direção ao costado começou a sentir que sua tarefa não seria tão simples assim, pois a rede molhada dava sinais de afundar ao leito do oceano. Alguma pequenas boias nas extremidades faziam-na boiar, no entanto todo o resto ia lentamente afundando, e novamente a calmaria evitava que a rede enrola-se em seu corpo.
Procurou nadar o mais rápido que podia, lembrando que ainda teria que mergulhar ao fundo do paredão de rochedos que entre cortados formavam uma xadrez naquele formato de concha!  Gervásio era um jovem muito forte. Nada muito bem e tinha um fôlego excepcional!
Ele nadou por cerca de 10 minutos, os mais longos 10 minutos que valeriam cada segundo de sua vida.
Olhou para dentro da água,e constatou que já estava no local exato. E o cardume continuava lá, numa maravilhosa ciranda de cores.
___Louvado Seja Nosso Senhor Jesus e sua Amantíssima Mãe!
Orando assim, Gérvasio respirou o mais profundo possível e iniciou seu mergulho.
Desta vez ele usou do peso da rede para chegar mais depressa, e nadando em sentido inverso à uma imaginária corrente sobre pôs a rede numa das extremidades do paredão e trouxe-a como se fosse uma cortina até pousar em outra extremidade. Procurou em sua cintura uma corda de nylon azul que media aproximadamente 4 (quatro) metros e passou-a igualmente de um extremo a outro. Sua ideia era formar um arrastão submerso de pesca. Naquele ponto a altura dos corais ladeando o paredão deveria ser de apenas um metro de altura. Isto foi uma surpresa porque tinha a impressão de ser mais fundo, porém em direção ao corais, a profundidade era realmente enorme.
             Feito isto, Gérvasio retornou lentamente à superfície e acenou ao Pai para que trouxesse os barcos em sua direção.
____ Senhor Antonio remou um dos barcos que aos poucos foi aproximando-se trazendo consigo a rede flutuante.
A certa distância Gérvasio já consegui falar ao Pai:
____Venha com calma !  Agora é que vem a parte  mais difícil.  Consegue me ouvir?
____Sim, consigo ouvi-lo filho. Você esta de pé? Tá parecendo Jesus sobre as águas!
___ Não Pai, depois eu explico. Respondeu sorrindo pela comparação do Pai.
Gérvasio nadou em direção de seu barco, antes porém tocou nas mãos do Pai como que feliz de ter conseguido realizar sua tarefa, mas estava tremendo de medo.
___Pai, isso que eu fiz acho que jamais eu farei novamente, quero dizer, que se o fizer o farei em melhores condições, usando um barco a motor, e é claro em condições de clima semelhantes.  
____Vamos lá!   Preparado?
____Nunca estive tão preparado!
____Como está o seu coração? Perguntou o filho
____Estou bem! O que iremos fazer?
____ No seu barco imagino que tem outra corda de nylon!
____ Tenho sim, aqui esta debaixo dos remos.
____ Pai preste muita atenção na ideia maluca... Gérvasio ria sozinho, como se estivesse ficando doido. Chegou a rir alto, assustando o Pai.
___Que é isso filho?
      Ele acalmou-se e disse:  Pai eu não sou Jesus, esta bem?
      ___ Ahhh é isso? Kkkkkkk
___ É o seguinte, não sei se o Senhor percebeu onde estamos? É o lugar mais perigoso para se pescar qualquer peixinho, quanto mais um cardume. Agradeça a Deus toda esta calmaria, por Deus, que calmaria do outro mundo! Isto tem que ser estudado!

___Eu soube desde o começo que estávamos fazendo uma loucura, mas quando vi o tamanho do cardume eu não sei o que deu em mim, e então, vi que podia confiar em você, porque via o brilho nos seus olhos, o mesmo brilho que vejo nos olhos de sua mãe e suas irmãs.  E pensei :  Ele está preparado! Tenho que deixa-lo tomar as rédeas, digo, as redes! Valei-me Nossa Senhora! Diria sua mãe se estivesse aqui, agora, pescando conosco.
           Então, o Senhor entende que cada um de nós vai manobrar os barcos um pouco para fora dos costados, apenas um pouco, porque veja a altura de onde fiquei é de apenas um metro de altura. Por isso ficarei parecendo Jesus sobre as águas.  O cardume esta ai embaixo porém em profundidade maior com os corais. Se o Senhor mergulhar o rosto vai entender melhor o que iremos fazer. 
____Filho, tranquilize-se, e eu também estou tranquilo. O que você deseja fazer é jogar esta rede por cima da outra, certo.
