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domingo, 19 de abril de 2020

Quinto capítulo - O sobrinho do Padre Álvaro!

         
              Semelhante à muitas cidades do interior se caminharmos até a Igreja e olharmos em ângulo de 360º graus veremos a Delegacia na esquina, a sede da Prefeitura do outro lado da rua, ao lado a Quitanda do ‘’Seu’’ Jonas, à esquerda o armarinho de D.Joana e seu Pedro, à direita a casa antiga da  senhora Henriqueta, sempre irrequieta debruçada na janela ‘’cuidando’’ da vida alheia, a agência dos Correios na outra esquina de frente para o Hotel Flor de Lis que é o principal e único hotel da cidade, o restante são pensões ou pequenas pousadas, entre elas a Pousada da Vila que serve no cardápio a moqueca da D.Teresa. 
              A pousada pertence ao casal Matozinhos, entre a Barbearia do Afonso e o Banco Comercial da Lavoura onde alguns moradores depositam suas economias, e depois pegam dinheiro emprestado com juros a perder de vista. 
               A farmácia do seu Higino , bem tradicional,  é tão velha quanto a Igreja que em breve iria comemorar 110( cento e dez) anos de sua fundação.  Senhor Higino  já contava com 89 (oitenta e nove) anos, casado com D.Ana de Castro uma espanhola. Não tiveram filhos, ela trabalhou com ele na farmácia e os dois planejavam encerrar suas atividades, porém o Padre Álvaro muito amigo deles conseguiu convencê-los a esperarem um pouco. Padre Álvaro , argentino, morando desde a juventude no Brasil, celebrou seus votos de sacramento do sacerdócio no Rio de Janeiro. Foi transferido para aquela cidade a fim de assumir sua primeira igreja e nunca mais saiu. 
                 Durante um confessionário sr. Higino confidenciou a ele que queria parar e até vender a farmácia. Padre Álvaro imediatamente lembrou-se de um sobrinho que era farmacêutico e desta forma assegurou um emprego ao jovem , ao menos temporariamente. Senhor Higino aceitou porém disse ao Padre que manteria a farmácia funcionando por mais dois anos no máximo. Ele estava muito cansado.
                   ___Jorge meu querido sobrinho, como vai você! Tenho uma oferta de emprego aqui na minha cidade. Estaria interessado?
                    ____ Ora, ora, quem é vivo aparece! Quanto tempo que não conversamos, hein?! Tenho recebido notícias graças à tia Julia, sua irmã que mora aqui em Porto Alegre.
                     ____Sim, Julia e eu conversamos bastante, e foi ela quem me falou de sua recente formatura! Então, agora temos um Farmacêutico na família, parabéns sobrinho!
                     _____Obrigado tio! Muito trabalho na sua paróquia?
                    ______Um pouco! De modo geral é uma cidade, que ainda chamam de vila, muito tranquila. É litorânea, pacata, a maioria dos habitantes trabalham para uma cooperativa de pesca. Mas, quero saber de você.  Quer trabalhar aqui e ficar mais perto deste velho tio? Eu ficaria muito feliz, no entanto, fique à vontade para pensar.
                      _____Serei sincero meu tio! Aceito de imediato! Aqui o mercado está saturado de farmácias, quando eu comecei meus estudos não chegava a tanto.
                          _____ Ótimo! Farei uma reserva no Hotel que fica encostado à Farmácia. Depois você acerta, quanto à isto fique despreocupado.  Também vou ligar ao proprietário para avisar de sua chegada.  Quando acha que pode vir para cá?
                        ______Estou morando de aluguel, então, é só fazer as malas e comprar a passagem. Mande um mapinha pelo aplicativo. Irei de trem, está bem?
                          ______Era disto que ia combinar com você! Venha mesmo de trem, as notícias nesta vila correm muito depressa, e não sou eu quem conta, você sabe, sou Padre e tenho os segredos do confessionário, mas D.Henriqueta, meu Deus !
                        _____ Quem é D.Henriqueta?
                       Padre Álvaro soltou uma sonora gargalhada ao celular.
                       _____Não faltará oportunidade de conhecê-la!
                      _____ Acredito que em três dias eu estarei viajando. É o tempo que preciso, inclusive para me despedir de tia Julia!
                       _____Combinado Jorge! Você nem faz ideia da minha alegria, eu pessoalmente faço questão de recebê-lo na rodoviária. Será muito bem vindo, e quanto ao salário, senhor Higino é um bom patrão, a farmácia é a única da cidade. Ele vai lhe pagar bem, e fiz boas recomendações a seu respeito.
                        ______Agradeço mais uma vez meu tio! Fique com Deus!
                       ______Ele está no meio de nós! Amém!
