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sexta-feira, 22 de maio de 2020

Décimo segundo capítulo - A lenda de Nossa Senhora na Colina!



                             
                      O Prefeito Bastos saiu do grande sobrado visivelmente irritado, nervoso, amedrontado, perturbado, enfim com todos os significados possíveis e imaginados para descrever o que sentia.
                 Há alguns anos ele demonstrava uma preocupação , embora fiel naquela relação de influência com o chamado submundo e seus tentáculos de dominação política com requintes de violência em cenários de jogos de interesses escusos.  Ele também não era flor que se cheirasse, talvez na linguagem vulgar ele estava ficando de coração mole, ou entediado.  Na verdade ele não engolia , ou seja, já tinha engolido muito sapo em ter que dar satisfação pessoalmente e ainda ser chamado de ''cagão'' por um sujeito mesquinho e arrogante que se dava ao luxo de usar roupas ''árabes'' ocultando seu rosto em luzes indiretas.   Porque ele teria que caminhar , não mais livremente, pelas ruas ou estradas, agora que sabia que seus passos eram vigiados sabe-se lá por quem ou o quê !   

                        O que ele poderia fazer para sair daquela situação?  Sentia uma grande admiração pelos ideais apresentados por Gervásio naquela reunião da Cooperativa.  Um jovem inteligente cheio de entusiasmo. Ele recordava-se que na idade dele tinha esses mesmos ideais, e enveredou pelo caminho do serviço comunitário, mas aliou-se a líderes comunitários que tinham muito mais o interesse em ampliar seus pequenos negócios do que propriamente ajudar a população em resolver questões imediatas, de transporte, educação, e saúde.   Eram poucos esses chamados líderes comunitários, geralmente eles eram donos de fazendas situadas em pontos estratégicos, cobrando pedágios em barreiras, portões no meio de estradas que cruzavam suas propriedades.   Durante a época das chuvas que iam de dezembro à maio só é possível seguir de barco pois vários trechos ficam alagados, mesmo assim o pedágio continua sendo cobrado o que gera muitos protestos dos moradores.  

                        A amizade de Bastos com esses Senhores era fruto da infância que ele viveu ali mesmo naquelas regiões, bem próximas de rios afluentes do Grande Mangue.  A história das vilas não tinha muitos registros de suas fundações, algumas de origem indígena que ficavam nas orlas, portanto, mais próximas do mar. Uma ressaca, a mais forte já acontecida, destruiu a maior parte da vila dos antigos pescadores. Posteriormente construiram-se casas não tão perto do mar.  Outras casas eram para os trabalhadores daquelas fazendas de agricultura mista, isto é, milho, arroz, feijão, mandioca, cenoura, abobrinha, chuchu , batata, verduras ou legumes em geral. Havia plantações rasteiras de amendoim , a semelhança da melancia, o morango, ou ainda muitos pés de manga,  a jaca, laranja, limão, maracujá, abacaxi, mamão.

                  A terra era muito rica de nutrientes que as cheias dos rios traziam às suas margens, nutrientes que eram trazidas durante o ano nas correntes do Atlântico que também banhava a Ilha dos Marrecos. Bastos recordou que nas próprias margens lamacentas ele pescou caranguejos e pequenos peixes que alimentavam-se dos nutrientes depositados, portanto, as terras costeiras ou terrestres ficavam constantemente adubadas.

                   Porém ele recordou-se infelizmente da mordida que levou de uma cobra que rastejou , e nem poderia ser de outra forma, até abocanhar seu calcanhar.  De posse de um facão que trazia na cintura ele cortou sua cabeça.  Molhou a faca no rio e fez ali mesmo uma sangria imediata para drenar um pouco do veneno.   Graças ao seu Pai ele foi socorrido, levado até o Posto de Saúde mais próximo e tomou o soro anti ofídico.  Nunca mais pescou descalço!
  
            Sua memória aos poucos trouxe-lhe lembranças profundas que avançaram à sua adolescência, a lembrança de um quase namoro com uma jovem moradora da vila de pescadores do Mangue.                
           Acontecia uma festa em homenagem á Nossa Senhora dos Navegantes. Bastos tinha 19(dezenove) anos e às vezes pegava seu barco a motor para levar verduras, frutas e legumes ao Padre Álvaro que revezava-se na celebração de missas , tanto para os moradores da cidade, quanto para os moradores do Mangue.

                         Nesse dia ele continuou fazendo a mesma coisa, e depois de conversar com o Padre, ouviu dele o seguinte convite:

_____Bastos, meu bom rapaz!  Porque não fica para assistir a missa de hoje, é muito bonita e especial. Você vai gostar.  Começa daqui há pouco. E dura apenas 1(uma) hora.  Eu faço uma pequena preleção, e iniciamos. 