___É...é isso, porém vamos juntar a outra corda numa espécie de guarda chuva invertido. E descer esta primeira rede ao fundo. Sua corda tem 4 (quatro) metros?
___Aproximadamente!
Quando a rede chegar ao fundo a pesca vai começar! Se calculei direito dentro de cinco minutos iremos puxar a primeira, e a segunda será a que jogaremos por cima.
Gérvasio então pegando da corda saiu novamente do barco e sem esforço conseguiu emendar com um laço, claro, laço de marinheiro, e puxou a rede submersa fazendo-a descer aos corais.
____Pai está feito! Esta outra ponta vai servir como se fosse um sinalizador. Fica esperto, hein?
            Uma expectativa tomou conta dos dois, um silêncio profundo e respeitoso. A corda oscilou levemente, e os dois arregalaram os olhos, arrepiaram as orelhas, e fortaleceram os braços.  
____ Cadê a manivela de atracação, Pai!
___Puxa vida, quase esqueci! 
___Prende a corda lá, agora! Com calma e gire um pouco!
Sr. Antonio fez o que o filho pediu, e mal terminaram de girar, travando a primeira volta, sentiram um forte tranco num dos barcos.
____Pai, vamos fazer a manobra. Leve seu barco para fora do paredão e me conte tudo, qualquer movimento para direita ou esquerda, certo ?
Sr.Antonio conduziu o barco e então a corda ficou tensa, esticada como se estivesse presa a alguma coisa.
___Gérvasio acho que pegamos alguns!
____Gire Pai, gire a manivela, e vai atracando a corda!
          Ao fazer isso Sr.Antonio viu que o barco adernava.  
___Filho, preciso de ajuda, olhe prá isso, meu Deus !
Gérvasio percebeu então que estava no momento exato de lançar a outra rede, e avisou o Pai:
____Mantenha a atracação, Pai, mantenha assim e ancore o barco em um rochedo, qualquer rochedo vai segurar o barco, precisamos estabilizar seu barco, entendeu?
       A outra rede foi gradualmente descendo e Gérvasio fez sinal para que o Pai voltasse a erguer a rede, quase que em sincronismo, uma descendo e a outra subindo. Completamente cheia de peixes a forma de guarda  chuva invertido foi fechando-se num grande bolsão que ficou aprisionado entre três ou quatro rochedos, em forma de garfo.  Gérvasio viu maravilhado que o bolsão trouxera os peixes na exata altura daquela extremidade de 1 metro, a mesma altura que lhe permitira ficar de pé.
             A outra rede já descerá sobre os corais, porém Gérvasio é quem começou a puxar. Ele sabia que esta rede não deveria descer de mais. A sua intenção era pescar os peixes que não vieram na primeira leva, e estava certo, novamente. Poderia ter pego mais peixes, porém seus barcos não suportariam o peso. Preocupava-se Gérvasio com seu Pai, sua idade, e saúde. Apesar de ter dito que estava bem, Sr.Antonio não tinha a mesma mocidade e vigor que seu filho, não obstante a experiência.   Sua rede não estava tão pesada quanto a primeira, mesmo assim veio cheia, e agora Gérvasio manobrou seu barco para junto do barco de seu pai. Os dois olhavam-se atordoados e mal acreditando que tinham conseguido pescar tantos peixes. 
            Os peixes debatiam-se naquele acostado em forma de concha a apenas um metro de suas mãos.  
____ E agora vamos recolher os peixes!   
Arrumaram os caixotes em linha, e souberam que seus peixes eram do tipo agulhinha e agulhão, peixes que há vários meses estavam ausentes das pescas da vila. Aquela foi sem dúvida a melhor pescaria e realizada em pequenos barcos de remar.
____Pai, vamos precisar dividir bem o peso!  Devemos ter aqui quase que 500 quilos, ou seja, meia tonelada de peixe. Nossa !
___ Bem, comecemos pelos menores o agulhão. Curioso eles terem o nome invertido em relação ao tamanho!  
Passaram o fim da tarde arrumando os caixotes de agulhão e agulhinha.  Quando terminaram já era noite. Uma linda lua brilhava sobre eles, e iluminava a jornada de volta.  Cada barco, portanto, trazia 250 quilos. 
___ Que Deus nos acompanhe! Devagar e sempre! Esta pescaria vai ficar para sempre na minha memória!
___E chegaremos antes do nascer do sol, bem melhor porque os outros pescadores irão saber da nossa proeza.

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