                       Ao término da conversa um aviso de alerta no celular de Jorge informava que o Padre  acabará de enviar um mapa detalhado da cidade mostrando onde ficava a Igreja, e a estação de trem onde deveria descer.  O mapa detalhava igualmente os respectivos horários de partida e chegada à estação. 
                       Passaram-se três dias, nesse intervalo,o Padre deixou tudo preparado para a chegada de seu sobrinho. Fez isto da forma o mais discreta possível.  Embora a cidade fosse pacata, os seu habitantes gostavam de ouvir novidades a respeito de qualquer coisa. Se um lenço  caísse ao chão já era um acontecimento. A vida não era monótona, pelo contrário. No entanto, ainda a chamavam de vila. Seus habitantes eram a segunda geração, e uma terceira estava formando-se. Uma cidade litorânea vivendo basicamente da pesca. Carecia de outros recursos. Todos os alimentos chegavam ou de trem ou por barcos de outras cidades vizinhas, ao longo da costa e proximidade da Ilha dos Marrecos. 
                       Com ao menos uns três braços de  rios de água doce percorrendo manguezais que se ziguezagueavam  até chegar ao mar.  A topografia muito linda com riqueza de flora e fauna , clima tropical, e águas minerais de mananciais que  abasteciam a cidade.  No centro em frente à Igreja as pessoas bebiam água diretamente de uma fonte ! Diziam que as águas tinham propriedades curativas. Verdade ou não, a população tinha baixo índice de mortalidade!
                     Outras vilas menores interligavam-se através dos manguezais, fonte rica de alimentação para diversas espécies de peixes e crustáceos, além de aves belíssimas de plumagem branca e avermelhada.  Grupos de observadores de pássaros começaram a frequentar as vilas nos últimos 10(dez) anos, então, por enquanto a cidade conseguia resistir e manter seu aspecto de cidadezinha do interior! A maior riqueza da vila era exatamente o ecoturismo que em alta temporada enchia as pousadas.
                                 A movimentação na estação de trem era tranquila naquela manhã de sábado. Por volta do meio-dia com sol forte batendo em sua cabeça, o Padre segurava um pequeno guarda chuva  escuro sentado no banco, o velho banco da estação. Lembrou-se de quando chegou a primeira vez e da mesma forma alguém viera recebê-lo. Naquele tempo havia somente a Igreja, por sinal, ainda em construção, faltando apenas o campanário e a chegada de um grande sino. Recordava-se que ele foi o primeiro Padre a celebrar a primeira missa. Tudo seria a primeira vez. Esperava-se ansiosamente que o grande sino de bronze chega-se a tempo e de ser instalado no campanário que certamente já teria sido construído.
                                 Um som de máquina sobre os trilhos, um som que veio aos poucos ecoando pela serra coberta pela névoa, um som que ia e vinha, às vezes mais forte e ritmado, outras mais fraco quase que parando, e após recomeçando, num ir e vir constante. Parecia um ser gigantesco que fungava fogo e fumaça pelo nariz. Uma máquina que rasgava o silêncio antes rompido pelo cantar dos pássaros, e o seu cheiro não era o cheiro das flores e dos eucaliptos, ou o cheiro de jasmim. Era o cheiro de óleo e carvão queimado. Lá vinha o trem da Maria-Fumaça , nome dado popularmente ao trem da Companhia Inglesa que trazia passageiros de outras capitais do sul do País.
                          Padre Álvaro levantou-se e caminhou até o provável ponto de desembarque dos passageiros acompanhando o bilheteiro que saltou do trem.  Seria aquele o lugar certo para esperar.

                             O bilheteiro saltou com o trem ainda em movimento, quase parando, e fumegando aquela densa fumaça branca da chaminé , bem próxima da cabine do maquinista. Os primeiros passageiros realmente , assim que o trem parou por absoluto, saltaram os três últimos degraus que separavam os comboios da plataforma.  Um a um foram observados  pelo Padre que segurando uma pequena tabuleta com o nome Jorge aproximou-se daquela plataforma.

                        Após alguns breves minutos eis que surge o jovem Jorge que abrindo um grande sorriso quase esqueceu-se de ser contido, e se não fosse o Padre estender sua mão e puxá-lo, certamente, gritaria seu nome.   Abraçaram-se com emoção.  Jorge estava vestindo um capote bege, e usava um chapéu ao estilo Clark Gable. Padre Álvaro comentou:  Fez boa viagem? Agora me responda. Você é ator de cinema? Eu não chamaria sua chegada de ''discreta''! Disse sorrindo.  Pode retirar seu capote. Logo estará muito quente, é fácil iludir-se com a névoa da serra. Com o trem em movimento no alto da serra deve ter sentido frio. Agora são outros quinhentos!
                                        
                         


            

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