____Hummm está bem Padre Álvaro!  Aqui fora os preparativos da Festa ficaram bem adiantados, hein?
____Ahhh sim, certamente.  Eu supervisiono tudo. Desdobro-me ao máximo. Preciso, na verdade, de um ajudante que saiba fazer pequenos consertos elétricos, conhece alguém?

____Esta falando com ele !  Disse Bastos com um largo sorriso no rosto.  
        Mas nem sempre eu venho aqui. Como eu poderia ajudá-lo?

____Que bom, que bom!  Desta vez como acabei de dizer eu necessito de alguém para pequenos consertos.  Sabe consertar motor de barco?  Ou fazer instalação elétrica?

____Bem, Padre!  Motor de lancha ou de barco eu posso fazer alguma coisa, mas tem que ser lá na minha propriedade e do meu velho Pai.   E a parte elétrica é por aqui mesmo?

____Então!  Eu gostaria de estender a iluminação dos festejos até o alto do campanário, onde está o sino das horas , entende?

____Caramba, Padre! É uma altura considerável, mas tenho uma solução.  Até o lugar do campanário deve haver uma escada em espiral, estou certo disto?

____Sim, há uma escada interna.Confirmou o Padre.

____Farei um longo varal de lâmpadas, e lá de cima eu irei descendo e esticamos o restante até o outros ponto, e assim por diante, o que acha?

____Perfeito Jovem, está contratado!

____Contratado? Nada disso, Padre. É um prazer poder ajudar. Aqui a gente nem sempre tem oportunidades de diversão.

____Tudo bem!   Fico imensamente feliz por sua generosidade. Fica para a missa?

____Fico sim, e em seguida ajudarei com as lâmpadas. Tem comércio aberto hoje?

____ Se você precisa de lâmpadas, não precisa, tenho muitas armazenadas no próprio campanário. E fiação idem.

           Se me dá licença Bastos, fique à vontade, visite as barracas, conheça nossos outros colaboradores . Gente generosa como você é !   Agora vou me preparar para a missa, quando for a hora, ouvira o sino badalar.

_____Obrigado Padre Álvaro, obrigado !

                        Retornando às suas lembranças de infância Bastos crescera brincando com os filhos daqueles senhores, filhos que mais tarde por serem herdeiros permaneciam naquele pátrio poder de explorar além do pedágio, exploravam na venda de seus produtos.  Bastos era filho do vizinho de um proprietário de terras formado por uma linda colina.  Uma estrada levava ao lugar mais alto da colina, e lá um belo farol tinha sido construído por navegantes portugueses junto a uma pequena ermida. Dentro dela um altar singelo dedicado à Nossa Senhora.    Algumas lendas sobre essa imagem ou sobre os navegantes costumavam ser contadas de geração em geração.

                          A lenda que Bastos mais conhecia contava sobre uma caravela Portuguesa que em noite de forte tempestade foi lançada de encontro aos recifes e corais que margeavam a Ilha dos Marrecos.    Dizem que do alto da colina surgiu uma linda senhora que acendeu uma fogueira. A luz desta fogueira orientou o capitão da caravela que usando de toda a força de seus braços girou o timão, e aos gritos falou para a tripulação.  Rezem, rezem à Nossa Senhora. Olhem a luz daquela colina!
                     Ergam todas as velas!  

                            Foi então que a tripulação olhando a luz viram que se tratava de uma grande fogueira, e viram sobre ela uma fumaça em forma de Nossa Senhora mãe de Jesus.  Renovados em sua fé e energia , sob a liderança do capitão, conseguiram desviar a embarcação do encontro certo com a morte.  Rumaram em direção aquela luz, ancoraram após adentrarem um braço de rio um afluente que desaguava no mar.   A passagem só foi possível a um determinado trecho. Dali em diante atracaram e foram de barcos até o local da possível fogueira.  Ainda chovia e a trilha fechada dificultava a subida. Resolveram retornar, sempre observando que a fogueira permanecia acesa, iluminando como um Farol.
                            ____Senhor! Meu Capitão!  É semelhante a um Farol !
                            ____Sim, marujo ! Vamos descansar. Graças daremos à Nossa Senhora. à Nossa Senhora destes navegantes ! Ao amanhecer retornaremos !  E lá na colina rezaremos um rosário em agradecimento.
                               Os Navegantes retornaram mais cedo no dia seguinte, e o tempo estava mais tranquilo, sol forte. Conseguiram escalar a colina. Quando chegaram realmente encontraram uma enorme clareira com uma cruz encravada ao centro, voltada para o mar na direção exata de onde eles estiveram na noite tempestuosa.
                                   Ajoelharam-se e rezaram o terço.   O capitão resolveu construir uma ermida , colocou num pequeno altar a única imagem de Nossa Senhora que havia em seu escritório a bordo da Caravela.         Esta era a sua história e lenda preferida sobre Nossa Senhora dos Navegantes!

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